Leo Maia concede entrevista ao Estadão Alagoas e fala sobre carreira e o legado de seu pai, Tim Maia

 

Márcio Leonardo Gomes Maia, o Léo Maia de 40 anos, realizou show pelo Projeto Encontros, idealizado pela Eventur´s, no Teatro Deodoro em Maceió, neste sábado (29). Em seu show “Tributo a Tim Maia”, Leo contou com a participação de diversos artistas alagoanos.

Leo tem como padrinho Jorge Ben Jor e seu pai biológico não é Tim Maia, mas sim um goleiro chamado Jorge Vitório.

No show, Léo, conta que seu pai de criação, jogou todos os seus brinquedos fora por determinação da seita Universo em Desencanto.

Léo aprendeu, então, a se divertir com os instrumentos musicais da casa. Começou sua atividade artística nos anos 1990. Lançou o primeiro disco, “Cavalo de Jorge”, em 2005 e desde então não parou mais.

O Estadão Alagoas foi conversar com Léo sobre seu pai e o legado dele.

Leo falou também sobre sua carreira e o filme sobre a vida do seu pai.  “Vi o filme do meu pai… Nossa, ruim… Contei 18 coisas que não fazem parte com a realidade. O cúmulo é minha avó branca e meu avô negão. Meu pai não merecia algo tão tendencioso”

Confira na íntegra:

 

Qual a imagem que você vai levar do povo de Alagoas?

Estou apaixonado por Maceió, visto que estou aqui desde quinta-feira. Tenho uma relação de amor com esta terra. Fui tratado com carinho e o maior amor. Teatro é uma belezura, uma coisa maravilhosa, a energia das pessoas aqui é muito suave. As pessoas aqui são muito educadas. Adorei tocar num teatro onde passaram tantas estrelas como Ney Matogrosso, Jorge Ben. Me senti abençoado por estar num palco que passaram essas nobrezas todas. Estou muito feliz.

Como deu início a sua carreira?

Comecei com 7 anos de idade, como roadie na banda Vitória Régia, na banda do meu pai. Sou um trabalhador de música, meu primeiro cachê foi aos 14 anos de idade. Dos 7 aos 14 anos meu trabalho foi de escravo, meu pai me botava pra ralar só pra não fazer bagunça. Nunca parei. Eu cantei com a orquestra Tabajara, cantei na noite do Rio de Janeiro. Fiz o vestibular do músico de verdade. Eu entrei pela porta de serviço mesmo. Minha primeira demo fiz com Roberto Menescal no show do Jorge Vercilo quando ele tocava na noite do Rio para ganhar uma oportunidade.

Você não acha que é muita responsabilidade ser comparado ao seu pai?

Eu sou um canário, meu pai é um gênio. Acho que comparação não existe. As canções do meu pai, me alimentaram, me vestiram, pagaram a minha educação, me deram a possibilidade de me tornar um homem. Tenho um trabalho autoral de respeito, seis cd´s, sendo que cinco canções fizeram parte da trilha das novelas, A gente está fazendo um show agora intitulado “Os filhos dos caras”, que sou eu, Luciana Melo, Jair Oliveira, Max de Castro de Simoninha, que a gente interpreta canções dos nossos pais, mostrando de onde a gente vem, e cada um a seu modo canta seu repertório muito respeitado. Podemos dizer que fazemos parte da nova geração da MPB.

Em relação ao filme sobre seu pai, qual a sua opinião?

Não foi do documentário da Globo que eu não gostei, mas achei de verdade o filme ruim. O diretor [Mauro Lima] deixou minha avó branca no filme, sendo que ela é descendente de índia! Meu avô é descendente de português, não negão. São detalhes que uma pessoa que trabalha com cinema deveria saber que são erros, fora a desorganização cronológica.

Você acha que a Globo distorceu o filme ou isso foi obra de Roberto Carlos, tentando preservar sua biografia?

O Roberto Carlos na verdade é muito amigo do meu pai, desde a infância. Quem sou eu para me meter numa briga dessas? O único cara que pode falar sobre as brigas dos dois é o Erasmo Carlos. Acredito que tudo o que o Roberto falou é verdadeiro. Havia respeito entre eles mas também um clima de disputa. Isso acontecia porque eles eram foda musicalmente mesmo. E o Roberto Carlos está vivo e deve ser questionado sobre isso.

Como assim?

Acho que meu pai merece que o jornalismo brasileiro passe uma régua nesta história de brigas com o Roberto que ninguém sabe a verdade definitiva. Chegou a hora de vocês, jornalistas brasileiros, irem atrás das verdades do Tim Maia. Vamos mostrar o quanto o cinema brasileiro perdeu com essa caracterização mal-feita sobre meu pai.

As pessoas não tiveram nem a capacidade de pesquisar as etnias corretas da minha família, porque eles mereciam ser representados por suas cores de pele verdadeiras. As etnias europeias não representam a história do meu pai. Meu pai se apaixonou por uma mulher tipicamente brasileira, que é totalmente diferente do que está ali nas telas [interpretada pela Alinne Moraes].

Será que isso é algum tipo de xenofobia? As pessoas querem tornar a história do meu pai mais “europeia”? Esse filme foi uma perda para o cinema brasileiro. Merecia um texto mais bonito, um roteiro e uma imagem melhores. Meu pai era um poeta, bicho, e falava do mar. Miles Davis, por exemplo, era um artista deste calibre.

Como era o Tim Maia que você conheceu?

Meu pai não era depressivo e nem tinha o olhar de morte daquele personagem do filme. Ele tocava violão e criava músicas geniais pela manhã, num clima bem tranquilo. Meu pai, pra quem conhece, era muito amoroso. Cuidava de 80 crianças e ficava rindo das coisas. Ele fez besteira e foi maluco? Foi. Mas não era só o cara dos antidepressivos. Não conheço ninguém que tenha chamado meu pai de gordo e de filho da puta. Isso tá lá no filme. Ninguém na vida teria a coragem de dizer isso… Ele foi com dois cachorros de verdade numa gravadora porque eles mexeram nos volumes das guitarras, cara!

Tim Maia não levava desaforo pra casa. O diretor do filme levou a liberdade poética ao extremo e não se ateve aos fatos. Tá tudo errado no filme, tá errado do começo ao fim. Tá mal interpretado e não procuraram as pessoas para saber a verdade de todos os fatos. Só alguns amigos do meu pai foram para a versão da TV Globo e defenderam meu pai. A edição deu uma melhorada no desastre que é o filme.

Essas coisas me revoltaram como filho e fica essa molecada vendo isso sem saber a verdade. Os autores fizeram uma pseudopesquisa sobre ele e não retrataram nada sobre a genialidade que existia ali. Tim Maia, por exemplo, tirava o instrumento de quem não sabia tocar e só estava enrolando. E mandava um papo reto. Ele era assim.

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