Governo potencializa importância de quilombolas para a cultura de AL
Alagoas é conhecido nacionalmente pela história de matriz africana estabelecida, sobretudo, pelo nascimento do seu principal líder, Zumbi dos Palmares. A partir de agora, o Governo de Alagoas participa efetivamente do Conselho Gestor do Parque Quilombo dos Palmares e assim pode contribuir diretamente na preservação de um dos ícones da luta democrática brasileira.
Para fortalecer esse sentimento que pertence aos alagoanos – desde sempre -, além de resgatar o respeito mútuo entre os povos quilombolas, ocorrerá entre os dias 14 e 16 de agosto, o I Encontro de Comunidades Quilombolas e Povos Tradicionais de Terreiros, organizado pela Fundação Cultural Palmares, Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e diversos parceiros.
A assessora técnica da Secult, Cláudia Puentes, explica que a principal liderança religiosa de matriz africana de Alagoas, Mãe Neide Oyá d’Oxum, e demais povos tradicionais de terreiros há algum tempo vêm trabalhando na cidade de União dos Palmares (Quilombo Serra da Barriga) para que o diálogo entre os povos quilombolas, poder público e representantes religiosos ocorra.
“Nós compramos a ideia desse encontro, somos muito atentos à questão social. Antes acontecia de forma isolada. Agora, pela primeira vez, queremos integrá-los. A previsão é que 250 pessoas, entre quilombolas, estudiosos do assunto, organizadores, representantes das três esferas governamentais, além de lideranças comunitárias, participem,” diz Puentes.
Os municípios com maior representatividade no encontro são dos Quilombos de Santa Luzia do Norte, Viçosa, Taquarana, Traipu, Arapiraca e diversas comunidades quilombolas de União dos Palmares. O encontro será no espaço do Muquém, considerado o segundo quilombo mais estruturado e juntamente com o da Serra da Barriga, o mais conhecido da região.
“No Muquém, temos um ambiente ecumênico, um espaço de convivência, onde ocorrerão as palestras e rodas de conversa. E somente no terceiro dia promoveremos uma subida à Serra da Barriga,” explica a assessora técnica da Cultura estadual.
Atualmente existem 67 comunidades quilombolas certificadas. As outras precisam passar por uma série de pesquisas e avaliações antropológicas, que constatem a origem quilombola. Os dados são captados por técnicos da Fundação Palmares.
De acordo com o coordenador estadual das comunidades quilombolas de Alagoas, Manoel Oliveira, o ‘Bié’, o propósito do encontro é promover um diálogo e resgatar a união. “Posso dizer que esse vai ser o ‘Encontro da Esperança’. Porque, pela primeira vez, vamos unir tantos representantes em torno do nosso povo [a comunidade quilombola]. Espero, com muita fé, ter êxito na resolução de divergências entre nossa gente”, explica ele.
Um compromisso de Governo
A coordenadora local da Fundação Cultural Palmares, Élida Miranda, ressalta, com satisfação, a participação efetiva do governo estadual no Comitê Gestor dos Palmares.
“Considero um fato relevante, porque, agora, existe o compromisso do governo em participar efetivamente do comitê gestor do Parque Quilombo dos Palmares. Antes, o governo tinha assento, mas nunca com presença real. Agora a superintendente da Secult, Perolina Lira, toma conhecimento das demandas e nos sentimos ouvidos”, justificou a coordenadora da Fundação Palmares.
Um exemplo é a construção de uma estrada que liga o Centro de União dos Palmares, até a Serra da Barriga. Segundo Élida Miranda, o recurso na ordem de R$ 2 milhões já está garantido pelo governo federal, porém, os governos municipal e estadual devem entrar com a contrapartida.
O Estado vem compreendendo também que os povos quilombolas são um patrimônio imaterial. “A preservação de saberes e a sabedoria dos povos de matriz africana fazem parte da nossa cultura”, explica a representante da Fundação Palmares.
É a primeira vez que os segmentos religiosos, quilombola e afrocultural se encontram em torno de um espaço para discursão. Porque antes era apenas em novembro (por causa do Dia da Consciência Negra – dia 20 de novembro). “Não é a nossa missão combater o racismo apenas em novembro. Queremos fazer um diálogo permanente,” completa Cláudia Puentes.
Outros envolvidos compraram a ideia e são parceiros na iniciativa, como a Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh), a Universidade Feceral de Alagoas (Ufal); Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), além de diversos conselhos, que dialogam com o tema.
Mesa quilombola
É um espaço institucional de diálogo adequado para atender às demandas de efetivação das políticas públicas da comunidade quilombola. Ela foi criada há pouco mais de um ano. A partir de então, realiza-se a interlocução com os órgãos que são responsáveis pela aplicação daquelas solicitações, por meio de encaminhamentos práticos e objetivos. Os integrantes se reúnem conforme surjam demandas.
Agência Alagoas