Idosa morre a três dias da colação e é enterrada com beca e diploma

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Uma insuficiência cardíaca impediu que a dona de casa Marinha Novais, de 69 anos, realizasse o sonho de receber o diploma de enfermagem. Mãe de 6 filhos e avó de 22 netos, Marinha morreu três dias antes da colação de grau. Vinda de família simples, ela dizia que só iria fazer faculdade depois que todos os filhos se formassem. Para homenageá-la, a família decidiu enterrar a idosa vestida de beca e com o canudo de graduação em mãos.

No final de junho deste ano, Marinha concluiu o tão sonhado curso. Ela também já havia feito curso técnico e aguardava nomeação na Secretaria de Saúde. Cardiopata, a idosa foi internada em um hospital no Distrito Federal a um mês da cerimônia de entrega do diploma. Depois de passar por uma cirurgia para colocar um marca-passo no coração, Marinha não resistiu e morreu em 20 de julho.

A professora de estágio supervisionado Alynne Vicentina, de 24 anos, afirmou que Marinha era uma das alunas mais dedicadas da turma. “Todo mundo ficou surpreso por uma senhora mais velha estar fazendo enfermagem. Perguntei a ela se ela pretendia exercer a profissão e ela disse que não, mas que era o sonho dela. Ela era uma aluna superdedicada. Todo mundo gostava dela, ela pegava as coisas facilmente e fechou o histórico só com notas altas acima de 9.”

Adalgisa da Silva, de 49 anos, conta que mesmo internada a mãe checava o histórico escolar e ajustava os últimos detalhes para a colação. Marinha chegou a pedir que a irmã fosse até a faculdade tirar as medidas da beca para ela e também mandava mensagens para a neta buscar os convites da festa.

“No hospital ela falava o tempo todo da colação. Ela dizia que quando colocasse a mão no canudo com o diploma seria uma alegria, um sonho realizado. Ela esperou muito por isso, não desistiu nunca, ela estava o tempo inteiro interagindo com a turma para as providências da colação. Até preocupada com o cabelo branco ela ficou. O entusiasmo e a vontade de vestir uma beca eram muito grandes.”

A cerimônia foi na última quinta-feira (23). A filha caçula, que também é enfermeira, foi a responsável por receber o diploma em nome da mãe. Foi dela a ideia de enterrar Marinha vestida de becaA vestimenta foi confeccionada por um dos 14 irmãos da idosa.

 “A difícil missão foi minha de receber o diploma por ela. O meu pai achou que não dava conta e pediu que eu fizesse isso, até por causa do próprio curso. Todos concordaram e deram apoio na homenagem. O meu elo com ela era muito forte. Os 31 dias em que ela esteve no hospital eu a acompanhei de perto”, contou Adriana Martins, de 40 anos. “Quando vi que ela estava muito grave, pedi que minha tia fizesse a beca com as medidas que já tinha da minha mãe e contei ao meu pai a ideia.”

Marinha e Miguelzinho Novais foram casados por 53 anos. Aposentado da Polícia Civil, o idoso de 73 anos afirmou que os dois saíram de Minas Gerais para a capital federal em 1965 e tiveram um início de vida juntos muito sofrido.

“Nem lugar para morar a gente tinha. Comecei essa batalha de muito trabalho vendendo banana na rua, depois passei a vender bolo em obras, a comprar galinha no interior e vender nas feiras e ela cuidava dos nossos filhos. Fiz o concurso para a polícia, não tinha o segundo grau completo, mas estudei muito. Fui privilegiado por Deus e consegui passar”, disse.

“Foi uma tarefa muito sofrida porque ela cuidava das crianças e eu trabalhava para cuidar. A minha preocupação era não criar meus filhos na situação em que chegamos em Brasília. Acompanhávamos passo a passo das crianças e hoje temos seis filhos muito bem estabelecidos, com situação financeira boa. Hoje me sinto um vencedor e faria tudo de novo se fosse preciso. Construí essa família com muita felicidade e muita união. A nossa convivência foi com muito amor, muito carinho, a gente não discutia.”

Rosa Bresolin, de 65 anos, conheceu Marinha na costura da pastoral de uma igreja da capital. Logo que se conheceram, as duas viraram amigas. “Ela era um poço de alegria, era uma pessoa que costurava com muito capricho, assídua, não falhava. Ela sempre chegava cedo porque tinha que sair antes para fazer o lanche do Miguelzinho. Ela casou com 16 anos e era um amor por aquele marido”, falou.

“Ela ajudava também na parte do brechó do Hospital de Base, era uma pessoa muito querida. Ela dizia que eu era exemplo de vida para ela, mas eu que tirava o chapéu para ela, com todos os problemas, ela sempre alegre e nunca reclamava de nada, sempre feliz com a vida.”

Fonte: G1

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