Polícia diz que vai pedir reconstituição de morte da mãe de Bernardo
A Polícia Civil vai ouvir mais testemunhas e pedir uma reprodução simulada dos fatos antes de concluir o inquérito que apura as circunstâncias da morte de Odilaine Uglione, mãe do menino Bernardo Boldrini, assassinado aos 11 anos em abril do ano passado. Ela foi encontrada morta em fevereiro de 2010 na clínica do então marido, o médico Leandro Boldrini, com um tiro de arma de fogo. Ele deve ser ouvido nas próximas semanas.
Na época, a polícia concluiu que Odilaine cometeu suicídio, mas perícias particulares feitas a pedido da família levantaram a suspeita de que ela possa ter sido assassinada. O inquérito, que foi reaberto a pedido do Ministério Público, foi prorrogado por 30 dias na semana passada.
O caso foi reaberto após a morte de Bernardo Boldrini chocar o país. Em abril de 2014, o corpo do menino de 11 anos foi encontrado enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen, a cerca de 80 quilômetros de Três Passos, no Noroeste do estado, onde ele residia com a família. Leandro é réu no processo. Ele e outros três acusados de participar da morte da criança estão presos e aguardam julgamento por crimes como homicídio qualificado e ocultação de cadáver, entre outros.
O delegado Marcelo Mendes Lech, responsável pelo caso, disse que a reconstituição do caso será pedida após outras diligências serem tomadas. Ainda não há previsão de como a simulação será feita nem informações sobre quem será chamado para participar.
“A reprodução simulada dos fatos será pedida em um momento futuro. Já foram feitas várias diligências, mas faltam outras. Estamos fazendo todo o esforço para conseguir fazer tudo nos próximos 30 dias. Mas se não for possível, a conclusão do inquérito pode ser novamente prorrogada”, afirma o delegado ao G1.
Lech crê que seria especulação dizer como será a reconstituição da morte de Odilaine, já que depende de o pedido ser aceito e também de um trabalho de perícia. Antes da simulação, ele deve ouvir o pai de Bernardo, Leandro Boldrini, e outras testemunhas residentes em Três Passos.
“Existe o entendimento de que o Leandro vai ser ouvido, como outras pessoas que ainda não foram ouvidas. Entretanto, não tem previsão nem data precisa para isso ocorrer”, declara Lech.
Odilaine Uglione morreu em fevereiro de 2010, aos 30 anos. Além do suposto suicídio, ela teria deixado uma carta de despedida. Uma das perícias solicitadas por Lech tem como objetivo apontar se a carta foi realmente redigida pela mãe da criança.
O inquérito foi reaberto no dia 21 de maio. Na época da morte, a Polícia Civil concluiu que Odilaine se matou, com base no depoimento de testemunhas e nos laudos da perícia oficial. Entretanto, perícias particulares feitas a pedido da família no último ano levantaram a suspeita de que ela possa ter sido assassinada. “Estou em busca da verdade. Busco elucidar o que efetivamente aconteceu naquela situação”, disse o delegado.
Desde abril do ano passado, a avó de Bernardo e mãe de Odilaine, Jussara Uglione, de 74 anos, tentava a reabertura do caso, para provar sua tese de que o suicídio da filha teria sido forjado. Ela acredita que o ex-genro teria cometido o homicídio.
A delegada Caroline Virgínia Bamberg foi a responsável pela investigação do caso sobre a morte de Odilaine há cinco anos. Ela também foi encarregada de apurar a morte do menino Bernardo, em abril do ano passado, e indiciou os quatro réus que estão presos pelo crime.
O pai de Bernardo é réu pela morte do filho. Também são acusados a madrasta do garoto, Graciele Ugulini, e os irmãos Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz. Os quatro respondem por homicídio qualificado e ocultação de cadáver, entre outros crimes.
Nova versão
O MP pediu a reabertura do inquérito à Justiça e justificou que os laudos particulares, confeccionados a pedido de Jussara Uglione, mãe da vítima, trazem novos fatos, imputando à secretária do consultório a confecção de uma carta suicida e colocando, inclusive, uma terceira pessoa dentro da sala de atendimento em que ocorreu o fato, onde, em tese, estariam apenas Leandro Boldrini e Odilaine Uglione.
Com o pedido de reabertura do inquérito, o MP encaminhou requisição de diversas diligências à polícia, em especial realização de perícia grafodocumentoscópica (quando se examina a grafia de um documento para avaliar autenticidade ou falsidade) na carta suicida, reprodução simulada dos fatos, depoimento de pessoas que estavam no consultório na data e horário do fato e que compareceram ao local depois e complementação de perícia já realizada, entre outras diligências.
Perito diz que letras são diferentes
A suposta carta suicida teria sido escrita em 9 de fevereiro de 2010. Conforme o advogado Marlon Taborda, que representa a mãe de Odilaine, perícia particulares contratadas por ele analisaram e compararam a grafia do texto.
Segundo peritos, a suposta carta suicida da enfermeira teria sido forjada, escrita por outra pessoa,como mostrou a reportagem do Fantástico. Ricardo Caires dos Santos, perito judicial em São Paulo há oito anos, fez um “exame grafotécnico” e comparou a letra e a assinatura com papéis que são comprovadamente escritos pela mãe de Bernardo.
“Não foi a dona Odilaine que escreveu. São dois punhos totalmente diferentes. Pessoas diferentes que assinaram”, afirmou o perito.
A assinatura que aparece na carta de suicídio também é diferente de assinaturas autênticas de Odilaine registradas em um contrato de locação, no diploma de auxiliar de enfermagem dela e em outro contrato de prestação de serviços.
Relembre o caso
– Bernardo Boldrini foi visto vivo pela última vez no dia 4 de abril de 2014 por um policial rodoviário. No início da tarde, Graciele foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. A mulher trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
– Um vídeo divulgado em maio do ano passado mostra os últimos momentos de Bernardo. Ele aparece deixando a caminhonete da madrasta, Graciele Ugulini, e saindo com ela e com a assistente social Edelvânia Wirganovicz. Horas depois, as duas retornam sem Bernardo para o mesmo local.
– O corpo de Bernardo foi encontrado no dia 14 de abril de 2014, enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen.
– Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem do sedativo midazolan. Graciele e Edelvânia teriam dado o remédio que causou a morte do garoto e depois teriam recebido a ajuda de Evandro para enterrar o corpo. A denúncia do Ministério Público apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita. A defesa do pai nega.
– Em vídeo divulgado pela defesa de Edelvânia, ela muda sua versão sobre o crime. Nas imagens, ela aparece ao lado do advogado e diz que a criança morreu por causa do excesso de medicamentos dados pela madrasta. Na época em que ocorreram as prisões, Edelvânia havia dito à polícia que a morte se deu por uma injeção letal e que, em seguida, ela e a amiga Graciele jogaram soda cáustica sobre o corpo. A mulher ainda diz que o irmão, Evandro, é inocente.
Fonte: G1