Médicos gêmeos ‘cobaias’ comparam efeito de porre com consumo social de álcool
Há pesquisas que dizem que tomar um pouco de vinho por dia faz até bem para saúde. Outras afirmam que fazer uma pausa de 48 horas após uma bebedeira ajuda seu corpo a se recuperar. E há quem acredite que beber só aos fins de semana não faz mal a ninguém.
Diante de tantas informações desencontradas, os irmão gêmeos Chris e Alexander Van Rulleken, que são médicos, resolveram tirar essa história a limpo e fazer um experimento científico para descobrir o que é pior para a saúde: tomar um porre uma vez por semana ou beber socialmente todo dia?
Os dois tomavam a mesma quantidade de bebida por semana, mas com uma diferença.
Todos os sábados durante um mês, Chris tinha como companhia muitos copos – e garrafas – de vodca, vinho e cerveja. Já Alexander passou o mês bebendo socialmente, um pouco por dia.
s dois ficaram um mês sem beber uma gota de álcool, para começarem de igual para igual. Em seguida, foram submetidos a uma bateria de testes médicos, a começar com um exame de fígado.
“Enquanto em esperava o resultado, fiquei apreensivo, lembrando de todos os litros de cerveja e vinho que eu já havia tomado na vida”, afirmou Chris.
“Mas, surpreendentemente, depois de um mês de abstinência total de álcool, meu fígado e o do meu irmão estavam em ótimo estado. Passamos no teste com louvor. Mas estão começou a bebedeira…”
Bebendo non-stop
Chris conta que ficou feliz com sua “missão” de tomar uma taça grande de vinho (250 ml), todas as noites. Isso equivale a 3 unidades por dia, ou 21 por semana. “Confesso que, no saldo final, isso é menos do que eu bebo normalmente. Mas a diferença é que nunca havia bebido tão frequentemente, sem nenhum dia de folga.”
Alexander também não reclamou, já que achava que a bebedeira de sábado (incluindo as 21 unidades de bebida de uma só vez) teria como consequência apenas uma ressaca no domingo, mas que ele ficaria bem no restante da semana.
No primeiro sábado, ele optou por tomar vodca, acreditando que seria mais rápido tomar 21 doses do destilado do que de outra bebida.
Os dois já haviam feito uma experiência semelhante, para medir os efeitos da açúcar e da gordura no saúde.
Empolgação inicial
Durante esses 30 dias, ambos foram monitorados de perto, com testes que iam de simples bafômetros a exames detalhados sobre toxinas na corrente sanguínea.
A experiência dos gêmeos – e a conclusão a que se chegou – foi transformada em uma edição especial do programa da BBC Horizon, com o título Is binge drinking really that bad? (Bebedeiras fazem mesmo tão mal?), que foi ao ar nesta quarta-feira.
Antes de começar o teste, Alexander disse que estava empolgado, porque, em última instância, estava sendo pago para ficar bêbado. “Mas foi horrível”, disse.
Chris também relatou sua frustração. “Eu admito que consumir álcool pode ser algo envolvente. Mas não dessa vez.”
“Até um certo ponto, eu estava me divertindo ao ver o Alexander ficar cada vez mais incoerente. Mas quando eu comecei a pensar no que o álcool estava fazendo com o cérebro, o fígado e o coração dele, não foi nada engraçado”, conta Chris.
“Eu tive de fazer o papel do irmão responsável e até colocá-lo para dormir, porque ele ficou imprestável.” Alexander contou que não se lembra de nada nas últimas duas horas da bebedeira e que ficou feliz que a equipe de filmagem só chegou em sua casa no fim da manhã seguinte.
Risco de morte
Os exames mostraram que Alexander, apesar de ter se recuperado rápido da ressada, realmente ficou em uma situação arriscada durante a bebedeira.
O nível de álcool em seu sangue era alto o suficiente para, de acordo com pesquisadores, colocá-lo em risco de morte.
Já Chris disse que a princípio se irritou um pouco quando sua taça esvaziava e ele ainda queria beber um pouco mais de vinho.
“Mas percebi que eu comecei a não render tanto no trabalho”, conta o médico, que é infectologista, dizendo que passou então a espalhar suas três unidades de bebida no decorrer do dia.
‘Ficamos chocados’
Após um mês, os irmãos contam que ambos ficaram chocados com os resultados de seus exames. Aliás, até mesmo os hepatologistas que os acompanharam ficaram surpresos.
Eles já sabiam que as bebedeiras de Alexander iam prejudicar sua saúde, mas não esperavam que seus efeitos no corpo perdurassem por tantos dias, o que significava que ele nunca se recuperava totalmente entre um sábado e outro.
“Mas até mais surpreendente do que isso foram os meus resultados, que foram quase tão ruins quando os de Alexander. Ficamos chocados”, conta Chris.
“Mas e agora? Noites com ou sem bebedeiras? Bem, nós aprendemos duas coisas após essa experiência.”
“A primeira é que as recomendações atuais (veja o box acima) de três ou quatro unidades por dia não me fizeram nada bem”, disse o médico, dizendo que acha ótimo que o governo britânico esteja atualmente revisando essas sugestões e deve anunciar novos parâmetros em poucos meses.
“A segunda lição é que nossos fígados podem voltar à forma atual, mas precisam de muito mais tempo para se recuperarem. Isso ficou tão claro que os médicos que conduziram nossos testes agora vão fazer um estudo clínico aprofundado sobre isso.”
BBC