Centenas de quenianos se reúnem para cobrar unidade e segurança
Centenas de quenianos se reuniram nesta terça-feira para denunciar a incompetência das autoridades e fazer um apelo em favor da unidade, no terceiro dia de luto nacional, declarado após o massacre de 2 de abril na Universidade de Garissa (leste).
Nesta terça-feira, um sexto suspeito de participação no crime foi interrogado pela polícia, que detém atualmente cinco quenianos e um tanzaniano, acusados de ajudar o comando que realizou o ataque, reivindicado pelos islamitas shebabs somalis. A Justiça estendeu por 30 dias a prisão preventiva dos seis homens.
Em Garissa, palco do massacre que fez 148 mortos – 142 estudantes e seis membros das forças de segurança – cerca de meio milhão de pessoas, muçulmanas e cristãs, denunciaram o ataque “injustificável e inaceitável”.
“O Islã assimila a matança de inocentes ao assassinato de toda a humanidade”, é “o maior dos pecados aos olhos de Deus”, lembrou o presidente do Conselho Supremo dos Muçulmanos do Quênia (Supkem), Abdullahi Salat, em nome dos líderes das várias religiões desta região predominantemente muçulmana.
“Os assassinos (…) não podem ser considerados como fiéis do Islã”, acrescentou, chamando a população local a ajudar as autoridades em sua busca por “terroristas” e as organizações muçulmanas a identificar as escolas corânicas que espalham influências radicais.
Em Nairóbi, cerca de 200 estudantes, alguns vestidos de preto, protestaram contra a incapacidade do governo de proteger a população, gritando às pessoas “Vocês não estão em segurança!”.
Uma petição pedindo melhores equipamentos para as forças de segurança e a criação de centros de vigilância, com policiais em alerta 24 horas por fia, foi entregue a um representante da presidência queniana.
“Se isso não for suficiente para acabar com o shebab, pelo menos limitará o número de vítimas”, considerou Mcnab Bwonde, secretário-geral da Associação de Estudantes da Universidade Técnica do Quênia (TUK).
A imprensa queniana acusa as autoridades de ignorar os avisos de advertência e critica o tempo levado pelas unidades de intervenção para chegar em Garissa.
“O governo tinha informações (…) e não foi capaz de responder de forma adequada”, explica Stephen Mwadime, secretário-geral da Associação de Estudantes da Universidade Kenyatta de Nairóbi.
Ele defendeu “uma revisão completa do aparato de segurança” e o retorno das tropas quenianas mobilizadas na Somália para “proteger o país”.
Stephen Mwadime também pediu uma indenização de cerca de 20.000 euros para as famílias das vítimas do massacre. No trajeto, alguns alunos entoavam orações, com velas e flores na mão, em memória às vítimas. Uma vigília está programada para esta terça à noite em Nairóbi. Novo banho de sangue’
Aqueles que morreram “deveriam construir o Quênia de amanhã e o governo não fez nada”, disse Maureen Mucheri, de 21 anos, uma estudante de engenharia civil da TUK. “Os centros comerciais ou igrejas podem ser atacados a qualquer momento e agora até mesmo as escolas são alvo”.
A Universidade de Garissa, fechada até nova ordem, está vazia, mas o sangue seco se estende por longas trilhas, deixando imaginar a agonia lenta dos estudantes feridos, rastejando para tentar escapar de seus algozes.
O arame farpado que contorna o campus também testemunha a fuga desesperada dos estudantes, com pedaços de carne, cabelo e roupas presos no metal.
As autoridades quenianas oferecem uma recompensa de cerca de 200.000 euros para a captura daquele que teria planejado o ataque, Mohamed Mohamud, “Kuno”, ex-professor queniano de uma escola corânica de Garissa, que juntou-se há vários anos aos islamitas shebabs.
O exército queniano entrou na Somália em outubro de 2011 para combater os shebab, que multiplicaram seus ataques mortais no Quênia em retaliação.
Mais de 400 pessoas foram mortas no Quênia desde meados de 2013, em ataques reivindicados pelos shebabs. Eles ameaçaram o Quênia com uma “longa e terrível guerra” e um novo “banho de sangue”.