Violência e falhas eletrônicas marcam eleições na Nigéria
Depois de forçar o adiamento das eleições na Nigéria em seis semanas, o grupo extremista Boko Haram voltou a espalhar violência e terror na nova tentativa de jornada eleitoral realizada neste sábado no país. Com atentados atribuídos ao grupo em ao menos duas seções eleitorais, militantes intimidaram eleitores e reforçaram o desafio ao governo nigeriano, liderado pelo candidato à reeleição Goodluck Jonathan. Ao menos 39 pessoas foram mortas em incidentes ligados ao Boko Haram, principalmente no Nordeste do país, apesar do forte aparato de segurança na primeira disputa eleitoral genuína desde o fim do regime militar, em 1999.
— Os agressores gritavam: ‘Não avisamos que era para ficar longe das eleições?’ — contou um responsável local da Comissão Eleitoral.
O pleito é visto como a primeira eleição em que um candidato de oposição tem chances de desbancar o governista, mas os temores de que o processo fosse também estopim para mais violência se tornaram realidade. Enquanto candidatos buscavam sua oportunidade nas urnas, nas ruas, militantes do Boko Haram travavam uma campanha sangrenta na busca por estabelecer um califado islâmico na nação mais populosa da África.
Em Borno, no Nordeste, testemunhas afirmam que os jihadistas mataram 25 pessoas na cidade de Miringa e atearam fogo em várias casas. Na sexta-feira, um ataque similar ocorreu em Buratai, onde o mesmo número de pessoas morreu, e metade das casas de uma vila foram incendiadas.
O grupo matou ontem ao menos três eleitores no estado de Yobe e três no estado de Gombe, ambos no Nordeste nigeriano. Pelo menos oito pessoas, incluindo um parlamentar de oposição da Assembleia para Dukku em Gombe, também foram mortas por um atirador não identificado. Na cidade petroleira de Port Harcourt, no Sul, um soldado nigeriano foi morto em uma emboscada. No total, ao menos 14 pessoas morreram em vários ataques menores .
Quase 70 milhões de eleitores foram convocados para as eleições presidenciais e legislativas, de um total de 173 milhões de habitantes. Quatorze candidatos participam da corrida presidencial. E outros 2.537 candidatos de 28 partidos disputam 469 cadeiras do Parlamento.
— Esperamos tanto para que Deus nos deixasse ver este dia — disse um eleitor, Hassan Yesuza Ziga, de 35 años, em Maraba, região central do país.
Khamis Amir, deslocado pelos ataques do Boko Haram, caminhou 11 quilômetros do lago Chade a Maiduguri, a grande metrópole do Nordeste do país, região mais cobiçada pelos extremistas.
VOTAÇÃO ADIATA ATÉ DOMINGO
Falhas no novo sistema de voto eletrônico se somaram à lista de problemas, e o processo teve de ser suspenso em várias seções eleitorais. Em muitos locais, a biometria não funcionou, o que provocou atrasos na jornada e obrigou a Comissão Eleitoral Independente a estender o prazo de votação até hoje em alguns locais.
O próprio presidente, Goodluck Jonathan, teve de recorrer ao tradicional voto manual depois de não conseguir completar o processo de voto eletrônico em sua cidade natal, Otuoke, no Sul do país.
Seu maior rival teve mais sorte, ao menos até agora: o ex-general Muhammadu Buhari votou sem contratempos em Daura, no estado de Katsina, embalado pela decoração de vassouras de palha nas ruas — o símbolo de mudança do Congresso Progressista (APC).
Buhari governou a Nigéria na metade dos anos 1980 à frente de uma coalizão militar. Agora, autodefinido como “um convertido à democracia”, promete combater a corrupção e a violência com firmeza. Para muitos eleitores, é o candidato linha-dura no combate aos extremistas.
A bandeira de ofensiva ao Boko Haram pode ser decisiva na corrida presidencial. Embora o Exército nigeriano mantenha um combate ostensivo contra o grupo nos últimos meses, e na última sexta-feira tenha recuperado territórios dos extremistas, é pouco provável que as vitórias recentes apaguem da memória dos eleitores a falta de ação do presidente em meio ao avanço extremista.
Desde 2009, os conflitos com os o Boko Haram causaram mais de 13 mil mortes na região e forçaram o deslocamento de estimadas 1,5 milhão de pessoas, muitas delas mulheres e crianças.
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