Em estudo internacional, Brasil avalia casais gays em que um tem HIV
Um estudo internacional do qual o Brasil faz parte está avaliando como se dá a transmissão de HIV em casais formados por homens gays sorodiscordantes, ou seja, em que um tem HIV e o outro não. A pesquisa, financiada pela Fundação para a Pesquisa da Aids (amfAR), é especialmente importante no Brasil na medida em que a epidemia no país é concentrada em populações-chave, entre elas a de homens que fazem sexo com homens.
Resultados preliminares da pesquisa, apresentados esta semana na Conferência de Retrovírus e Infecções Oportunistas, em Seattle, nos Estados Unidos, mostram que em pacientes em tratamento e com carga viral considerada indetectável (aqueles que têm no sangue menos de 200 cópias do vírus por ml), o risco de transmissão do vírus para o parceiro, mesmo em caso de sexo anal sem camisinha, pode variar de zero a apenas 4,2% ao ano.
“Este é um resultado empolgante e fornece mais evidências para adicionar às de estudos anteriores de que a transmissão de HIV, quando a carga viral de alguém é indetectável, é bastante improvável”, diz o texto divulgado pelos pesquisadores no evento.
Opostos se atraem
A pesquisa, chamada “Os Opostos se Atraem”, é liderada pelo Instituto Kirby, da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália. No Brasil, o estudo está sendo conduzido pelo Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec). Dos 234 casais recrutados até dezembro, 135 são da Austrália, 52 são de Bangkok e 47 do Rio de Janeiro.
Segundo a pesquisadora Beatriz Grinsztejn, diretora do Laboratório de Pesquisa Clínica DST/Aids do Ipec, que lidera o estudo no país, voluntários ainda estão sendo recrutados. O objetivo é que até 70 casais brasileiros participem do estudo.
Além de verificar como se dá a transmissão de HIV nesses casais, a pesquisa pretende avaliar como os homens lidam com a situação da carga viral indetectável em relação ao uso do preservativo (se eles abrem mão ou mantém o uso da camisinha nessa situação), segundo Beatriz. E também analisar se a presença de outras doenças sexualmente transmissíveis impacta na transmissão do HIV.
Durante o período de um ano no qual os casais participantes foram acompanhados, nenhum soronegativo contraiu HIV de seu parceiro soropositivo. Entre os soropositivos, 84% estava tomando antirretrovirais e 83% tinham carga viral indetectável. 58% dos casais relataram fazer sexo anal sem camisinha às vezes ou sempre.
Os pesquisadores destacam que os resultados ainda são preliminares e que a recomendação é que o preservativo seja usado em todas as relações sexuais.
Em casais heterossexuais
Um estudo anterior, feito em casais heterossexuais sorodiscordantes, mostrou que quando o parceiro soropositivo está tomando antirretrovirais, o risco de transmitir HIV para o parceiro soronegativo é reduzido em 96%.
Segundo Beatriz, avaliar essa relação em casais de homens gays “é extremamente importante porque a transmissão através da mucosa anal é muito mais eficiente do que transmissão pela mucosa vaginal”. Por isso havia o temor de que o impacto do tratamento na transmissão da doença fosse diferente entre os homossexuais.
A pesquisadora destaca que este é o primeiro projeto de pesquisa financiado pela amfAR no Brasil. Para o presidente-executivo e diretor da amfAR, Kevin Robert Frost, os resultados do estudo podem levar a ações de combate à doença mais eficazes no Brasil.
“A epidemia de Aids no Brasil está desproporcionalmente concentrada entre homens gays e outros homens que fazem sexo com homens, e a redução da propagação e do impacto do HIV nessa população chave exigirá que programemos intervenções que são verdadeiramente eficazes”, diz Frost.
Casais gays sorodiscordantes que vivam no Rio de Janeiro e que tenham interesse em se informar sobre como participar do estudo podem ligar grátis para 9090 (21) 2260-6700.
Fonte: G1