Religiosos de matriz africana fazem oferendas à Iemanjá na orla de Maceió
Desde o início da manhã desta segunda-feira (8) a orla de Pajuçara, em Maceió, é palco de homenagens à Iemanjá. Os cultos oferecidos à Rainha do Mar, pelos grupos ligados às religiões de matriz de africana, que seguem até o final da tarde já viraram tradição na capital alagoana.
Caravanas de grupos religiosos chegaram de diversas partes do estado para celebrar a data religiosa na orla de Maceió. Este foi o caso de Maria Umbelino da Conceição Santos, 63, que mora na cidade de Atalaia. Ela, que há 23 anos é mãe de santo no Centro Afro Santa Bárbara, veio em uma caravana com 23 pessoas e trouxe oferendas que têm um significado especial. “Eu sempre trago meus filhos. Nosso centro está aqui para agradecer por tudo de bom que Iemanjá nos dá. Trouxemos flores, perfumes, sabonetes, comida, tudo para representar nosso amor por ela”, falou.
Nos rituais, alguns grupos religiosos celebram outros orixás além de Iemanjá, como é o caso dos integrantes do Centro Afro São João Batista, liderado pelo pai de santo José Edson dos Santos, 43. “Em nossas oferendas estamos prestando reverência à Iemanjá, representada pelos elementos de cor azul, e à Oxum, representada pelos elementos de cor amarela. Tudo está colocado junto em um só cesto que será levado ao mar”, disse.
Para o umbandista, que chegou na Orla de Pajuçara às 08h, com um grupo de 20 integrantes vindos do município de Viçosa, falta respeito e apoio da população e do governo estadual e municipal às manifestações das religiões de matriz africana. “Nós não temos apoio de ninguém. Para virmos de nossa cidade até a capital tivemos de fretar um ônibus com nossos próprios recursos financeiros. O governo nunca nos ajudou. Infelizmente, até a população é preconceituosa. Muitos não nos respeitam. Eu gostaria que isso acabasse”, contou.
O pai de santo Jailson Cavalvante, 33, viajou 156 Km, de Angelim, no estado de Pernambuco, até a capital alagoana. Com um grupo de 22 integrantes, do Centro Espírita Ilê Axé de Iemanjá, o pai Jailson de Oxalá realizou ritual e prestou várias oferendas aos orixás, como Iemanjá, Ogum e Xangô.
Para ele, Maceió oferece as melhores condições estruturais e receptivas para a realização dos cultos. “Há cinco anos que nosso centro vem fazer as oferendas aos orixás em Maceió. Aqui, nós temos mais liberdade de culto às entidades, e contamos com mais estrutura para acessar o mar e acomodar nossos materiais, que são muitos, como alimentos, brinquedos, perfumes, balaios e flores”, falou.
As celebrações, que ocorrem em um dos principais cartões postais da cidade, chamam atenção de vários turistas que circulam por Pajuçara. Para o médico veterinário e turista baiano Marcos Souza, 40, as oferendas têm um significado especial. “Há três anos, vim a Maceió fazer um concurso público e ao caminhar pela orla me deparei com as manifestações religiosas em homenagem à Iemanjá. Fiquei encantado. A partir de então, passei a fazer minhas oferendas lá em Salvador, no mês de fevereiro. Como estou de férias em dezembro, coincidiu que estivesse aqui na cidade para os festejos”, disse.
Já a funcionária pública Elena dos Santos, 56, que veio com um grupo de amigas da cidade de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, se disse surpresa com a realização de celebrações religiosas na praia. “Eu nunca vi celebrações assim, principalmente na praia de uma cidade turística. Sou católica e achei tudo muito colorido, bonito e novo”, contou.
A garçonete Cláudia Lopes, 40, aproveitou a movimentação que a cada dia oito de dezembro se torna vendedora ambulante de artigos como balaios, flores, perfumes, entre outros itens que servem de oferendas, contou que sua família não sabe que ela presta suas oferendas à Iemanjá e que frequenta, eventualmente, alguns centros de xangô. “Minha família não sabe que eu frequento terreiros, nem que eu vendo oferendas em datas especiais. Mas eu sempre dou um jeito de vir prestar minha homenagem, agradecer e fazer meus pedidos à Rainha do Mar. Hoje, eu tive de dizer que iria para um outro compromisso, tudo para que eles não me julguem”, falou.
Fonte: G1