Começa nesta quinta julgamento de trio canibal. Relembre o caso

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Desde o dia 11 de abril, quando a polícia começou a desvendar as primeiras evidências de uma série de crimes macabros em Garanhuns, no Agreste pernambucano – município que costuma aparecer na mídia por seus atributos turísticos – a cidade não é mais a mesma. A descoberta de dois corpos enterrados no quintal de uma casa no bairro de Jardim Liberdade, por si só chocante, era somente o início de um enredo envolvendo assassinatos, canibalismo, poligamia, misoginia, rituais e loucura que ganhou repercussão internacional e pode revelar uma história de crimes em série praticados em várias cidades de Pernambuco e na Paraíba.

Jorge Beltrão Negro Monte da Silveira tem 51 anos, é professor de educação física e faixa preta em karatê. Confessou ter assassinado Giselly Helena da Silva, 31, Alexandra Falcão da Silva, 20, e Jéssica Camila da Silva Pereira, 17, para depois se alimentar da carne das vítimas e comercializá-la. O crime contra Jéssica teria acontecido no bairro de Rio Doce, em Olinda, Região Metropolitana do Recife. Os outros dois, mais recentes, em Garanhuns, Agreste pernambucano. Jorge não mantinha boa relação com a família. Segundo seu irmão, Emanuel Beltrão, 55, a casa em que ele morava em Rio Doce, Olinda, antes de se mudar para Garanhuns, havia sido comprada após um golpe financeiro na família. Jorge teria conseguido R$ 80 mil por meio de cartões bancários de um outro irmão. A mãe dele, Zélia Beltrão, responsável por manter a conta desse irmão, portador de problemas mentais, está em choque. Jorge se encontra no Presídio Desembargador Augusto Duque, em Pesqueira, no Agreste, e responderá por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e estelionato. Autor do livro Diário de um esquizofrênico, diz sofrer de esquizofrenia.

Isabel Cristina Pires da Silveira tem 51 anos. Casada com Jorge Beltrão há 30 anos, é suspeita de ter assassinado as três jovens e comercializado a carne humana das vítimas nas ruas e nos centros médicos da cidade. Confessou ter participado de outros cinco homicídios, atualmente sob investigação policial. Também alega sofrer de esquizofrenia. Investigada pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, estelionato e uso de documentos falsos, Isabel está na Colônia Penal Feminina de Buíque, Agreste de Pernambuco.

Bruna Cristina de Oliveira da Silva, 22, conheceu o casal na adolescência e passou a viver com os dois. Mantinha um relacionamento com Jorge, mas convivia bem com Isabel. Já morando juntos, os três se mudaram para a casa de Rio Doce, em Olinda (possível endereço do assassinato de Jéssica), depois que Jorge deu um golpe de R$ 80 mil na família. Depois da morte de Jéssica, o trio se mudou para a Paraíba, onde teria feito outra vítima. E, no Recife, de acordo com as investigações, outras duas mulheres teriam sido mortas por eles. Ré confessa do assassinato das três jovens, também está na Colônia Penal Feminina de Buíque, Agreste pernambucano, sob acusação de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, estelionato e uso de documentos falsos. Está separada das outras presas, por ter declarado sentir falta de comer carne humana, o que teria assustado as demais detentas.

 

Os Crimes

Em covas rasas cavadas no terreiro de uma típica construção de porta e janela comum no interior, policiais da delegacia de Garanhuns, a 220 quilômetros do Recife, fizeram uma descoberta que, ao mesmo tempo, punha fim à angústia de duas famílias da cidade e dava início a uma história chocante até para quem lida diariamente com crimes e mortes. Na tarde do dia 11 de abril, após investigações que revelaram o envolvimento de Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, 51, Isabel Cristina Pires da Silveira, 51, e Bruna Cristina de Oliveira da Silva, 22, no desaparecimento de duas jovens moradoras da cidade, os corpos de Giselly Helena da Silva, 31, e Alexandra Falcão da Silva, 20, foram enfim localizados.

A forma como os restos mortais foram encontrados já dava aos peritos as primeiras pistas da complexidade dos crimes. Os corpos das mulheres foram esquartejados e partes dos músculos retirados. Mal sabiam os policiais, mas a prisão dos três moradores da casa, que formavam um triângulo amoroso, era o primeiro passo para a revelação de detalhes de uma série de crimes que podem ter feito pelo menos oito vítimas em território pernambucano e paraibano – todas mulheres jovens.

“Esse é um caso que, a cada dia, vem nos surpreendendo. Todas as informações estão sendo checadas e condensadas pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Cinco delegados estão investigado o caso. É possível que outros também participem das investigações, caso apareçam vítimas de outros municípios”, disse o diretor de Operação Judiciária da Polícia Civil, Osvaldo Morais.

CRUELDADE – Uma criança de cinco anos, inicialmente apresentada como filha de Jorge e Bruna, foi a primeira a revelar à polícia as nuances de horror dos crimes praticados pelo trio. Aos agentes, ela revelou onde estavam os corpos e contou que presenciou Jorge, a quem chama de pai, assassinar e decapitar as duas mulheres. De acordo com a polícia, a menina, que tem duas certidões de nascimento, é na verdade filha de outra vítima do trio.

Já nos primeiros depoimentos, a história começava a tomar forma de barbárie. Jorge contou que, sob a alegação de realizar um ritual de purificação, as vítimas eram mortas, seus órgãos retirados e parte da carne era consumida pelos três e pela criança, a quem teria sido oferecida a carne da própria mãe.

As mulheres, de acordo com as declarações dos suspeitos, eram atraídas pela oferta de um emprego de babá. Uma vez contratadas, Giselly e Alexandra teriam sido mantidas reféns e em seguidas assassinadas e esquartejadas. Não bastasse a crueldade dos crimes, o trio ia além: após matá-las, o s suspeitos temperavam, preparavam e desfiavam parte da carne das vítimas, que era então consumida e usada como de recheio de salgados vendidos pelas mulheres nas ruas e em centros médicos de Garanhuns, o que estarreceu a população local.

DESAPARECIMENTOS – Além do crime contra Giselly e Alexandra (a primeira desapareceu em 25 de fevereiro; a segunda, em 12 de março), a polícia investiga a ligação do trio com o desaparecimento de Jéssica Camila da Silva Pereira, em 2008, então 17 anos. A filha dela, com dois anos na época, teria passado a viver com o trio. Recolhida a um abrigo, a menina está sob os cuidados do Conselho Tutelar de Garanhuns e aguarda o resultado de exames de DNA para que sua guarda seja decidida.

Depois do início da investigação, o trio passou a ser suspeito do desaparecimento de outras cinco mulheres, que podem ter sido mortas em rituais semelhantes aos praticados em Garanhuns. De acordo com o delegado Wesley Fernandes, responsável pelo caso, Isabel Pires teria confessado a morte de oito pessoas, mas Jorge Beltrão e Bruna da Silva só confirmam três.

O LIVRO – Em depoimento, o trio afirmou fazer parte de uma seita chamada Cartel, cujo objetivo era combater o aumento populacional, por isso assassinavam mulheres que já tinham filhos. Corroborando a suspeita, foram encontrados um livro e um vídeo produzido pelo trio na casa em Garanhuns. Intitulado Diário de um esquizofrênico, o relato escrito por Jorge disserta sobre os crimes dando detalhes da execução. Quanto ao vídeo, trata-se de uma ficção caseira em que Jorge e Isabel Pires são atores. Na trama, o personagem dele ataca uma mulher, arranca e se alimenta de um dos olhos da vítima.

 

As vítimas

1Camila da Silva Pereira, 17 anos, desaparecida em julho de 2008
Teria conhecido o casal Jorge Beltrão e Isabel Pires no bairro de Boa Viagem, zona sul do Recife, onde trabalhava vendendo bombons, próximo a um canal. Aceitou o convite de ambos para trabalhar como doméstica na casa deles em Rio Doce, Olinda. Dois meses depois, teria sido assassinada por eles, quando esboçou desejo de deixar a casa. Após a morte, o casal teria se alimentado da carne da vítima. A filha dela, na época com dois anos, também teria ingerido a carne da mãe como alimento. A criança foi registrada em cartório como se fosse filha do casal de suspeitos.

 

Giselly Helena da Silva, 31 anos, desaparecida em 25
de fevereiro de 2012

1Quando foi contratada por Jorge Beltrão e Isabel Pires para ser babá da suposta filha do casal, Giselly chegou a comemorar o fato de passar a ganhar um salário mínimo e meio. Desde que ela começou no emprego, a família ficou sem notícias da jovem. Os parentes procuraram a polícia, achando que Giselly teria sido vítima de sequestro. Faturas de cartões de crédito em nome dela começaram a chegar na casa dos parentes, o que ajudou a polícia na investigação: as imagens do circuito interno das lojas listadas na fatura foram solicitadas. A câmera serviu para identificar os suspeitos. Quando a polícia encontrou os restos mortais, no dia 11 de abril, a criança teria dito que Jorge considerava Giselly uma pessoa má e que, por isso, iria matá-la.

 

Alexandra Falcão da Silva, 20 anos, desaparecida no dia 12
de março de 2012

1Assassinada menos de um mês depois do crime contra Giselly, Alexandra foi convidada a trabalhar na casa da dupla da mesma forma que a primeira vítima. Mas, segundo familiares, o homicídio ocorreu no mesmo dia em que a jovem havia começado no serviço. Na casa dos acusados, ela ganharia um salário mínimo e meio para cuidar de uma idosa e de uma criança. Isabel Pires teria feito o primeiro contato com a vítima dentro de um ônibus, sendo fechada a proposta de trabalho uma semana depois.

 

Além das mortes de Jéssica, Giselly e Alexandra, outras cinco vítimas estão sendo investigadas: quatro em Pernambuco (Casa Amarela, Recife; Casa Caiada, Olinda; e mais dois bairros não identificados, sendo um no Recife e outro em Olinda) e uma na Paraíba (Conde, a 19 km de João Pessoa, capital do estado).

 

Fonte: Diário de Pernambuco

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