Transexuais vão poder usar nome social durante a prova do Enem

Beatriz Cordeiro, de 27 anos, entrou na sala da Gama Filho, em Piedade, para fazer o Enem no ano passado como qualquer outra pessoa. E era exatamente assim que queria ficar até o fim dia: como qualquer outra pessoa. Mas sabia que não seria possível. Quando entregou o canhoto de inscrição, o fiscal viu um nome masculino e perguntou o que estava acontecendo. Era mais uma dificuldade na vida da transexual, que somava o constrangimento da situação à tensão da prova. O Enem deste ano, que será aplicado neste fim de semana, não terá mais esse problema. O Inep cadastrou o nome social dos participantes que fizeram a solicitação, e eles serão tratados de acordo com o gênero que escolherem, inclusive para usarem os banheiros.

— Na hora do problema em sala, os outros alunos não perceberam, mas precisei discutir com a fiscal para ela só me chamar pelo nome social — lembra Beatriz, que não conseguiu a vaga que tanto queria em Serviço Social e só vai repetir o Enem no ano que vem: — Essa nova situação é uma vitória. Os transexuais não estavam em condição de igualdade com os outros participantes.

Beatriz Cordeiro
Beatriz Cordeiro

A curitibana Rafaelly Wiest, de 31 anos, teve menos sorte. Na cidade paranaense, os candidatos foram divididos por gênero, e os outros alunos da sala acharam que ela estava no lugar errado.

— Quando o fiscal falou que eu ia fazer a prova ali mesmo, todos entenderam e ficaram rindo. Suei frio — conta a transexual, que fez o Enem em 2012 e voltou a sofrer a mesma situação no ano seguinte: — A minha figura é toda feminina. Cabelo, corpo, seio. Sou uma mulher e estava lá no meio de 39 homens.

A atuação de Rafaelly como diretora da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) levou a paranaense ao encontro do então presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa. Ela contou a sua própria experiência:

— Ele e a equipe ficaram constrangidos. Mostrei para ele que, diferente dos outros candidatos, a gente ainda carregava o peso do preconceito.

A única reclamação dos trans é a maneira de cadastrar o nome social. Eles têm um prazo para ligar para o Inep e pedir um formulário para enviarem de novo para o órgão. Gaia Levi, de 18 anos, perdeu o prazo, mas entrou em contato e recebeu um e-mail garantindo de que os aplicadores serão orientados.

— Esse foi um começo, mas ainda falta muita pauta a ser conquista — diz Gaia.

O nome social do candidato transgênero estará, inclusive, no cartão de confirmação da prova. Por segurança, a identificação dos candidatos será feita pelo CPF, informado no formulário de inscrição (junto com o nome da carteira de identidade) preenchido no site do Enem. A mudança aconteceu depois de diversos candidatos denunciarem os constrangimentos.

Fonte: Extra/Globo

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