Fotógrafo diz que sentiu muita dor ao levar chute de serial killer
Após ser agredido pelo vigilante Tiago da Rocha, que confessou 39 assassinatos em Goiânia, o fotógrafo Edilson Pelicano afirma não entender o que levou o jovem a chutá-lo no abdômen. O profissional registrava o momento em que o suspeito, de 26 anos, era transferido da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc) para o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na quarta-feira (22), quando foi atingido. “Senti muita dor naquela hora, se não tivesse alguém atrás tinha caído”, conta Edilson.
Na ocasião, Tiago estava com as mãos algemadas e era escoltado por 20 policiais. Mas não foi o bastante para contê-lo. Após agredir o fotógrafo, o jovem foi colocado no carro da polícia que o levou ao presídio.
Tiago passou a primeira noite no Núcleo de Custódia CPP, que é a unidade de segurança máxima do estado e tem capacidade para 80 presos. O suspeito está em uma cela individual com 10 m². O local possui uma cama, chuveiro, vaso sanitário e pia.
O vigilante terá a mesma rotina que os demais detentos, com direito a banho de sol diário e de receber visita aos finais de semana.
Apesar de ter tentado se matar na cela da delegacia, Tiago não terá acompanhamento especial no Núcleo de Custódia. No entanto, o diretor da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária e Justiça (Sapejus), Ezequiel de Souza, garante que a segurança dele está resguardada e todos os procedimentos necessários para isto serão tomados.
“Toda vez que é feito o remanejamento em qualquer cela se faz uma revista antes que coloque o preso. A obrigação do estado é resguardar a integridade física dele”, disse o diretor.
Antes de ser transferido, Tiago foi avaliado, informalmente, pela psicóloga neurocientista Cássia Oliveira. A especialista, por iniciativa própria, pediu autorização à Polícia Civil para conversar com Tiago, na Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc). O encontro durou cerca de duas horas.
A psicóloga disse que ainda não pode dar um diagnóstico sobre o jovem, mas adiantou que ele “não é louco” e afirma que, “sem dúvida”, trata-se de um serial killer. Cássia acredita que ele tenha uma disfunção cerebral: “Seria algo como um vício, são redes neurais que são criadas como qualquer vício e isso tem que ser alimentado e a forma de ser alimentado é realmente fazendo o ato, né, praticando o ato novamente”.
Comportamento
Tiago foi preso na capital no último dia 14. Na ocasião, ele confessou à Polícia Civil ter matado 39 pessoas desde 2011. Durante os dias em que ficou detido, sozinho, em uma cela da Denarc, o comportamento de Tiago chamou a atenção dos policiais. Na segunda-feira (20), o delegado Eduardo Prado revelou que o suspeito disse que estava com vontade de matar.
Também causou estranheza o fato de Tiago ler, em poucas horas, 40 revistas. “Outra coisa curiosa é que ele lê de trás para frente de forma rápida, como se fosse dinâmica, lendo de forma alta”, pontua o delegado. Prado disse ainda que o motociclista pediu bebida alcoólica na cela, mas que não foi atendido.
Série de mortes
Entre as vítimas que Tiago confessou ter matado estão 15 dos 17 crimes contra mulheres investigados inicialmente pela força-tarefa da Polícia Civil, formada por 16 delegados, 30 agentes e 10 escrivães, que começaram a atuar no dia 4 de agosto. Os outros assassinatos seriam contra homossexuais e moradores de rua.
O primeiro crime da série de assassinatos contra mulheres ocorreu em 18 de janeiro deste ano, quando Bárbara Luiza Ribeiro Costa, de 14 anos, foi executada por um motociclista no Setor Lorena Park, na capital. A morte mais recente foi a de Ana Lídia Gomes, em um ponto de ônibus do Setor Morada Nova, em 4 de agosto.
Dois dos crimes apurados pela força-tarefa não foram assumidos pelo vigilante: a morte de Danielly Garmus da Silva, 23 anos, e a tentativa de homicídio de Daiane Ferreira de Morais, 18. Entretanto, ele confessou outras duas mortes de mulheres que eram apurados de forma independente e, após a confissão, a polícia os incluiu nas investigações. São os homicídios de Arlete dos Anjos Carvalho, 16, e de Edimila Ferreira Borges, 18.
Tiago revelou à polícia que interrompeu a sequência de mortes após o homicídio de Ana Lídia por medo de ser preso, informou o delegado Alexandre Bruno Barros. Mas voltou a cometer uma agressão uma semana depois. “Ele disse que parou porque ficou com medo de ser pego, por causa da força-tarefa. Depois, voltou porque não aguentou mais, tinha que extravasar a raiva”, disse o delegado.
Segundo a Polícia Civil, por causa desse crime, o jovem foi identificado em imagens registradas por câmeras de segurança, próximo à lanchonete em que uma mulher foi agredida por um motociclista. O caso foi incluído na força-tarefa. Segundo testemunhas, o motociclista de capacete vermelho, que seria Tiago, atirou na garota, mas a arma falhou. Então, ele deu um chute na boca dela. O vigilante acabou preso dois dias depois dessa agressão.
Fonte: G1