Bandido que comandou ‘banho de sangue’ em Maceió é condenado a 25 anos de prisão
Após cerca de sete horas de julgamento jurados do 1º Tribunal do Júri da Capital condenara, na noite da terça-feira, (21), o réu Anderson de Menezes Cerqueira, o ‘Mancha’ ou ‘Pé de Bolo’ – a 25 anos e seis meses de prisão em regime fechado.
Os trabalhos foram presididos pelo juiz Mauricio Breda, da 7ª Vara Criminal da Capital, que leu a sentença enquanto ‘Mancha’ ouvia de cabeça baixa. O bandido, que retornou para o Presidio Baldomero Cavalcanti, onde permanecia preso desde julho de 2013, é acusado de ordenar a execução de Florisvaldo Peixoto Silva, 32, morto na noite de 22 de março do mesmo ano em um dos trechos da Rua Agnelo Barbosa, no bairro da Ponta Grossa, área Sul da Capital alagoana, quando foi assassinado com cerca de 15 tiros quando transitava pela rua.
Apesar de negar o crime a promotora Marília Cerqueira, que atuou na acusação, disse que não tem dúvidas da periculosidade do acusado e que ‘o crime teve como pano de fundo a disputa por tráfico de drogas’.
As investigações, na época foram conduzidas por policiais da Força Nacional, (FN), sob o comando do delegado Rossilio Correia, da Delegacia de Homicídios, (DH), que concluiu o caso descobrindo que os matadores foram dois ‘empregados’ de ‘Mancha’ que após o crime ligaram através de um aparelho celular para o mandante que ao ser comunicado que a ordem havia sido cumprida teria falado que ia comemorar com uma cervejada.
Com autorização da Justiça a polícia gravou toda a conversa robustecendo o inquérito. O passo seguinte foi localizar ‘Mancha’, que sabendo que estava sendo procurado havia fugido para a cidade de Barra dos Coqueiros, interior de Sergipe, onde em 14 de julho de 2013 foi preso após 10 meses de fuga.
Em janeiro deste ano ‘Mancha’ tentou a liberdade através da Justiça, mas o desembargador Otávio Leão Praxedes, integrante da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Alagoas, manteve o bandido preso.
Em sua decisão o desembargador relatou que na abertura da audiência de instrução e julgamento do processo crime, em dezembro de 2013, parentes de Florisvaldo foram intimados e não compareceram. Uma irmã da vítima teria dito, por meio telefônico, que não iria à audiência, porque “os presos mandaram dizer que não era para ela comparecer”, pois poderia morrer.
A mulher se referia a ‘Mancha’ e seus comparsas, que mesmo na cadeia, continuavam comandando crimes.
‘Mancha’ ficou conhecido por andar pelas ruas, principalmente pelo bairro do Bom Parto, onde morou durante vários anos, portando metralhadoras, rifles e espingardas do calibre 12, de repetição, além de pistolas 9 milímetros, todas de uso exclusivo das Forças Armadas.
Ele também é suspeito de executar o estudante Elton Felipe dos Santos Santana em outubro de 2009, na Rua Dr. Luiz Eugênio, no bairro do Bom Parto. A vítima estava junto com a avó, de 63 anos, que também foi baleada.
Elton era ligada ao líder comunitário e servidor público Carlos Alves de Lima, 48, morto em agosto de 2009, dentro da residência que morava, na Rua do Campo, também no Bom Parto. Carlos Alves foi sentenciado à morte por ‘Mancha’ após procurar a polícia e relatar as ações do bandido. A vítima também havia convencido alguns menores, que vendiam drogas e praticam outros crimes a mando de ‘Mancha’, a desistirem do mundo do crime e retornarem para suas casas.
Outros crimes atribuídos ao bandido tiveram como vítimas Williams dos Santos Leite, 21, o ‘Lombardi’ e Rafael Severo dos Santos, 17, também moradores do Bom Parto. Os desempregados foram sequestrados e executados a tiros em dezembro de 2011, no mesmo bairro que moravam.
Charles Gomes, o “Charlão”, mesmo preso comanda crimes de dentro do presídio
Homem de confiança do traficante Charles Gomes de Barros, o ‘Charlão’, que apesar de cumprir pena em um dos presídios de Aracaju, (SE) é suspeito de ordenar várias mortes em Maceió e comandar o tráfico em vários bairros, ‘Mancha’ se tornou um fantasma para a polícia alagoana. Durante vários anos Anderson de Menezes – apesar de ser visto com frequência andando a pé, de moto ou de carro, sozinho ou com ‘seguranças’ – não era preso.
A polícia não tem dúvidas que sua autonomia no mundo do crime se deu com o aval de ‘Charlão’, preso em 21 de dezembro de 2006. Bastante articulado o criminoso conseguiu ser transferido do Sistema Prisional em Maceió para um dos presídios sergipanos. A transferência aconteceu após o Ministério Público Estadual (MPE) descobrir que ele havia pago pelas mortes de dois reeducandos que cumpriam pena no Presidio Baldomero Cavalvante, no ano de 2011.
José Domingos da Silva e José Juvêncio dos Santos Neto foram encontrados mortos dentro da enfermaria da penitenciária no dia 30 de janeiro daquele ano. As investigações do MPE concluíram que as mortes tiveram a participação dos agentes penitenciários Agostinho Wanderley Sistelos; Edniz Quirino da Silva; Flávio Daniel de Azevedo Albuquerque; Francisco de Assis Bezerra Filho; José Cícero da Silva; Josias Correia Amorim e Luiz Pedro de Sales Filho além da auxiliar de enfermagem Luciana Bezerra Lemos. A motivação do duplo crime seria que as vítimas seriam contrarias as ordens de ‘Charlão’ e seu bando.
“Jau” também é suspeito de mante contatos externos com seu bando (Cortesia/Força Nacional)
Outro traficante matador e com laços de amizade com ‘Charlão’ e ‘Mancha’ é Jailson Afonso da Silva, 21, o ‘Jaú’, preso na Travessa São Francisco, no Bom Parto, em setembro de 2013, por policiais da Força Nacional também sob o comando do delegado Rossilio Correia. ‘Jaú’ é suspeito de ter assassinado cerca de 20 pessoas e foi preso após retornar do Estado do Ceará.
Também se suspeita que ‘Jaú’ mantenha contatos externos com integrantes de seu bando, reestruturado após as prisões de outros integrantes da quadrilha.
Não se descarta ainda que ‘Charlão’, ‘Mancha’ e ‘Jau’ dividiram áreas de bairros em Maceió com outros traficantes presos, a exemplo de Ivanildo Nascimento Silva, o ‘Aranha’ e Moisés Santos da Costa Júnior, o ‘Gil Bolinha’, que montou uma quadrilha de traficantes e assaltantes que tem agido no Bom Parto e do bairro do Pinheiro.
Fonte: Emergência 190