Dona Ana é exemplo de tradição na arte pesqueira do São Francisco
Vou com Deus e Deus vai comigo. Estou com Deus e Deus está comigo. Onde eu estiver, estarei guardada por Deus, a Virgem Maria e Bom Jesus dos Navegantes”. É com essas palavras de fé que, todos os dias, Ana Maria da Rocha, 43 anos, inicia seus trabalhos na pescaria. Natural do Povoado Penedinho, na cidade de Piaçabuçu, a pescadora contou com emoção sua trajetória e os desafios das mulheres que dependem do Rio São Francisco. “Nem Alagoas, nem Sergipe. Eu nasci e me criei no meio do rio, dentro da pescaria”, relata.
A pesca artesanal é uma tradição hereditária. Através do conhecimento pesqueiro do avô, Dona Ana aprendeu o ofício. Colocar o barco no rio, jogar a rede nas águas, localizar e armazenar o peixe virou rotina na vida da pescadora. “Tudo que aprendi foi graças ao meu avô”, afirma.
O contato diário com os recursos naturais desperta a percepção ambiental dos pescadores. Ana Maria explica que, ao respirar fundo, sente o cheiro do peixe e imediatamente identifica a localidade de onde vem o pescado. “Paro em frente ao rio, sinto o cheiro da pilombeta. Pronto, eu já sei que, de onde está vindo o cheiro, vai dar peixe”, diz, com autoridade. A elaboração de instrumentos de trabalhos, como redes, malhas e varas de pesca, também compõe a arte.
O papel da mulher na pesca é tão importante quanto o do homem, porém, ainda é menos reconhecido. Sem medo, Ana Maria encara, sozinha, dias e noites dentro do Velho Chico. “A gente vê mulher na beira do rio pescando mariscos e fazendo rede. Eu sou uma das poucas que pesca peixe. Passo dia e noite no rio e não tenho medo. Aqui, os pescadores me aplaudem”, afirma, orgulhosa.
Com as mãos calejadas de pescar e vender peixes, a mulher guerreira criou cinco filhos. Além da pesca, Ana ainda é responsável por outras atividades, como os afazeres domésticos e a criação dos filhos. “Enquanto meus filhos vão estudar, eu vou pescar. Nem pai, nem mãe… Eu sou tudo na vida dos meus filhos. É esse exemplo que vou deixar para eles”, declara.
José Anailton, 10 anos, filho mais novo de Dona Ana, tem o sonho de ser marinheiro quando crescer. “Minha mãe é o meu tesouro, todos os dias ela diz que é para eu estudar e quando crescer ser marinheiro de um grande navio”, conta o pequeno Anailton.
Estado investirá quase R$ 500 mil nas colônias de pescadores
O município de Piaçabuçu, no Litoral Sul de Alagoas, é destaque no cenário pesqueiro do estado. Cerca de 3.400 pescadores estão cadastrados na Colônia dos Pescadores Z-19 Américo Pereira de Brito. As Colônias têm papel fundamental no trabalho pesqueiro, oferecendo orientação e ajuda no acesso a benefícios.
Após visitar as colônias de pescadores do estado, o secretário de Estado da Pesca e Aquicultura, Cantídio Mundim, anunciou que serão investidos R$ 478 mil na revitalização e reformas das sedes dessas colônias.
“Com recursos do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep) vamos reformar 24 colônias. Serão designados R$ 478 mil para a compra de equipamentos de pesca e o aperfeiçoamento do espaço físico. Tudo isso será feito pensando na melhoria do trabalho pesqueiro”, disse o secretário.