Candidatos apostam as fichas nos últimos programas eleitorais na TV
A três dias do término da campanha política na televisão, é hora das candidaturas presidenciais dosarem o tom e acertarem a mão no discurso para seduzir o eleitorado que vai às urnas no domingo. Dilma Rousseff (PT) insistirá hoje nos ataques, embora com menor intensidade, à candidata do PSB, Marina Silva. Essa, por sua vez, reforçará que manterá os programas sociais, um antídoto ao discurso do medo petista. Aécio Neves (PSDB) manterá a estratégia de se colocar como a mudança com qualidade e dizer que as suas duas adversárias têm origens iguais e promoverão resultados semelhantes para o país.
A tática para o último programa, que vai ao ar depois de amanhã, na quinta-feira, horas antes do debate eleitoral na TV Globo, varia de candidatura para candidatura. Dilma aproveitará os últimos 12 minutos, em dois blocos, a que tem direito no primeiro turno para um grande balanço das duas gestões petistas — dela e de Luiz Inácio — amplificando os ganhos sociais e econômicos ao longo deste período. “O último programa é mais para cima. Não é hora de fazer propostas”, disse um estrategista da campanha Dilmista.
Aécio Neves vai definir o formato do programa de acordo com as pesquisas de intenção de voto que serão divulgadas entre hoje e amanhã. Se for repetida a tendência de aproximação entre o tucano e Marina Silva, os marqueteiros vão explorar o tema e intensificar o pedido pelo voto útil e consciente. “Não podemos alterar nossos caminhos e as escolhas feitas até o momento. Mas também não há como negar que Marina e Aécio estão vivenciando uma parábola nas campanhas. Só que a dela está na curva descendente”, disse um aliado do senador mineiro.
Onda positiva
Depois de tentar escapar dos ataques que vêm sofrendo dos adversários e deixar claro a manutenção dos programas sociais, os marineiros vão convidar artistas e personalidades que aderiram à socialista na tentativa de formar uma onda positiva. “Será um momento de convidar o eleitor para participar desse momento de escolha. Vamos mostrar que Marina é única na história brasileira. Os artistas e conhecidos que quiserem gravar serão bem-vindos, mas nada que eu possa contar”, argumenta o coordenador-geral da campanha, Walter Feldmann. Uma das participações esperadas é a de Renata, viúva de Eduardo Campos. Em um vídeo, ela destacará a afinidade e a sintonia entre os dois.
Antes do grand finale, contudo, a tendência é que os ataques continuem. Dilma deve aproveitar a propaganda de hoje para explorar o debate promovido pela TV Record, sobretudo o embate no qual a presidente afirmou que Marina Silva foi contrária à CPMF. Ontem, a campanha da ex-senadora divulgou uma nota afirmando que o PT pinçou momentos dessa votação para distorcer os fatos. “A verdade é outra. A então senadora pelo PT se opôs a todas as propostas em debate que ofereciam a possibilidade de distorção da finalidade social da CPMF, em especial aquelas que permitiam o uso dos recursos da contribuição para tampar os rombos das contas do governo federal.”
Para os dilmistas, Marina tem mostrado sua inconsistência ao longo da campanha. “Ela é contraditória nas palavras e nos atos e isso ajudou a campanha. João Santana acertou na mão nas propagandas até o momento”, disse o secretário de organização do PT, Florisvaldo de Souza. Marina manterá a neutralidade. A decisão de não partir para ataques diretos nos dois minutos que a candidata do PSB tem no rádio e na televisão tem um propósito claro para o coordenador da campanha da pessebista, Walter Feldman: “Esse é o canto dos adversários. Não vamos para o ataque, podemos ser críticos, mas não ofensivos. Vamos privilegiar os programas, as esperanças”, completou.
A última semana também será marcada pelo suspense. Na campanha dilmista, já há quem ache possível um segundo turno entre Dilma e Aécio, com Marina fora da disputa. “A candidatura de Marina está derretendo. Resta saber se haverá tempo para que o tucano reverter a queda”, disse um interlocutor da campanha petista.
Idas e vindas
Veja como os três principais presidenciáveis conduziram a propaganda eleitoral gratuita na tevê
Dilma Rousseff (PT)
» A presidente Dilma iniciou os programas exaltando resultados dos quase 12 anos do PT à frente da Presidência. Sem ataques nominais, ela centrou suas críticas no candidato do PSDB, Aécio Neves, relacionando-o à gestão de Fernando Henrique Cardoso. Com o crescimento de Marina Silva (PSB) nas pesquisas, ela passou a concentrar os ataques na ex-senadora. A estratégia foi tratar a concorrente como uma política fraca e que muda de opinião de acordo com as pressões. O PT usou ainda a estratégia do medo ao dizer que o país pode quebrar caso Marina vença e ponha em prática sua proposta de dar autonomia ao Banco Central. Marina continua o alvo de ataques mais fortes.
Marina Silva (PSB)
» A candidata do PSB, Marina Silva, abriu o programa eleitoral na ressaca da morte do ex-colega de chapa, Eduardo Campos. As primeiras propagandas da candidata serviram para ela e o candidato à vice-presidente na chapa, Beto Albuquerque, se apresentarem e assegurarem que vão manter as propostas de Campos. Com a ascensão da socialista nas pesquisas e dos ataques adversários, ela passou a usar parte do programa para rebater e esclarecer o que chamou de boatos. Em um dos programas, Marina usou seus dois minutos para replicar discurso em que ela diz que já passou fome e que quem já viveu essa experiência nunca acabaria com o Bolsa Família.
Aécio Neves(PSDB)
» O tucano dedicou as duas primeiras semanas do programa eleitoral para se apresentar ao eleitor. No início, Aécio tinha como foco de críticas apenas à presidente Dilma. Com o crescimento de Marina Silva — que chegou a passar a petista no segundo turno, de acordo com as pesquisas —, o senador começou a dividir suas críticas entre as duas candidatas. A estratégia foi apresentar Dilma e Marina como candidatas parecidas, reforçando sempre a origem petista da ex-senadora. No meio deste mês, quando voltou a crescer nas pesquisas, Aécio passou a reforçar os ataques às duas concorrentes, mas aproveitou o novo fôlego para voltar a se apresentar ao eleitor.