Escócia independente ganha autonomia política, mas terá que arcar com custos

8e3r90ez92_236muu4ipd_fileOs escoceses poderão dar início nesta quinta-feira (18) à maior transformação política e econômica dos últimos 300 anos em seu país. A mudança dependerá do resultado do referendo realizado hoje, no qual a população votará a favor ou contra a independência da Escócia em relação ao Reino Unido.

Desde 1707, a Escócia está ligada à Inglaterra e ao País de Gales (compondo a Grã-Bretanha), que, junto com a Irlanda do Norte, formam o atual desenho do Reino Unido. Os quatro países possuem certo grau de autonomia política, porém respondem ao poder central britânico, em Londres.

Com a independência, a Escócia terá muito mais autonomia para usar os recursos do país e poderá alcançar mais representatividade internacional. Essa é a bandeira dos movimentos separatistas.

“Uma Escócia independente poderia representar por si só seus interesses dentro da Europa e em relação ao restante do mundo, sem necessidade de um ente intermediário”, explica o professor de relações internacionais e pesquisador da Faculdade Getúlio Vargas Bruno Theodoro Luciano.

Mas o professor ressalta que ambos os lados podem ser afetados negativamente pela separação e que ela pode não significar, necessariamente, uma ruptura completa dos vínculos da Escócia com a monarquia britânica.

“Tanto Reino Unido quanto Escócia perdem capacidade de influência regional. No âmbito global, os indicadores econômicos e comerciais passarão a ser considerados separadamente, o que deve levar a uma queda no ranking dos dois lados”, diz Luciano.

— A formalização do separatismo político demandará um esforço em se negociar e discutir qual será o relacionamento dos entes em questão, o que inevitavelmente reduzirá a capacidade dos dois países em lidar com seus problemas políticos e econômicos locais no curto prazo.

Uma Escócia independente também teria que arcar os custos básicos de uma nação soberana. Atualmente, “mais de 200 órgãos públicos são mantidos no país, que deverá analisar a manutenção total, ou não, desses órgãos e assumir os custos de seu funcionamento”, diz Ricardo Kiyoji Ywata, professor de relações internacionais do Senac-SP.

— O Reino Unido mantém 267 embaixadas com 14 mil funcionários. A Escócia independente deverá construir a sua própria rede de representações diplomáticas.

Além disso, os gastos com segurança, defesa nacional e os assuntos estrangeiros, hoje cobertos por Londres, passarão a ser de inteira responsabilidade da Escócia.

Economia

Do lado britânico, o Reino Unido enfrenta a possibilidade de perder cerca de 8% da sua população e 10% do PIB (Produto Interno Bruto).

“Com a queda no PIB, o Reino Unido perderia a posição de 6ª maior economia mundial”, diz o professor do Senac.

O Reino Unido também poderá perder grande parte de suas reservas de gás e petróleo, localizadas em território escocês. A exploração dos lucros vindos da venda dos dois combustíveis é apontada como um dos maiores ganhos para a Escócia, mas existem dois fatores negativos a serem considerados.

O primeiro tem a ver com a grande variação, de um ano para outro, na receita vinda dos dois produtos. Os valores “oscilaram, nos últimos dez anos, de 2 bilhões a 12 bilhões de libras [aproximadamente de R$ 7 a R$ 46 bilhões] para a Escócia, por razões de preços internacionais e de produtividade”, afirma Ywata.

O segundo fator é que a produção de gás e petróleo é finita e tem declinado ao longo dos últimos anos — de 1999 a 2006, apresentou queda de 40%. Portanto, não se pode contar com essas receitas indefinidamente.

Outro grande desafio é em relação à moeda. Os pró-independência querem continuar com a libra esterlina, mas a hipótese já foi recusada por Londres. Além disso, a Escócia não poderá mais contar com o apoio do Banco da Inglaterra (o banco central britânico).

“A possível adesão ao euro levará tempo e, ao final, Escócia perderá a soberania monetária (…) além de estar aderindo a uma eurozona em crise. Uma moeda própria seria possível, e isto permitirá manter a soberania monetária”, explica o professor do Senac.

— Entretanto, devido ao grande fluxo comercial com a Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte, destino de 66% das exportações escocesas, o custo cambial pesaria nas transações, encarecendo o produto final, sem falar no aumento da burocracia, em função de novas regras e normas.

Fonte: R7

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