Número de roubos a pedestres no estado do Rio em 2014 é o maior desde 1991

2014_721291948-2014060755169.jpg_20140607Desde 1991, ano dos primeiros registros disponíveis no site do Instituto de Segurança (ISP), jamais tantos pedestres viraram alvos de roubos no estado do Rio entre janeiro e julho do que em 2014: foram 48.152 ocorrências nos sete meses em questão, ou um crime do gênero a cada seis minutos. Na comparação com o número de 23 anos atrás, o primeiro do levantamento realizado pelo EXTRA, o crescimento é superior a 625%. A população do Rio subiu 29% entre 91 e 2014: de 12,8 milhões a 16,5 milhões.

O total de roubos a pedestres de janeiro a julho deste ano corresponde ainda à soma de todos os períodos semelhantes entre 1991 e 1997 — veja mais no infográfico abaixo. Além disso, julho de 2014 teve, sozinho, mais casos do que os sete meses iniciais de cada um dos seis primeiros anos analisados . Vale lembrar que os números atuais não incluem os roubos de celular, desmembrados numa estatística distinta a partir de 2009.

Se não registraram recorde negativo histórico, os roubos de carro e em coletivo também vêm aumentando nos setes primeiros meses dos últimos anos, após caírem consideravelmente entre 2007 e 2011. Os casos relacionados a veículos, inclusive, retornaram a um patamar superior ao do início do primeiro mandato do ex-governador Sérgio Cabral.

— A tendência claramente é de aumento, cada leva de dados se mostra pior do que a anterior. Já subiu de novo tudo o que caiu, e em alguns quesitos até mais — afirma Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análise de Violência da Uerj, ponderando que séries históricas muito longas podem sofrer distorções.

A curva ascendente citada pelo professor repete-se quando a análise diz respeito ao número de homicídios dolosos. Entre 2009 e 2012, sempre de janeiro a julho, os registros do tipo caíram 32,1%; de lá pra cá, voltaram a subir 26,5%.

— Há um desgaste nas políticas de segurança. Medidas como as UPPs e o sistema de metas, entre outras, tiveram impacto positivo inicial importante, mas não foram reajustadas e corrigidas. É necessária uma reformulação — acredita Cano.

Mais recordes negativos

Não foi apenas no número de roubos a pedestres que os sete primeiros meses deste ano alcançaram recorde negativo. Também nos roubos de carga e a estabelecimentos comerciais os índices atingiram, em 2014, o seu ápice nos últimos 23 anos.

Entre os roubos de carga, foi a primeira vez no período analisado que o total de registros superou os três mil casos de janeiro a julho. Na comparação com 1991, o aumento foi de 476%: de 525 para 3.027. Em relação ao ano passado, quando houve 1.938 registros, a subida é de 56,2%.

O cenário é muito parecido no que diz respeito aos roubos a estabelecimentos comerciais. Nunca antes, até 2014, os sete primeiros meses tinham superado a marca de cinco mil comerciantes alvo de criminosos — foram 5.043 casos do tipo, num crescimento de 28,5% ante o mesmo período do ano anterior (3.926 registros).

— O aumento nos roubos de rua é o mais sensível nesses últimos tempos, mas a verdade é que há uma subida geral em todos os crimes violentos que ocorrem em espaço público — vaticina Ignacio Cano.

Sistema Integrado de Metas

O Sistema de Metas citado pelo professor Ignacio Cano é um programa estabelecido pela Secretaria estadual de Segurança em 2009. De acordo com a redução dos índices de criminalidade em suas áreas de atuação, policiais civis e militares podem receber uma gratificação em dinheiro. A bonificação só é paga se houver diminuição nos índices de roubos de rua, roubos de carro e letalidade violenta.

— Se nem com a gratificação estão conseguindo controlar os roubos de rua, que são o maior problema atual, imagine nos outros tipos de crime — pondera Cano.

Nos últimos tempos, a escalada na violência tornou a distribuição dos bônus vinculados ao sistema cada vez mais restrita. Tanto no primeiro semestre deste ano quanto no segundo de 2013, só três das 39 Áreas de Segurança Pública Integradas (Aisps) do estado bateram as metas.

Na Região Metropolitana, o cenário é ainda mais complicado. Em ambos os semestres, apenas a região de Campo Grande, conhecida pela atuação de milícias, recebeu a gratificação.

A resposta da Secretaria estadual de Segurança:

“Houve considerável redução no que consideramos indicadores estratégicos. Em momento algum há um desgaste nessa gestão. Pelo contrário. Apesar de um aumento de alguns indicadores em 2014, ainda é menor que o cenário encontrado por essa gestão. Em 2006, a taxa era de 41,3 homicídios por cem mil habitantes. Em 2012, ano considerado em várias estatísticas, devido à publicação do Mapa da Violência do Ministério da Saúde, a taxa caiu para 25,1. Em 2013, essa taxa fechou em 29 por cem mil habitantes. Embora tenha sofrido um pequeno aumento, ela ainda é, como se pode ver, infinitamente menor do que a que a administração anterior deixou. Em comparação com 2006, são 1.578 homicídios A MENOS. O Rio de Janeiro em 2006 era considerado o terceiro estado mais violento do país. Hoje, é o 18º.

A maioria dos crimes diminui se compararmos à gestão anterior. O aumento de roubos de pedestres, além do crescimento populacional, ainda há, infelizmente, a questão da reincidência criminal. Há um ‘retrabalho’ da polícia. No período de janeiro a julho de 2014, comparado ao mesmo período em 2006, houve um aumento de 261,4% no número de prisões.

O Rio de Janeiro está muito diferente do cenário encontrado. Em dezembro de 2006, tínhamos um cenário de caos, criminosos atacavam policiais, viaturas e tudo que pudesse representar o poder do Estado. O Rio de Janeiro estava entregue ao descrédito. Foi adotada uma série de medidas, e o resultado é positivo. Dados na área de saúde apontam decréscimo no número de baleados nas emergências dos hospitais. A taxa de matrícula nas escolas cresce em cada comunidade pacificada. E o processo de pacificação vai além da UPP. Ainda há muito o que fazer, mas sem dúvida estamos em um Rio de Janeiro muito melhor.”

Fonte: Extra

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