Promessas, fracasso e renúncias: veja o primeiro ano desta gestão do CSA

dsc09453O que parecia ser o início de uma nova era positiva no Centro Sportivo Alagoano fracassou ao longo de quase um ano. Empossada no dia 7 de setembro de 2013, data em que o Azulão completou 100 anos de existência, a atual gestão maruja adotou um discurso de “união e força” na festa da posse, planejou metas para a temporada 2014 e começou bem a Copa do Nordeste, mas na saída do técnico Oliveira Canindé se perdeu, não soube contornar a crise, não conquistou a vaga para a Série D do Brasileiro e sofreu debandada de membros que ocupavam cargos importantes na alta cúpula azulina.

O primeiro desafio era montar um time competitivo para disputar o Campeonato Alagoano e as copas do Nordeste e do Brasil. Disposto a auxiliar Raimundo Tavares, que até então era o vice de futebol, Roberto Mendes – atual presidente – assumiu o cargo de diretor da pasta. A permanência durou pouco e, ainda em 2013, Mendes saiu de cena, alegando que já dera a sua contribuição. Com a saída do dirigente, o gerente Marquinhos Mossoró e o diretor Fabiano Melo ficaram responsáveis pelas negociações no futebol.

A contratação de Oliveira Canindé foi acertada em cheio. Com ele à frente do comando técnico, o clube iniciou o ano goleando o Bahia por 4 a 1 no Rei Pelé e encantando na competição regional, em um grupo que tinha ainda Santa Cruz e Vitória da Conquista. A jornada, no entanto, foi interrompida pelo Sport nas quartas de final. O time pernambucano eliminou os alagoanos e, mais tarde, terminou sendo o campeão da competição. As boas exibições no regional destacaram o Azulão e reacenderam a chama da torcida. Os azulinos voltaram a confiar no time e chegaram ao número expressivo de aproximadamente 2400 sócios ativos, fora os bons públicos presenciados no Trapichão.

Assim, cresceram os rumores de que Canindé sairia do Mutange, mas Raimundo Tavares garantiu que o treinador permaneceria até dezembro. Tudo parecia continuar bem, mas a felicidade azulina tinha prazo de validade. O elenco era limitado e a diretoria não estava acertando na hora de reforçar o plantel. Sem a mesma badalação da Copa do Nordeste, a derrota para o São Paulo, pela Copa do Brasil, foi vista por um Rei Pelé quase lotado, e também foi a última partida que atrairia a grande mídia para o Azulão.

Depois dela, a crise começou a aparecer. O primeiro baque foi pesado. Canindé, principal responsável pelo destaque do time dentro de campo, foi anunciado pela diretoria do América-RN para ser o novo técnico do Alvirrubro. Com a saída do treinador, começaram a surgir os boatos de que existiria um desmanche de elenco, o que não aconteceu. O segundo baque veio logo em seguida e também foi de impacto. Há pouco mais de seis meses como presidente executivo, Jurandy Torres entregou a carta renúncia ao Conselho Deliberativo e pediu o boné. Vice-geral, Lumário Rodrigues acumulou a função de maneira interina.

Bastante criticada por ter bancado, sem sucesso, a permanência de Canindé, a diretoria foi rápida e anunciou Estevam Soares para o comando técnico. O mesmo elenco que despontou no Nordestão não entrou em sintonia com o novo treinador e caiu de produção de maneira inacreditável, gerando, posteriormente, críticas da torcida e da diretoria. Os insucessos no estadual foram crescendo e Soares teve a saída decretada. A urgência pela reabilitação na tabela era evidente e os dirigentes recorreram ao conhecido auxiliar técnico Lino para ocupar o cargo. Ele também não se deu bem e foi posto

Desesperada, a diretoria contratou um comentarista de uma rádio local para assumir a equipe. Marlon Araújo tentou mudar o cenário trágico, mas previsivelmente não foi feliz. Com tantas mudanças fora de campo, dentro dele o CSA foi eliminado pelo São Paulo na Copa do Brasil e não chegou nem na fase final do Alagoano, em um grupo que tinha Coruripe, Murici, CEO e Penedense.

O vexame de não conseguir nem uma vaga para a Quarta Divisão do Campeonato Brasileiro – que era uma das promessas da diretoria – estourou e escancarou o péssimo clima no ambiente do clube. As boas rendas obtidas nas três competições, as cotas da televisão detentora dos direitos de transmissão do Nordestão e o sucesso financeiro do programa sócio torcedor levaram a torcida a se queixar sobre o paradeiro de todo o dinheiro, exigindo uma prestação de contas

Vice-presidente financeiro, Rafael Tenório foi pressionado e chegou a discutir com o ex-presidente Jorge VI em uma rádio local. Pouco tempo depois, uma foto com o dirigente fazendo gestos alusivos à principal organizada do rival CRB vazou na internet e despertou a ira dos azulinos. Foi o estopim. Tenório entregou a carta de renúncia junto a Raimundo Tavares, que deixou a vice-presidência de futebol. Sem atividade no futebol profissional, o gerente de futebol Marquinhos Mossoró também foi desligado do clube.

Nesse meio tempo, Roberto Mendes retornou ao Mutange e foi aclamado presidente-executivo, ocupando a lacuna deixada pelo antecessor Jurandy Torres. Desde então, Mendes tem procurado organizar a casa com os membros remanescentes da gestão empossada em setembro passado. Ele tem delegado funções para os setores do clube e buscado, junto ao departamento jurídico, levantar o valor total da dívida do CSA para tentar entrar no Programa de Recuperação Fiscal, o Refis.

Se no futebol as coisas não aconteceram da maneira planejada, em outros setores o clube teve uma vida bem diferente. Vice-presidente de patrimônio, Raniel Holanda é o destaque da diretoria maruja. À frente das reformas estruturais do CT do Mutange, ele tem custeado do próprio bolso alguns serviços da obra e contado com doações de conselheiros e patrocinadores do clube para concluir a reforma. Sem ter o aporte financeiro necessário, a obra não foi suspensa, mas caminhou a passos lentos. A previsão é de que ela seja inaugurada no próximo dia 7 de setembro, quando o CSA completa 101 anos.
Quem também teve destaque foi o vice-presidente administrativo, Milton Pereira. Ele foi o responsável por resgatar e restaurar troféus históricos do Azulão. De acordo com Pereira, as taças estavam jogadas pelo Mutange, algumas danificadas e outras até sujas de lama.

Sem atividade no futebol profissional, a diretoria do CSA priorizou as categorias de base do clube. Esperava-se que o setor fosse a solução do ano vergonhoso que vive o Azulão. No entanto, não foi. No Campeonato do Sesi sub-17, o time azulino foi eliminado da competição por W.O. Segundo funcionários do departamento de futebol amador, houve uma falha de comunicação interna e o time terminou sendo prejudicado. Após a falha bisonha, as trapalhadas não pararam por aí. Um jogador do time sub-20 foi escalado de maneiro irregular na reta final do Campeonato Alagoano daquela categoria. O CSA foi denunciado e punido no tribunal, perdendo pontos que o tiraram da Copa São Paulo de Futebol Júnior, principal torneio de base do Brasil.

Mesmo reconhecendo os erros de seus funcionários, o presidente Roberto Mendes decidiu não fazer nenhuma mudança na pasta.

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Quando ainda ocupava o cargo de vice financeiro do clube, Rafael Tenório deu uma declaração polêmica e afirmou que o CSA precisaria ficar ao menos dois anos sem almejar conquistar títulos, isso para poder se organizar e reestruturar internamente. A declaração, óbvio, não foi bem aceita pelos torcedores. Agora, sem Tenório no executivo, os dirigentes miram o próximo passo e estão organizando a festa de 101 anos do Azulão. A programação do evento já foi confirmada.

Tentando apurar o valor da dívida do clube, Mendes tem evitado falar sobre o futuro do futebol profissional azulino. Ele deixou o experiente Ênio Oliveira à frente dos jogadores de base e das responsabilidades básicas de pré-temporada, como analisar o desempenho dos atletas em amistosos, por exemplo. Sobre os substitutos de Rafael Tenório e Raimundo Tavares nas vice-presidências financeira e de futebol, respectivamente, o mandatário decidiu que só vai defini-los em novembro.

Em 2015, o Centro Sportivo Alagoano está confirmado apenas no Campeonato Alagoano. Há quase quatro meses sem disputar uma partida de futebol profissional, o clube vai ficar ainda pelo menos mais quatro meses sem atividade no principal setor. Resta ao torcedor esperar para que, ao menos dessa vez, o planejamento seja bem feito e cumprido. Afinal, tempo para isso é o que não falta.

 

 

Globo Esporte

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