Ambulatório de Transexualidade começa a funcionar em Belo Horizonte
O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está criando um Ambulatório de Transexualidade na unidade Borges da Costa, na região hospitalar de Belo Horizonte. O serviço começou a funcionar há apenas um mês e já atende quatro pessoas às segundas-feiras, único dia em que é feito o atendimento na semana, por ordem de chegada. Quando estiver plenamente instalado, o ambulatório estará habilitado a fazer a cirurgia de redesignação sexual, conhecida popularmente como mudança de sexo, que já é custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O processo de tentativa de credenciamento do ambulatório no Ministério da Saúde está em aberto. Quando for autorizado, será o primeiro ambulatório especializado em transexuais a ser criado em Minas e o quinto no país, que conta com serviço semelhante em Goiânia, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
No Brasil, a fila das cirurgias para mudança de sexo está represada há dois anos. “O ambulatório da UFMG vai aliviar a espera de tratamento adequado para esta população, inclusive cirúrgico”, afirma a endocrinologista Beatriz Santana Soares Rocha. Coordenadora do ambulatório, a médica já atendeu em torno de 50 pacientes transexuais de Minas, em consultório no Hospital da Baleia.
Para ser atendidos na rede pública e privada de saúde, eles enfrentam dificuldades extras, como preconceito e falta de preparo até dos próprios médicos, que muitas vezes desconhecem a existência do transtorno de identidade de gênero. “Os transexuais são pessoas muito sofridas que, quando tratadas, conseguem se encontrar em si próprias”, afirma Beatriz Rocha.
Os transexuais se definem como pessoas que nasceram com a mente masculina no corpo de uma mulher, ou vice-versa. A proporção reconhecida pelos estudiosos seria de 1/20 mil pessoas do gênero masculino para feminino ( MtF, expressão que vem do inglês Male to Female), que significa “de homem para mulher”. Em menor número, 1/50 mil, viriam do feminino para masculino ( FtM, do inglês Female to Male, ou seja “de mulher para homem”). A maioria evita se expor publicamente antes de concluir a transformação. _
No ambulatório da UFMG, os pacientes vão contar com equipe multidisciplinar (psiquiatria, psicologia, ginecologia, urologia e endocrinologia). Por enquanto, as primeiras consultas se limitam a ouvir os casos de maneira detalhada, além de disciplinar a hormonização dos pacientes. Beatriz Rocha lembra que todos os pacientes atendidos até agora ingeriam doses de hormônios erradas, mesmo sabendo dos riscos de desenvolver câncer, trombose e até de chegar à morte súbita, por problemas cardíacos.
Assim que for possível viajar a BH, a universitária C.T.S., de 31 anos, pretende se consultar no ambulatório da UFMG. Ela nasceu no corpo de um menino, em uma pequena cidade da Zona da Mata, mas desde cedo já se identificava com figuras femininas. “Nunca brinquei de carrinho. Gostava de inventar cabelo grande e saia, feitos de folhas de bananeira”, conta ela, primeira transexual mineira a ser aceita em uma faculdade com o nome social, ou seja, com o nome que melhor combina melhor com seu corpo torneado e os cabelos compridos.
Para chegar a este ponto, C.T.S. arriscou a própria vida injetando-se hormônios femininos sem indicação médica. A estudante compra os remédios contrabandeados pela internet. Copia a receita médica das “amigas” na mesma condição, com quem conversa nas redes sociais. “Não pretendo me relacionar com ninguém antes de fazer a cirurgia. Morro de vergonha do meu corpo”, diz.
Diário De Pernambuco