Procura por milionário da Mega-Sena gera fofocas em Dores do Indaiá

20140818084049561885iAs praças não são mais as mesmas. E nem os buchichos típicos de uma cidade do interior de Minas Gerais. Em todos os cantos, os olhares estão mais curiosos. E aquela desconfiança típica do interior das Gerais está ainda mais aguçada. Afinal, o senhor sentado no banco da praça, a dona da casa com a janela fechada, quem passa desacelerado pela rua, qualquer um é “suspeito” de ter acertado a bolada da última Mega-Sena. O concurso 1.627, sorteado sábado, teve como único ganhador um apostador de Dores do Indaiá, no Centro-Oeste do estado, que vai receber nada menos que R$ 44,3 milhões.

A notícia mudou a rotina da pacata cidade, de 13,7 mil habitantes. Desde anteontem à noite, quando foi divulgado que o mais novo milionário do país é de Dores, não se fala em outra coisa no município. Todos querem saber quem é o sortudo. Mas os milionários podem ser vários. O dono da única casa lotérica da cidade garantiu a moradores que a premiação saiu em um bolão.

Morador ou visitante? Dois nomes estão no topo da lista dos palpites. Também estão na boca do povo os nomes de um funcionário da Cemig, morador de Divinópolis, na mesma região, e do juiz da cidade. Há quem desconfie ainda que o vencedor seja de fora. Pode ser até filho de Dores, mas morando em outra cidade. Isso porque desde sexta-feira a cidade está em festa com vários grupos de congado prestando homenagem à Nossa Senhora do Rosário.

Hoje é feriado no município. Portanto, o mistério continua pelo menos até amanhã, quando a casa lotérica e, claro, a Caixa Econômica Federal, onde o mais novo milionário pode retirar o dinheiro, estarão abertas. “Ainda teremos que esperar para resolver este mistério”, diz o eletricista Álvaro Lúcio de Oliveira, de 46 anos. “Acho que pode ser alguém de fora. Teve muito visitante aqui nesses dias, mais do que morador de Indaiá mesmo”, aposta o bancário José Augusto Rodrigues, de 32.

Ninguém sabe explicar como os boatos surgiram, mas por todo lado os possíveis ganhadores têm nome e sobrenome. Encabeçando o topo da lista, um deles, um homem de 59 anos, estava ontem na varanda da casa com a família e amigos tomando cachaça, cerveja e comendo abacaxi. Jurou, para quem quer que fosse, que não era ele. “Juro pela alma dos meus três filhos. Eu só jogo na Mega da virada, não aposto em outras situações”, diz.

Medo de bandido

“Estou com medo de bandido vir atrás de mim agora. Se me pegam, achando que sou milionário, não tenho dinheiro para pagar o resgate”, afirmou assustado. “Estão fazendo uma brincadeira perigosa e de mau gosto”, disse, desconfiando que quem começou a conversa foi um amigo padeiro, muito brincalhão. O homem até perdeu as contas de quantas pessoas bateram à sua porta ontem. O telefone também não parou de tocar e o celular do filho chegou a descarregar. “A pressão está braba.”

Um outro “suspeito” também nega veementemente e ontem agiu de forma normal, indo para o bar e depois tirando um bom cochilo em casa. Ele é conhecido na cidade por fazer bolos de apostas quando a Mega-Sena está acumulada. O comerciante Itamar Inácio de Oliveira, de 50, dono de mercearia em Dores do Indaiá, foi logo dizendo que o ganhador, na verdade, era ele: “Tenho que disfarçar. Trabalho sete dias, ponho uma placa de férias. Volto, trabalho mais sete dias e fecho para balanço. Assim ninguém desconfia”, brincou.

O vendedor de coco Helvécio Feliciano, de 60, ouve os boatos na esquina da praça e aguarda com paciência o desfecho do caso. Se fosse ele, saberia bem o que fazer: “Dividiria 50% entre minhas duas filhas e com o restante iria viver pescando no Pantanal”. O aposentado José Francisco Araújo, de 62, queria que fosse ele. Diz que ajudaria muita gente e faria um congado para sua turma. Ele tem medo da reação de bandidos. “Há alguns dias arrebentaram um banco aqui. Um dos assaltantes com fuzil na mão mandou duas pessoas que esperavam na porta da igreja um carro para consulta se deitarem no chão. Tenho medo de que voltem.

Fofoca nas praças e bares do interior

A curiosidade que leva os moradores de Dores do Indaiá a especular sobre a identidade do ganhador solitário do concurso 1.627 da Mega-Sena é a mesma que já mobilizou a população de outros municípios do interior mineiro onde pessoas se tornaram milionárias graças a uma aposta na loteria. Nessas cidades pequenas, descobrir o nome do felizardo torna-se obrigação e durante muito tempo não se fala em outra coisa.

Foi assim em São João del-Rei em 3 de janeiro de 2009, quando um morador acertou os seis números do concurso 1.036 e recebeu nada menos que R$ 44.550.370,27. Em qualquer lugar do município havia alguém disposto a afirmar que o novo milionário era fulano ou sicrano, e que o felizardo já havia reunido a família e os amigos para uma grande festa, com direito a churrasco de carne de primeira e cerveja à vontade.

Mas a única informação concreta sobre a identidade do ganhador veio da Caixa Econômica Federal (CEF). O sortudo fez oito apostas e ficou sabendo que estava rico pelo celular, quando estava reunido com a família. “Ficamos todos muito emocionados, pulamos e choramos de felicidade”, informou a assessoria da CEF ao divulgar uma pequena fala do apostador sortudo.

Zona rural

Em 6 de agosto de 2011, a notícia de que havia um novo milionário em Guanhães, cidade do Vale do Rio Doce localizada a 244 quilômetros de BH, agitou a cidade por muitas semanas. O milionário acertou sozinho as seis dezenas do concurso 1.307 e recebeu R$ 32 milhões. Nas rodas de conversa dos bares e praças, todos eram unânimes em afirmar que o ganhador era um rapaz de cerca de 25 anos, morador da zona rural de Correntinho, distrito de Guanhães, conhecido como Maiquinho.

Houve até quem garantisse estar ao lado do acertador no momento em ele conferiu os números sorteados e saiu comemorando a fortuna inesperada, se arriscando até a descrever como foi a reação do milionário. “Ele disse que precisava procurar um médico, pois o seu coração estava saindo pela boca”, narrou com autoridade um vendedor de carros que jurou estar ao lado de Maiquinho na hora em que ele descobriu ter ficado rico.

Verdade ou mentira? Não se sabe, mas acertar sozinho os números da Mega-Sena mexe com a imaginação de todo mundo, principalmente nas pacatas cidades do interior mineiro, onde a vida tem um ritmo bem mais lento.

 

 

Diário De Pernambuco

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