Após um mês,queda do voo MH17 na Ucrânia ainda tem explicações
A queda do voo MH17 da Malaysia Airlines no leste da Ucrânia completa um mês neste domingo (17) ainda sem responder a todas as questões sobre as circunstâncias do acidente, que matou as 298 pessoas a bordo do avião.
Por enquanto, é sabido que o Boeing 777 foi abatido por um míssil terra-ar e, embora os governos ucraniano e norte-americano acusem os rebeldes separatistas pelo disparo, nenhum dos dois países apresentou provas concretas que comprovem a acusação. Outro ponto a ser esclarecido é se o disparo foi acidental ou proposital.
Veja abaixo alguns questionamentos sobre a queda do avião:
Por que o avião caiu?
Um míssil terra-ar abateu o voo MH17 da Malaysia Airlines, segundo informações de radares militares norte-americanos que foram divulgadas horas depois da queda do Boeing 777.
Um sistema de radar identificou um míssil terra-ar ser disparado e ir em direção ao avião comercial, pouco antes de a aeronave cair. Um segundo sistema de radar identificou o rastro de calor do míssil no momento em que avião foi atingido.
A informação foi reforçada por análises preliminares da caixa-preta com os dados de voo do Boeing 777, divulgadas 11 dias depois da queda pelo governo da Ucrânia. Eles mostraram que o avião foi destruído por estilhaços vindos da explosão de um foguete e caiu devido a “grande descompressão explosiva“.
Quem atirou o míssil?
Os governos ucraniano e norte-americano acusaram os separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia pelo disparo do míssil, sem divulgar as evidências que levaram os países a concluírem isso.
O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, afirmou pouco após a queda do avião de que se tratava de um ato terrorista dos separatistas pró-Rússia que controlam o leste da Ucrânia. “Isso não foi um incidente, isso não foi uma catástrofe, foi um ato terrorista”, disse.
Obama também afirmou que as “evidências indicavam que o MH17 foi abatido por um míssil terra-ar de uma área controlada por separatistas apoiados pela Rússia”.
No entanto, o líder rebelde pró-Rússia Alexander Borodai, autoproclamado primeiro-ministro da República Popular de Donetsk (RPD), negou que suas forças tivessem mísseis do tipo que teriam derrubado o voo MH17.
Que tipo de lança-mísseis derrubou o avião e quem o forneceu?
Apesar da confirmação de que um míssil terra-ar derrubou o voo MH17, não foi divulgado ainda qual era o tipo de míssil nem qual armamento militar teria sido usado para dispará-lo.
A hipótese mais provável, segundo especialistas, é a do uso de um Buk, projétil de autopropulsão guiado de fabricação russa, capaz de atingir alvos aéreos acima de 22 mil metros. Há duas versões desses mísseis fabricados desde os anos 70: o Buk-M1 e o Buk-M2, chamados na terminologia da OTAN de “Gadfly SA-11” e “Grizzly SA-17”.
Os sistemas Buk são móveis e precisam ser instalados em veículos. São necessários três caminhões, um para o posto de comando, um para carregar o radar e o terceiro para disparar os projéteis. Além disso, para operá-lo, seria necessário treinamento militar. Tanto Ucrânia quanto Estados Unidos acusaram a Rússia de fornecer o armamento e instrução aos separatistas.
O país, porém, negou ter fornecido sistemas de mísseis Buk aos insurgentes pró-russos. “A Rússia não forneceu aos insurgentes sistemas de mísseis Buk ou qualquer outro tipo de armamento e material militar”, disse o general Andre Kartapolov, do Estado-Maior das forças russas.
O disparo foi proposital ou acidental?
Autoridades de inteligência dos Estados Unidos disseram à agência “Associated Press” acreditar que os separatistas pró-Rússia provavelmente derrubaram “por engano” o avião da Malaysia Airlines. No entanto, não há informações sobre qual aeronave militar ucraniana seria o “alvo real” naquele dia.
Há ainda uma segunda “teoria”, levantada pelo governo da Ucrânia e também não comprovada, de que a intenção dos rebeldes era derrubar uma aeronave comercial que ia da Rússia ao Chipre, e assim “forçar os russos a invadir o leste ucraniano”. Essa informação foi dada, segundo a “Ansa”, pelo chefe dos serviços de segurança da Ucrânia, Valentyn Nalyvaicenk, à imprensa do Chipre.
Quantos corpos foram recuperados?
A Holanda, país que centraliza a identificação das vítimas, afirma ter 174 corpos “mais ou menos completos”, e outras 527 partes humanas soltas.
Um mês após a queda, o país recebeu 267 ataúdes com restos humanos achados no local. Não é possível afirmar que cada caixão contenha restos de apenas uma pessoa. Além disso, é altamente provável que ainda existam restos mortais no local da queda do MH17 –as buscas foram interrompidas pela falta de segurança na região, onde ocorrem conflitos entre separatistas e forças ucranianas.
Segundo a Malaysia Airlines, a bordo do voo MH17 havia um total de 298 pessoas: 192 holandeses (um deles também tinha nacionalidade americana), 44 malaios (incluídos os 15 membros da tripulação e dois bebês), 27 australianos, 12 indonésios (entre eles um bebê), dez britânicos (um deles com dupla nacionalidade sul-africana), quatro alemães, quatro belgas, três filipinos, um canadense e um neozelandês.
Quantas vítimas já foram identificadas?
Depois de um mês da queda, os peritos na Holanda identificaram 127 vítimas de um total de 298 mortos, segundo a “AFP”. Os nomes das vítimas identificadas não estão sendo divulgados à imprensa e também ainda não foi informado um balanço por nacionalidade das vítimas identificadas.
O processo de identificação das 298 vítimas do voo MH17 é complexo dado o estado em que estão os corpos e ficou a cargo de uma força-tarefa internacional composta por centenas de peritos. A identificação é feita principalmente por meio do DNA das vítimas. Amostras são coletadas a partir de tecido muscular profundo dos corpos. Para a comparação, é preciso material genético de familiares, em geral requisitado pela força-tarefa aos países de origem das vítimas.
A queda do avião pode ser considerada um crime de guerra?
Sim, mas é necessário que um tribunal penal internacional julgue o caso. A Holanda já abriu uma investigação de crimes de guerra relacionados à queda do voo MH17 da Malaysia Airlines.
Um promotor público foi enviado à Ucrânia para conduzir as investigações, que vão avaliar as suspeitas de assassinato, crimes de guerra e a derrubada intencional da aeronave. Baseado na Lei de Crimes Internacionais, a Holanda pode processar um indivíduo que cometeu um crime de guerra contra um cidadão holandês.
A ONU acredita na hipótese de crime de guerra, a alta comissária da entidade, Navi Pillay, afirmou que as circunstâncias apontam para “a violação de direito internacional“. Mas a entidade destacou que é preciso que as autoridades concluam a investigação do acidente.
Houve alguma retaliação aos rebeldes?
A ofensiva das forças ucranianas avançou contra territórios controlados por separatistas no leste do país.
O governo da Ucrânia encerrou a trégua com os rebeldes no local da queda do voo MH17 no início de agosto. A falta de segurança levou peritos internacionais a interromperem trabalhos e se retirarem do local.
As Forças Armadas da Ucrânia tentam agora retomar a cidade de Donetsk depois de conseguirem cortar a ligação da cidade à Luhansk, outro reduto dos rebeldes. Os primeiros bombardeios ocorreram na quarta-feira (14).
Houve alguma retaliação à Rússia?
Os Estados Unidos e a União Europeia anunciaram uma série de sanções econômicas à Rússia devido ao suporte financeiro e militar do país aos separatistas ucranianos. Essas sanções atingem os setores de energia, indústria de armamentos e financeiro da Rússia.
Porém, em retaliação, a Rússia proibiu a importação da maioria dos alimentos vindos do Ocidente. Fornecedores de países da América Latina já se prontificaram a substituir os exportadores e não há meios legais de pressioná-los a não colaborar com os russos.
Medidas para aumentar a segurança aérea foram adotadas após a queda do avião?
Entidades da aviação internacional ainda não criaram novos protocolos para voos comerciais em áreas de conflito, porém estudam medidas para evitar novas tragédias.
Na ocasião da queda do MH17, o espaço aéreo no leste ucraniano ficou fechado para voos comerciais.
A Icao (Organização da Aviação Civil Internacional) chegou a um acordo durante uma reunião de seus 191 membros realizada em sua sede, em Montreal (Canadá), que estabelecerá um grupo de trabalho para melhorar a comunicação entre os Estados e o setor da aviação civil.
A organização, no entanto, ressaltou que “é responsabilidade dos Estados” informar sobre os riscos à segurança da aviação comercial. Além disso, a Icao tem atualmente um papel limitado e não pode, sozinha, “abrir ou fechar” espaços aéreos.
Um dos exemplos recentes de que os Estados estão mais atentos ao problema foi a suspensão de voos para Israel por companhias europeias e norte-americanas, após um alerta da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos. Israelenses e grupos armados palestinos estavam trocando disparos próximos ao aeroporto de Ben-Gurion, em Tel-Aviv. (Com agências)
Fonte: Uol