Tatuagem no olho e piercing no freio da língua: você teria coragem?
O que começou na época dos faraós egípcios, como sinal de realeza, atualmente, se transformou em prática comum: perfurar o umbigo com um piercing. Já a tatuagem, um hábito tribal encontrado em várias partes do mundo, também foi aderida como uma forma de expressão pessoal. Na tentativa de se destacarem nessa forma de arte, tatuadores e body piercers (profissionais que aplicam o piercing) acabam criando novas tendências. Antes, locais como o braço, costas e tornozelos eram os escolhidos para estampar um desenho, e para “furar”, eram usados o lóbulo da orelha, o nariz e o umbigo. Esses costumavam ser os lugares mais populares. Mas o que você acha de tatuar o branco dos olhos? E fazer um piercing no dedo?
A body piercer Letícia Vaz de Mello começou sua carreira aplicando piercing em si própria e nas amigas. O que era um hobby, virou profissão. Hoje, com vários cursos na bagagem, ela afirma que não há um perfil específico de público que costuma buscar esse tipo de adorno corporal, no estúdio em que trabalha.
De acordo com Letícia, os locais escolhidos para a aplicação também variam muito. Entre os mais incomuns, estão o ombro, a maçã do rosto e a parte frontal do pescoço. “Alguns lugares como o freio da língua e o smile [pele que fica entre os dentes e a parte interna do lábio superior] estão se tornando muito populares entre os adolescentes, por serem mais fáceis de esconder dos pais”, conta.
Mas, como explica a profissional, nem todo mundo pode fazer um piercing, devido à restrição de idade. Letícia diz que é comum pais chegarem à loja com crianças de nove anos, para furar o nariz, como forma de copiar algum colega da escola, ou mesmo pré-adolescentes de 11 anos, querendo aplicar o piercing na língua. “Não trabalho em menores de 13 em hipótese alguma, nem com autorização dos pais. O bom resultado do piercing depende muito dos cuidados após a incisão, e crianças, normalmente, não se preocupam com isso”, explica. Se o local do furo inflamar, a reação do corpo é tentar expulsar o objeto causador do problema, o que, além do incômodo, leva ao aparecimento de quelóides e cicatrizes.
Os cuidados indicados para uma boa cicatrização do local da aplicação do acessório exigem certa disciplina. É preciso lavar a região com sabão antibacteriano três vezes ao dia, e no caso da língua, evitar alguns tipos de alimento. Dependendo do local, a cicatrização pode ser mais lenta. “A parte do corpo mais difícil de cicatrizar é a cartilagem da orelha, pois está sempre em contato com cabelo, travesseiro e exposto a sofrer esbarrões”, afirma a body piercer. Já os mamilos, região mais sensível para se furar, é a que possui melhor cicatrização.
Quem pensa em turbinar o estilo com o piercing deve escolher bem o local. As partes não recomendadas são as que estão próximas das articulações – como os dedos e joelhos – e onde a pele é mais grossa, como a palma da mão e perto da sola do pé, pois a cicatrização é mais difícil e a chance de o corpo expelir a peça é grande. Outro detalhe importante para que o corpo não rejeite o acessório é a qualidade do material. A joia deve ser de aço cirúrgico 316 LVM ou de titânio F136. Se o furo for na boca, no smile, a peça deve ser de silicone para não desgastar o esmalte dos dentes.
Pintura “eterna”
Homenagear a mãe ou um ente querido com uma tatuagem é comum e não causa espanto nas pessoas. Mas, e quando o desenho é feito nos olhos e até na língua? Fotos e relatos na internet mostram que os norte-americanos aficionados com arte corporal já estão optando por áreas do corpo cada vez mais excêntricas.
No Brasil, a técnica de se tatuar o branco dos olhos foi trazida por um profisisonal de Jundiaí, cidade do interior de São Paulo. Para quem quer ter uma agulha injetando tinta especial nos olhos, basta gastar cerca de R$1 mil – além de aceitar o risco de interferir numa área que não é indicada para a prática. E, assim como a tatuagem tradicional, a imagem vai durar para a vida toda (não pode ser retirada com laser).
Outra tatuagem inusitada, apresentada na South Florida Tattoo Expo 2012, feira do ramo realizada no estado da Flórida, nos Estados Unidos, e que foi feita, ao vivo, por uma mulher de 22 anos, num lugar íntimo nada comum. Ela quis homenagear seu namorado, escrevendo o nome dele nessa região que é um tabu.
Tatuador há 10 anos, Leandro Moraes da Silva, que tem um estúdio em BH, nunca foi requisitado para tatuar nesse tipo de região, mas acredita que o resultado dificilmente ficará bom e nítido como em outras partes do corpo. “Não teria como fazer um desenho mais complexo por causa da textura da pele. Talvez motivos simples como uma estrela, como já vi em alguns vídeos de aplicação do desenho em atrizes pornôs, dê certo”, sugere. Além disso, ele alerta para a dificuldade de cicatrização no local, especialmente pela dificuldade de se manter essa área limpa.
O tatuador conta que o pedido mais bizarro que já recebeu foi para tatuar num cachorro. “O cão tinha uma cicatriz perto do olho. O dono queria cobri-la, pois o animal competia em exposições, e isso estaria prejudicando seu desempenho. Preferi não fazer, mas achei muito inusitado”, diz.
Até entre as celebridades, tatuar ou aplicar piercings em locais excêntricos do corpo virou moda. A atriz e cantora Miley Cyrus postou em seu Instagram uma foto de sua nova tatuagem: um emoticon de gatinho chorando. O lugar? Na parte interna do lábio inferior. Segundo a dermatologista Ana Cláudia Soares, Sociedade Brasileira de Dermatologia de Minas Gerais, o risco de se tatuar dentro da boca aumenta consideravelmente o risco de infecção. “É uma região de alta incidência de bactérias”, explica. O mesmo risco vale para quem aplica piercing ou tatua a língua.
Se, no futuro, surgir o arrependimento de ter feito o desenho, a médica afirma que a dor da retirada da tinta é maior do que a das agulhadas: “O laser para remover uma tatuagem queima a pele até explodir o pigmento, que é fragmentado e eliminado”. Há diferentes tipos de laser, específicos para cada tonalidade de tinta, mas como explica Ana Cláudia Soares, apagar totalmente as cores amarela e vermelha não é possível. Além disso, não é garantido que a pele volte a ficar como era antes do desenho.