Policial que registrou roubo de carro de jogador está preso
Mais um fato revelado pela Polícia Civil mostra indícios da ligação do jogador de futebol Luiz Antonio, do Flamengo, com milicianos que atuavam na Zona Oeste do Rio. Segundo a investigação, o carro de luxo que teria sido dado pelo atleta a um dos chefes da quadrilha teria sido dado como roubado, pelo pai do jogador, em uma delegacia. O nome do inspetor que fez o registro de ocorrência é Alexandre da Rocha Antunes, um dos mais de 20 presos na quinta-feira (7) em operação que desarticulou a quadrilha.
De acordo com o delegado Alexandre Capote, delegado da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), o policial dizia entre os colegas ser “irmão de criação” de Luiz Antonio. A polícia procura o jogador para prestar depoimento. Ele pode responder por estelionato. O pai dele é suspeito de falsa comunicação de crime. Até a manhã desta terça-feira (12), ele não havia sido encontrado. Segundo vizinhos, ele se mudou do prédio onde morava na semana passada.
O Flamengo informou, em nota, que vai esperar pela conclusão da investigação para se pronunciar. Nenhum outro representante do atleta foi encontrado para esclarecer o fato.
A polícia chegou até Luiz Antonio após depoimento de um ex-integrante da milícia. As declarações foram exibidas no Fantástico deste domingo (10). Entre outras revelações, o criminoso contou que um jogador de futebol frequentava churrascos realizados nos fins de semana, com direito a “muita mulher” e “cerveja”.
Segundo a polícia, o meia, que atuou como titular na vitória do Flamengo contra o Sport neste domingo (10), teria dado um carro de luxo, avaliado em R$ 120 mil, a um dos chefes da milícia. Após o presente, ele teria registrado o roubo do veículo para poder receber o dinheiro de seguro. Segundo os investigadores, o jogador teria cometido estelionato.
“Ele presenteou o miliciano para ficar bem com ele e, ao mesmo tempo, cometeu um estelionato, uma fraude com fim de receber o valor do seguro desse carro. Foi um familiar do jogador que comunicou falsamente o roubo desse carro”, explicou o delegado.
Policiais foram até o apartamento do jogador Luiz Antônio para entregar a intimação, porém ele não foi encontrado em casa. Pessoas no local informaram que ele não mora mais no endereço na Zona Oeste do Rio há, pelo menos, oito dias.
‘Ninguém vê o corpo’, diz ex-miliciano
O ex-integrante da milícia diz que artistas famosos também frequentam os churrascos, realizados às sextas-feiras e aos sábados. O depoimento revela ainda que o grupo possui um forte arsenal e os homicídios recorrentes. “Muitas mortes. Passa fogo e acabou. Some com eles dali e ninguém vê o corpo, ninguém vê nada”, contou.
Segundo a polícia, a maior e mais violenta milícia do Rio foi desarticulada com as recentes prisões. O grupo cobra taxas dos comerciantes, das vans de transporte alternativo, cobrava por segurança, pela TV a cabo, pelo gás e até pela cesta básica. “Quem não paga, pode comprar a passagem pro além. Entendeu? Tem que pagar. É assim que funciona”, conta o ex-integrante, que ajudou a polícia do Rio a identificar os criminosos.
Ele diz conhecer como ninguém o funcionamento da quadrilha, que explorava moradores da Zona Oeste da cidade havia mais de dez anos. “Eu sou um ex-componente da firma. Eu era um braço-direito deles”, conta.
Líderes presos há mais de 6 anos
A milícia foi criada pelos irmãos Jerônimo, ex-vereador, e Natalino Guimarães, e ex-deputado estadual do Rio. Eles estão presos há mais de seis anos em um presídio federal de segurança máxima, em Porto Velho, Rondônia, condenados por formação de quadrilha armada. O grupo criminoso é formado, principalmente, por quem deveria estar do lado da lei.
“A maioria é ex-policiais. Ex-policiais e policiais da ativa. A maioria, por isso que tem essa força. A firma é milionária”, revela o criminoso.
Segundo o delegado Alexandre Capote, o lucro era milionário. “Nós constatamos que eles movimentavam cerca de R$ 1 milhão por mês”, conta.
A área de atuação da milícia chegou até condomínios do programa “Minha casa, minha vida”, do Governo Federal. Em abril passado, o Fantástico denunciou que essa quadrilha cobrava taxas e serviços dos moradores e expulsava de lá quem não colaborava.
“Centenas de trabalhadores que conquistaram o direito de ter um imóvel, e de uma hora pra outra se viram no meio da rua, expulsos, torturados, ameaçados só porque esses milicianos queriam esses imóveis para vender”, diz o delegado.
Fonte: Globo