Crônica: Um diálogo com um pai falecido

Então, estava lá eu no velório de meu pai  1 h da manhã duma madrugada fria de uma terça-feira  maldita, que vou lembrar para o resto da minha vida. Naquele dia debaixo de uma chuvinha de garoa, estava lá eu sentada num banco do outro lado da rua em frente ao velório. Quando, do nada, olho para o lado, e nele vejo meu pai.

Vejo meu pai sentando a meu lado, como em tantas outras ocasiões já tinha visto. E lá estava ele, e ele estava ótimo, estava saudável, sem tosses, sem dor, sem sofrimento, com ar de vida em seu redor, com seu coração pulsando, e ele me pergunta com um sorriso cômico no rosto:

“Por que essa cara tristonha ai filha?”

“Ah, cê sabe o porquê” digo eu com a voz afogada.

“Ué, filha, cê achava que o pai ia ficar aqui para sempre? Não, a gente vai embora uma hora”, diz ele.

“É, mas você foi muito cedo! Eu acreditava que você ia viver outros 57 anos” digo eu com a voz baixinha tentando segurar o choro.

“Queria ter dito que te amava, queria ter de dado um último abraço.  Queria que você soubesse que eu amava minha mãe e meus irmãos. Queria que você soubesse que eu te amava.”, eu digo.

“Oh filha, cê acha que o pai não sabia disso? Cê acha que o pai não sabia que amava ele? Cê acha que eu não sabia disso?” ele me diz colocando a mão sobre meu ombro, me olhando sorrindo, me abraçando de lado.

Eu me viro e nós nos abraçamos. Nos abraçamos, nos abraçamos até o fim. Um último adeus.

O que resta de um pai falecido, é a saudade. Nunca a tristeza!

“Hoje é dia de alegria

E em mim vive uma dor

Um vazio sem métrica

Saudade cheia de cor

Teu cabelo branquinho

Tua blusa amarela

Sua chegada em casa

Uma espera na janela

Hoje sua casa é no céu

Também dentro de mim

Estas na casa do Pai

Enquanto espera por mim”.