Parreira rebate Dunga Se Neymar tirasse o boné,seríamos Hexa?

2014-732716864-2014-732276366-2014070931232.jpg_20140709.jpg_20140710Carlos Alberto Parreira será submetido a uma cirurgia de catarata, nesta quarta-feira, numa clínica em Botafogo, mas a visão não está totalmente comprometida. Ele enxerga como poucos os problemas do futebol brasileiro. Testemunha ocular do desastre na Copa do Mundo, o ex-coordenador técnico da seleção critica a falta de infraestrutura no Brasil, e, mesmo na torcida por Dunga, discorda de suas críticas ao boné usado por Neymar fora de campo.

O que achou das críticas do Dunga ao boné usado por Neymar?

O combinado não sai caro, poderíamos ter combinado algo em relação a bonés e cortes de cabelo, mas a situação é mais complexa. Neymar realmente usou um boné, e eu nem sabia o que estava escrito ali. Mas, se ele tirasse o boné, o Brasil teria sido campeão do mundo?

Qual é o problema do nosso futebol?

O problema é a infraestrutura do futebol brasileiro, que precisa ser refeita mesmo. Temos que tomar providências em relação à formação de treinadores e à base. A equação é simples, mas é difícil implantá-la.

Gostou da escolha de Dunga para o cargo de técnico da seleção?

Gostei. O maior problema foi quando assumiu da outra vez, sem ter sido treinador. Dunga disputou três Copas como jogador, ganhou uma, disputou uma como técnico e passou pelo Internacional. Agora, as coisas serão mais fáceis para ele. Gostei da postura dele nas duas entrevistas que vi. Se os resultados vierem, isso ajudará no trabalho. Estamos torcendo para que dê certo. Concordo quando ele diz que nosso futebol não é terra arrasada. Aquele resultado (7 a 1) foi atípico, não vai acontecer de novo. Mas temos que observar que a Alemanha capacitou treinadores e cuidou da formação de jogadores.

Mas, nós só fomos descobrir na Copa do Mundo que estávamos tão abaixo de outras seleções?

É… A gente tem que levar isso para uma discussão. Mas, qual foi a novidade? Foi o esquema com três zagueiros? Fazemos isso desde 90. Foi o jogo compactado? O Zagallo fez isso em 70. Foi o 4-5-1? Fui campeão brasileiro com o Fluminense, em 84, jogando assim. O problema não é esse. O problema é implementar uma estrutura como a da Alemanha. Até concordo que a gente segura a bola, quando se deveria trocar mais passes. Mas, aqui, se o Grêmio perde, o técnico cai. Se a Ponte Preta perde, o técnico cai. Isso esculhamba tudo.

Dunga criticou a reação dos jogadores durante o Hino Nacional. A emoção atrapalhou?

Até concordo que, talvez, emoção demais possa tirar o foco… Mas não é questão de concordar ou discordar. É questão de momento. Na Copa das Confederações, foi ótimo, maravilhoso. Agora, não foi. Onde está a verdade?

Todo o marketing por trás do Neymar o atrapalhou?

Não. Neymar estava envolvido o tempo todo. Ele treina com vontade, não foge do trabalho e não é de ficar no departamento médico. Ele usa boné, usa óculos, é um multimídia como ninguém no mundo. Mas não entrava em campo para treinar de boné. Eu te juro que nem sei quando foi que ele usou boné.

Por que a seleção teve poucos treinos táticos?

Não vou comentar sobre treinamento. Você deve perguntar isso ao Felipão. Havia lá três preparadores físicos, um auxiliar técnico, um treinador, fisiologistas… Acho que o trabalho foi conduzido de acordo com a opinião desses profissionais. Cada treinador tem sua maneira de conduzir o processo. O Felipão tem a dele. A gente tem que respeitar. Na verdade, tudo vai muito em cima do resultado.

É favorável à contratação de treinadores estrangeiros?

Poderiam ajudar, trazendo metodologia, filosofia e conceitos diferentes. Serviria, naturalmente, para compararmos com o que se faz por aqui e aproveitarmos ou não. Refiro-me aos clubes. Quanto à seleção, o técnico tem que ser brasileiro, pois conhece nossas raízes, cultura, tradições e história. Fica muito mais fácil.

Com a derrota na Copa, praticamente toda a comissão técnica da seleção foi desfeita. Isso é prejudicial?

O bom é a continuidade, mas a seleção brasileira é sempre muito especial. O técnico de seleção tem validade de uma Copa à outra. Eu ganhei (em 94) e saí. O Felipão ganhou (em 2002) e saiu. O cara não quer arriscar. Então, se o técnico ganha e sai, quando perde não tem nem discussão. Tem que sair.

Arrepende-se de ter aceitado o cargo de coordenador?

Pelo contrário. Você não imagina o orgulho que sinto por ter participado de uma Copa em casa e por ter ganho a Copa das Confederações.

Que nota daria para a seleção brasileira na Copa?

Não sei. Com certeza, não é dez. Também não é zero, pois fomos à semifinal, o que não acontecia desde 2002, embora ficar entre os quatro não signifique nada para o futebol brasileiro. Eu daria uma nota de regular para boa.

Faz planos de voltar ao futebol?

Tenho uma empresa de importação e exportação e encerrei minha carreira de treinador na África do Sul. Não quero ser gestor de clube. Não é a minha área. Não quero perder meu sábado e domingo. Aceitei a seleção porque era somente por um ano e meio e sentia uma grande motivação por disputar uma Copa do Mundo em casa. Fico feliz por ter participado.

Fonte : Terra

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