Livro sobre Garrincha será lançado em Alagoas nesta quarta
“Um tributo ao anjo das pernas tortas, meu grande ídolo”. É assim que o jornalista alagoano Mário Lima descreve sua obra, “Garrincha, a flecha fulniô das Alagoas. Mestiçagem, futebol-arte e crônicas pioneiras”. O lançamento do livro está marcado para esta quarta-feira (19), às 19h, no Museu da Imagem e do Som do Estado (Misa), localizado no bairro do Jaraguá. O evento é aberto ao público.
O livro versa, principalmente, sobre a origem de Garrincha. O grande ídolo do Botafogo nasceu em Pau Grande, no Rio de Janeiro, mas é filho de pai alagoano. Seu Amaro dos Santos é natural de Quebrangulo, interior do Estado, e foi criado na aldeia dos fulniôs, índios de origem pernambucana, mas que por conta de perseguições, vieram para Alagoas em 1860. Somente aos 26 anos, em 1914, Amaro e sua esposa, foram ao Rio de Janeiro, terra aonde o “Mané” veio ao mundo, 19 anos depois.
Botafoguense fanático, Mário Lima conta que a paixão pelo clube carioca e a idolatria por Garrincha, o motivaram a escrever. O livro, impresso pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos e patrocinado pelo Ministério do Esporte e Governo do Estado, é fruto de uma extensa pesquisa de campo, sua tese de pós-graduação, além de contar com a colaboração de alagoanos notáveis, como os jornalistas Márcio Canuto e Lauthenay Perdigão.
“Garrincha é o meu ídolo. Sou botafoguense, e esse livro é uma espécie de tributo a um sujeito que me fez admirar ainda mais o futebol. Contar essa história não foi fácil. Eu visitei a aldeia dos Fulniôs em Pernambuco, conheci os caciques que conheciam a história de raiz dele. Poderia ter ido além, mas a obra, que ainda teve contribuições importantes de grandes figuras alagoanas, traz grandes relatos que contam bem essa história fantástica do Mané”, explica.
As raízes indígena
Garrincha teve várias alcunhas durante a vida de jogador. “Anjo das Pernas Tortas”, “Alegria do Povo”, ou simplesmente “Mané”. Apesar de vasta quantidade de apelidos, um se destaca: “Flecha Fulniô”. O apelido faz referência direta à origem indígena do craque, até hoje usada como justificativa para tentar descrever o “espírito indomável” do ex-jogador, falecido em 1983.
“As raízes indígenas de Garrincha explicam muitas coisas sobre sua vida. Todos sabemos que o maior problema na vida dele foi o alcoolismo. Mas isso tem relação direta com a cultura. Ele quando pequeno, tomava uma bebida na mamadeira que trazia álcool. As várias mulheres que teve, os filhos, tudo isso tem no íntimo dele, a raiz indígena. Dentro de campo, o espírito moleque, driblador, típico da capoeira. Em uma das obras que eu tomei como base, Estrela Solitária: um Brasileiro Chamado Garrincha, de Ruy Castro, isso é introduzido”, revela.
Ode ao futebol-arte
Garrincha é o grande inspirador da obra de Mário Lima, mas as 225 páginas do livro não contam apenas a história do jogador. Vai bem além. Entusiasta do futebol-arte, o jornalista alagoano relembra o início da chamada “mestiçagem do futebol”, e reuniu crônicas de gigantes do jornalismo esportivo dos chamados “anos dourados”. Nelson Rodrigues, Mário Filho, entre outros, que ajudaram a consolidar o esporte que antes era praticado apenas pela elite, como uma ferramenta de libertação do povo brasileiro.
“O Garrincha é a espinha dorsal do livro, mas a temática vai além. A gente aborda também o início da mestiçagem no futebol, o surgimento dos “craques de ébano”, como já dizia o jornalista Mário Filho. É importante ressaltar também o poder da crônica esportiva na afirmação dessas figuras no nosso futebol”, explica. “Jornalistas como o próprio Mario Filho, João Saldanha, e o grande Nelson Rodrigues, escreveram as primeiras linhas do começo do nosso futebol arte, época de ouro em que esses atletas e muitos outros tão talentosos quanto, começaram a encantar o mundo com gols incríveis e dribles fantásticos”, concluiu.
Agência Alagoas