Guerra virtual esquenta e baixa o nível da política a quatro meses das eleições
Enquanto os partidos políticos ainda preparam suas estratégias para a campanha eleitoral deste ano nas redes sociais, um novo personagem político toma a internet de assalto: o cidadão comum íntimo do Facebook e Twitter, ávido para discutir política e os problemas do País, mas não necessariamente filiado a uma legenda partidária. Na semana que passou, o noticiário discutiu o alcance dos polêmicos posts antipetistas da página TV Revolta no Facebook e a suposta tentativa do PSDB de cooptar a famosa personagem Dilma Bolada por R$ 500 mil. Essas histórias seriam só o aperitivo para o jogo sujo que aguarda a campanha eleitoral online em 2014, ano em que o Brasil escolhe seus governadores, senadores, deputados federais e presidente.
A campanha na internet ganhou novos contornos na semana passada, quando a TV Revolta virou debate entre petistas, assustados com a popularidade do canal no Facebook (com 3,6 milhões de seguidores), que destila críticas à Copa do Mundo e a serviços públicos apontando o PT como único responsável.
A última semana mal havia começado e uma nova polêmica eleitoral virou notícia, agora envolvendo a famosa página Dilma Bolada, administrada por Jeferson Monteiro. O rapaz, de 24 anos, acusou uma agência de publicidade contratada pelo PSDB de oferecer-lhe R$ 500 mil para mudar de lado e começar a criticar o governo federal às vésperas da eleição.
Em meio aos ataques políticos disfarçados de notícia e às tentativas de cooptação, outra baixaria sacudia o meio político no Facebook. Na mesma semana em que o deputado federal Romário (PSB-RJ) anunciou sua candidatura ao Senado, o PT afirmou em sua página oficial que o ex-atacante caía em contradição ao embolsar quase R$ 1 milhão em propagandas para a Copa do Mundo depois de passar boa parte de seu mandato criticando o evento. Romário não deixou por menos e respondeu, também pela rede social, com uma foto ilustrada pela estrela do PT e uma criança chorando ao lado da hashtag “mimimipetista”.
A guerra virtual que esquentou a política nesses dias pode ser só uma amostra da baixaria que vem pela frente. Proibidos por lei de pagar por publicidade nas redes sociais a partir do dia 6 de julho, os políticos precisarão de estratégias originais para atrair o eleitor online. “Obviamente que o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] só vai autuar os candidatos mais conhecidos, enquanto centenas devem continuar pagando porque o Facebook não têm nada com isso”, afirmou ao iG o especialista em redes sociais Paulo Rebêlo, contratado recentemente pelo PSDB para ministrar um seminário sobre ativismo digital a seus militantes de Pernambuco. “E esse é o menor dos problemas.”
O especialista se refere à compra de seguidores falsos para as páginas dos principais candidatos. O esquema funciona assim: uma agência se oferece a um partido para aumentar os cliques, as curtidas e o número de seguidores de determinado político. A campanha, que não faz ideia de como funciona a tecnologia, contrata a empresa, que busca na Ásia companhias que recebem dinheiro para criar perfis falsos que engordem essas contas. “Com a explosão do Facebook, vários sites que recebem cartão de crédito desconta o proporcional aos cliques e seguidores que você quer. São pessoas que não existem de verdade.”
No mês passado, o jornal americano The New York Times publicou uma reportagem falando justamente sobre isso. De acordo com a publicação, qualquer pessoa consegue ganhar 4 mil seguidores desembolsando apenas cinco dólares. Por 3.700 dólares garante-se 1 milhão de seguidores. “As pesquisas do setor indicam essa compra por parte das campanhas, mas o Facebook faz sigilo sobre todos os seus números”, lamenta Rebêlo.
Coordenador da campanha digital do PT em 2010, Marcelo Branco acha que todos os partidos engatinham no assunto. Eles ainda acreditariam que é possível atrair eleitores apenas reproduzindo nas redes o conteúdo produzido pelo site oficial da campanha. “É preciso estimular os jovens do partido a produzir seu próprio material porque só o que é original e espontâneo ganha adepto nas redes”, defende. “Hoje os partidos só falam com seu próprio gueto. As legendas precisam aprender com os jovens das manifestações de junho/2013 como fazer campanha de rede.”
Embora lamente “a atuação direitista” de páginas como a TV Revolta, Branco considera Dilma Bolada uma novidade política. “Ele [Jeferson] acertou na linguagem, na forma e fez um trabalho melhor para o governo do que a Secretaria de Comunicação da presidente”, alfineta.
Especialista em marketing digital, Gabriel Rossi garante que os grupos de pressão, como a TV Revolta, sempre existiram. “O que a internet deu ao longo desses anos foi maturidade a eles, que hoje se organizam em rede trabalhando coordenadamente.”
Rebêlo cita uma página semelhante à TV Revolta, mas antitucana: “O Poços10 deveria falar sobre a cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais, mas serve apenas para criticar Aécio Neves”, candidato do PSDB à Presidência.
“Na prática”, diz ele, “uma faixa de feliz aniversário ao prefeito supostamente paga por cidadãos satisfeitos na verdade é bancada por partidos políticos. O que a gente começa a ver na web é a reprodução da campanha fora da internet, que sempre foi suja.”
Fonte: IG