Morte de coronel pode ser ‘queima de arquivo’, diz polícia

mALHAESO delegado adjunto Fabio Salvaretti, da Divisão de Homicídios (DH) da Baixada Fluminense, disse em entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira (25) que não descarta nenhuma hipótese para a morte do coronel reformado do Exército Paulo Malhães, conhecido por sua atuação na repressão política durante a ditadura militar. Salvaretti disse que trabalha com a hipótese de vingança, queima de arquivo e latrocínio.

De acordo com o delegado, a mulher do coronel, Cristina Batista Malhães, e Paulo Malhães, chegaram em casa por volta das 14h de quinta-feira (24) e três homens, um deles encapuzado,  já estavam no interior da residência, em Nova Iguaçu, na Baixada. Cristina foi levada junto com o caseiro para um cômodo e o coronel foi levado para um dos quartos da casa. Cristina e o caseiro deixaram a delegacia por volta das 17h45.

Salvaretti acredita que Paulo Malhães tenha sido morto por volta das 20h. Segundo ele, o corpo do coronel foi encontrado no chão, de bruços, com a cabeça em um travesseiro, sem marcas de tiro. O delegado trabalha com a hipótese de que o coronel tenha sido asfixiado.

O delegado disse que pelo menos duas pistolas e uma arma que pertencia a coleção do coronel foram roubadas. Além das armas, jóias, R$ 700 em espécie, dois computadores e impressoras também foram roubados. Salvaretti disse ainda que uma testemunha ligou para o Disque Denúncia dizendo que tinha informações sobre o caso, mas ela ainda não depôs.

 

Morte

Paulo Malhães foi encontrado morto dentro de casa, no bairro Ipiranga, na área rural de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, na manhã desta sexta-feira (25). Segundo a Divisão de Homicídios da Baixada, a casa do coronel de 76 anos foi invadida por volta das 13h desta quinta (24). Segundo sua mulher, Cristina Batista Malhães, ela e o caseiro teriam sido feitos reféns até as 22h. Os agentes buscam imagens de câmeras de segurança que possam auxiliar na identificação da autoria do crime.

O crime ocorre cerca de um mês depois de o militar ter admitido na Comissão Nacional da Verdade que participou de torturas e desaparecimentos durante a ditadura, inclusive o do ex-deputado Rubens Paiva.

O local não tem câmeras de segurança, de acordo com o delegado Fábio Salvadoretti, que investiga o caso. A mulher e o caseiro não conseguiram reconhecer os criminosos, mas afirmam não ter sofrido violência física. O corpo de Paulo Malhães foi levado para o Instituto Médico-Legal (IML) de Nova Iguaçu.

O Clube Militar, associação que reúne militares da reserva do Exército, informou que não se pronunciará sobre o caso por não conhecer as circunstâncias da morte do coronel. O chefe de gabinete da presidência da instituição, coronel Figueira Santos, afirmou que o Clube Militar só irá se manifestar se surgir algum “fato novo”. O Comando Militar do Leste, no Rio, também informou que não vai comentar o caso, já que as investigações estão a cargo da Polícia Civil.

Comissão da Verdade
Em março, em dois depoimentos diferentes, um à Comissão Estadual da Verdade do Rio, no dia 21, e outro na Comissão Nacional da Verdade, dia 25, Paulo Malhães deu detalhes sobre torturas e desaparecimento de corpos durante a ditadura. Primeiro, declarou ter desaparecido com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, morto em 1971. No segundo momento, voltou atrás e afirmou não lembrar se foi ele que executou a ação.

“Eu só disse [à imprensa] que fui eu porque eu acho uma história muito triste, quando a família leva 38 anos dizendo que quer saber o paradeiro. Eu não sou sentimental, não, mas tenho as minhas crises”, justificou, na época.

Presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Victória Grabois, considera que o crime demonstra “perigo” para quem investiga a ditadura. “É estarrecedor o que aconteceu. Espero que o Estado brasileiro tome as medidas cabíveis, acione as polícias estadual e Federal para apurarem o que realmente aconteceu. Nós, dos direitos humanos, temos que ficar atentos. Se isso aconteceu com um militar, nós estamos passando por muito perigo”, declarou.

Victória teme que as investigações da Comissão da Verdade sejam prejudicadas devido ao assassinato. “A morte do coronel é uma ameaça, porque outros torturadores podem ficar acuados para prestar depoimentos e esclarecimentos sobre o que aconteceu na época da ditadura militar. Temos que abrir os arquivos da ditadura o quanto antes”, disse.

A Polícia Federal informou que não é atribuição do órgão a apuração desse crime.

 

Fonte: G1

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