Pela 1ª vez, França aceita mulheres em submarinos
O ministro da Defesa, Jean-Yves Le Drian, anunciou que pela primeira vez, a partir de 2017, três mulheres poderão embarcar em submarinos para missões de patrulha.
“É preciso que a presença feminina seja generalizada. Por isso, haverá mulheres até mesmo nos submarinos. É o símbolo que elas participam totalmente à defesa do país”, declarou Drian.
A escolha das voluntárias será realizada neste ano, e o treinamento dessas oficiais para integrar a tripulação de submarinos começará em 2015, informou o ministério.
Várias funções na Marinha estão em estudo para integrar as missões, como médica, especialista em energia nuclear e de comando-adjunto das operações. A medida diz respeito somente aos submarinos a propulsão nuclear equipados com mísseis com ogivas nucleares (SSBN, segundo o código da organização militar internacional Otan).
Esses submarinos são bem maiores, com cabines mais privativas, de apenas dois ou três leitos, para uma tripulação de cerca de uma de centena de membros.
‘Promiscuidade’
De acordo com o Ministério da Defesa, essa primeira experiência com mulheres a bordo de submarinos “poderá, no futuro, levar à abertura perene dessa atividade da marinha à tripulação feminina”.
Até então, vários motivos eram alegados para excluir as mulheres de operações em submarinos, que podem durar dois meses e meio sem retornar à superfície. Oficialmente, a Marinha sempre alegou problemas de “promiscuidade” em relação aos dormitórios e banheiros.
Há alguns anos, ainda havia um esquema, para ganhar espaço nos submarinos de antiga geração, de compartilhamento dos leitos em turnos distintos. Havia apenas duas camas para três oficiais, sendo que um deles sempre estaria em operação, de acordo com os turnos de trabalho. Também não haveria condições, por falta de espaço, de limitar o uso de um banheiro apenas às mulheres.
Riscos de saúde, ligados a uma suposta sensibilidade maior das mulheres às taxas mais elevadas de dióxido de carbono nos submarinos e seu possível impacto em caso de gravidez, também eram destacados oficialmente.
Estudos provaram, no entanto, que esse risco é mínimo, de acordo com a Marinha, que exigirá, mesmo assim, exames de gravidez antes do embarque nos submarinos.
“Os submarinos da geração atual não foram concebidos para acolher em um espaço restrito uma tripulação mista em condições decentes”, dizia o Ministério da Defesa, em 2012, em um documento ao Senado francês.
Estrutura adaptada
A nova geração de submarinos nucleares de ataque, da classe Barracuda, que será lançada a partir de 2017, já prevê infraestruturas adaptadas a uma tripulação feminina, informa o Ministério da Defesa.
Mas extraoficialmente outros argumentos também eram evocados para impedir a presença de mulheres em submarinos. Após meses no fundo do mar, poderia haver “tensões sexuais” a bordo, segundo oficiais da Marinha. Além disso, muitas esposas de membros da tripulação se opõem à medida. Algumas delas protestaram na imprensa francesa após o anúncio recente feito pelo ministério.
A Marinha francesa possui 14% de mulheres, segundo a revista Le Point. Desde 1993, a Escola Naval francesa forma uma dezena de oficiais mulheres por ano. Desde então, apenas 23 exerceram funções de comando, escreve o Le Monde.
Nos navios, a presença de oficiais mulheres começou a partir de meados dos anos 90 e representa de 10% a 15% da tripulação.
Bastiões masculinos
Há ainda algumas áreas reservadas exclusivamente aos homens nas Forças Armadas e na polícia militar francesa.
Não há soldados femininos na Legião Estrangeira francesa. Não existe o recrutamento de “legionárias”, mas as mulheres podem exercer outras funções de carreira na Legião Estrangeira, como a de oficial.
As mulheres também não podem integrar os “pelotões de intervenção” da divisão da polícia militar “móvel” (que pode realizar operações no exterior, como as Forças Armadas).
Mas elas podem exercer funções administrativas, de logística ou até de comando nessa divisão da polícia militar. O argumento é de que os policiais militares que atuam em campo passam cerca de nove meses por ano fora de casa, muitas vezes em áreas sem infraestrutura de higiene.
BBC Brasil