Maria Topada e o Delegado

palmeiraFigura folclórica, Maria Topada, foi bastante querida por toda a população da cidade de Palmeira dos Índios, independente de classe ou posição social, mesmo  sendo ela uma “ex-dama da noite” (quando jovem) e tendo vivido numa época em que as mulheres tinham vida regrada; tempos em que às mulheres tudo era proibido; tempo em que mulher não bebia, não fumava, não cheirava…

Baixinha, sempre com seus vestidos de chita, pobre, ela sobreviveu muitos anos com as doações que recebia dos seus conhecidos.

Sempre que me encontrava, ela conseguia arrancar alguns trocados meus, dando as suas famosas “facadas” – jargão popular, que significa alguém conseguir tirar dinheiro de outro, via convencimento verbal.

De certo modo, Maria Topada era uma pessoa muito inteligente, tendo resposta certa (ou seria pergunta?) para cada situação.

Apresentada a nossa personagem, vamos ao causo…

Como ainda acontece em qualquer cidadezinha do interior do país, anos atrás, as maiores autoridades em Palmeira dos Índios eram o Juiz, o Prefeito, o Padre e o Delegado; quem era funcionário do Banco do Brasil ou Caixa Econômica ganhava muito bem, morava nas melhores casas da cidade e tinham automóvel de luxo.

Mudança de governo… Delegado novo na cidade. Alguns dias após a sua chegada, o delegado estava em uma lanchonete, juntamente com o juiz e o prefeito, quando chega a Maria Topada, figura ainda desconhecida da nova autoridade policial. Costumeiramente, ela se encaminhou até eles, para pedir uns “trocadinhos”. Neste momento, sentindo-se importunado com a presença dela, o delegado a ameaçou:

– Saia já daqui, senão mando prendê-la!

Acontece que Maria Topada era a Maria Topada: não tinha papas na língua! Como ela também ainda não conhecia o novo Delegado, mediu o caboclo de cima a baixo, e disparou:

– Ôxente, chegou quando, que já quer mandar?!

Formou-se a confusão. Foi necessária a intervenção do prefeito e do juiz para que ela não fosse presa, sob a alegação de desacato à autoridade.

Como a turma não perdoa, foi criado mais um bordão na cidade: deste dia em diante, e durante muito tempo em Palmeira dos Índios, quando alguém “se metia a besta” ou tomava alguma atitude severa, logo os outros repetiam Maria Topada:

– Ôxente, chegou quando, que já quer mandar?!

Uma outra inesquecível da Topada;

Antigamente, a Rede Ferroviária Federal S.A. (REFFESA) mantinha, regularmente, trens de passageiros e de cargas entre as cidades de Maceió e Porto Real do Colégio, às margens do Rio São Francisco, na divisa com o estado de Sergipe. Assistir a movimentação de passageiros, quando o trem chegava, e saber quem estava chegando ou ia viajar, era um dos programas favoritos em todas as cidades por onde ele passava.

Como o meu pai era o Chefe da Estação Ferroviária em Palmeira dos Índios, eu vivenciei, durante muitos anos, momentos assim.

Certa feita, Maria Topada estava na estação, esperando o “cavalo de ferro” chegar, para tentar ganhar alguns trocados para a sua sobrevivência. Como sempre, era intensa a movimentação de pessoas, viajantes e curiosos, na plataforma da estação.

Tão logo o trem parou, um dos passageiros que acabara de desembarcar, muito apressadinho, deu uma trombada na Maria Topada. O tal viajante, vendo aquela figura simples e baixinha, não titubeou e a xingou pelo encontrão que tiveram.

Pronto! Como diz o ditado: “Mexeu com o cão com vara curta”!

Após ouvir o xingamento que ele lhe dirigiu, Maria Topada colocou as duas mãos na cintura, balançou o pé direito e exclamou:

– Ôxente, deixe de pressa! Já trouxe até a mala e num sabe nem se vai ficar!

Pronto, estava criado mais um bordão na cidade! Desse dia em diante, durante muito tempo, quando alguém se comportava de modo apressado ou impaciente, era logo advertido:

– Ôxente, deixe de pressa! Já trouxe até a mala e num sabe nem se vai ficar!

Do Blog Terra dos Xucurus

Autor: Aloísio Guimarães de Albuquerque Filho – Nasceu em Palmeira dos Índios; 59 anos; é casado; é formado em Engenharia Civil (UFAL), Matemática (CESMAC) e Direito (CESMAC). É torcedor fanático do CSE.

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