Preá Cuiudo, Beleza, Jaciobá, Pitú e Chupetinha
É praxe que toda cidade interiorana tenha suas figuras folclóricas. A minha querida Palmeira dos Índios, no agreste alagoano, não fugiu à regra. E lá, como dizia o meu velho pai, “Aloisio Gordinho”, foi logo de enxurrada, com cinco malucos vivos e todos numa mesma época: “Preá Cuiudo”, “Beleza”, “Jaciobá”, “Pitú” e “Chupetinha”.
Lembro-me bem deles, até porque, sendo criança, morria de medo dos nossos “malucos”…
O “PREÁ CUIUDO” era o menos doido deles todos. Na verdade, “Preá Cuiudo” jamais poderia ser considerado doido. Ele era um trabalhador, eletricista de profissão e que teve a honra de ser presenteado pela natureza com “algo avantajado”, que saltava aos olhos da cara (ou seria das cuecas?). Era de estrutura baixa, andava meio curvado, com a língua para fora e no canto da boca. Ele “endoidava” somente quando a meninada o chamava pelo seu apelido. Nessas horas, sai debaixo!
O “BELEZA” se vestia igual a um ”cabra de Lampião”. Andava sempre cheio de bugigangas penduradas na roupa do corpo, pedaços de paus nos ombros… Mas não ofendia ninguém. Babava muito e seu passatempo preferido era tocar seu realejo. Vez por outra, quando ele aparecia no “Senadinho”, bar pertencente ao meu velho pai, este lhe dava uma ”lapada de cachaça” e “Beleza” seguia o seu caminho, feliz da vida…
Desde que saí de Palmeira dos Índios nunca mais tive notícias dele. Com certeza, já morreu faz tempos.
O “JACIOBÁ” era o mais engraçado de todos porque, além de doido, era surdo-mudo! Apesar dessa estranha combinação, todo mundo entendia tudo aquilo que ele queria dizer. Quem gosta de futebol e morou em Palmeira dos Índios, deve se lembrar de muito bem dele: morava, juntamente com o seu cão, um cachorro vira-latas, em um cômodo situado embaixo da arquibancada do velho Estádio Edson Amaro (hoje Estádio Juca Sampaio), pertencente ao glorioso tricolor palmeirense, o CSE (Centro Social Esportivo), time do nosso coração!
Além de morar no estádio, ele vigiava, fazia a marcação do campo e cuidava do estádio. Lembro-me muito bem que, certa fez, o Ednelson (lateral direito do time), para sacanear com “Jaciobá”, fez aqueles gestos característicos de quem tinha enrabado o cachorro dele.
Não deu outra: “Jaciobá” endoidou de vez, puxou uma faca-peixeira, grande e enferrujada, e colocou o Ednelson para correr; ele e dezenas de pessoas que assistiam ao treino, inclusive eu!
O que mais chamava a atenção no “Jaciobá” era a sua assiduidade ao Cine Palácio, do nosso vizinho Itamar Malta. Podia “chover canivetes” que, todo santo dia, ele estava no cinema, sentado na primeira fileira, a três metros da tela.
Assistia ao mesmo filme vários dias seguidos… O mais engraçado de tudo e o que mais provocava gargalhadas era que, naqueles filmes em que o “artista morria no final”, “Jaciobá” esbravejava alto, chorava (mas chorava mesmo!) e exigia o dinheiro pago pelo ingresso de volta!
Não parava de chorar até que o “seu” Zé Gomes (administrador do cinema) devolvesse o dinheiro. No dia seguinte, passando o mesmo filme, lá estava “Jaciobá”, novamente no cinema, chorando e exigindo o dinheiro de volta!
Amanheceu morto, no lugar em que sempre viveu, embaixo da arquibancada do velho estádio, provavelmente de ataque cardíaco.
O “PITÚ” viveu muitos anos na cidade. Era um doido quase que inofensivo. Apenas ficava uma fera, atirando pedras, quando o chamavam por este apelido. Ninguém sabe o motivo de sua raiva nem o seu paradeiro final.
Aquele que mais metia medo na garotada era o “CHUPETINHA“, pela fama de imoral e tarado sexual: gostava de se masturbar em via pública. Esse tipo de comportamento sexual indevido é muito comum em pessoas com determinadas “anomalias da cabeça”, digamos assim.
Certo dia, “Chupetinha” apareceu morto (assassinado a golpes de enxada), em um matagal situado por detrás da Estação Ferroviária. Até hoje ninguém sabe quem o matou e quais os motivos. Provavelmente, alguém que não gostou de alguma imoralidade que ele tenha praticado…
Com certeza, onde quer que eles estejam, devem estar provocando muitas gargalhadas.
– Que Deus os tenha!
Do Blog Terra dos Xucurus
Autor: Aloísio Guimarães de Albuquerque Filho – Nasceu em Palmeira dos Índios; 59 anos; é casado; é formado em Engenharia Civil (UFAL), Matemática (CESMAC) e Direito (CESMAC). É torcedor fanático do CSE.
adoraria ver fotos de Sarapatel, Maria Topada, Cinco minutos, realmente não poderiam faltar nessa lista
Quero parabenizá-lo pelo resgate do folclore palmeirense. Estamos carentes de pessoas que
relatem fatos pitorescos de nosso município.
Outrossim, dentro do possível estarei desta-
cando no meu programa de jornalismo, de se-/
gunda a sábado, das 07;00 as 12;00 horas, na
Rádio Palmeira Fm, algumas dessas histórias.
Parabéns a grande palmeirense Aloísio Guimarães, por resgatar em poucas linhas as “figuras folclóricas” da nossa querida Palmeira dos Índios.
Muito bom lembrar de cinco minutos e sarapatel era da minha epoca de criança,e tbem tinha uma que morava na maçonaria a pé de pinto, e o Gogoia da serra da boa vista.
Lendo esta matéria, lembrei outras figuras que ficaram de fora desta lista acima: Chuva (morava onde hoje é o campo da AABB), Sarapatel, Maria Topada, Cinco minutos, Sete saias e outros que neste momento me foge a memória…
Obrigado por sua observação. Terá sequencia, sim. Continue nos prestigiando.
Obrigado.
Amigo, que vc acha sobre pedir aos moradores de Palmeira que tenham fotos dessas figuras ilustres da terra, para quem sabe num futuro expor… Garanto muita gente vai voltar num passado alegre e dar boas risadas.