Meninas manauaras têm infância rifada por R$ 5,00

EstadaoUma linha imaginária divide as duas áreas do Porto de Manaus: de um lado, há pequenos e malcuidados barcos, usados para transportar populações ribeirinhas, superlotados e, às vezes, sem documentação. Do outro, ficam ancorados os luxuosos navios estrangeiros, recebidos com festa.

Empolgados, os turistas internacionais desembarcam na capital do Amazonas em transatlânticos com capacidade para até 3 mil pessoas.

Não raramente, são recepcionados por banda marcial da Marinha e, antes de deixar o terminal, param em quiosques de artesanato armados especialmente para recebê-los, onde podem comprar joias e produtos regionais, como bijuterias feitas de sementes da Amazônia.

Ao cruzar o portão das docas, os visitantes enxergam um lado nada festivo de Manaus. A feira, a poucos metros do desembarque, apresenta uma capital que rifa a infância de suas meninas.

Garotas entre 10 e 17 anos, com o corpo à mostra e os pés calçados em chinelos velhos, passeiam em meio às barracas de frutas, peixes e verduras, com blocos de papel nas mãos ou nos bolsos.

De acordo com o Conselho Tutelar de Manaus, meninas são usadas como iscas por comerciantes, às vezes os próprios pais, para atrair fregueses. Quando homens se aproximam, além de oferecer os produtos, elas vendem um bilhete por R$ 5. Quem compra tem o nome incluído em uma lista. Se for sorteado, o “prêmio” é uma noite de sexo com uma das participantes do esquema.

Enquanto metade do grupo trabalha com a venda da rifa, o restante atende os sorteados da semana anterior. O dinheiro arrecadado é dividido igualmente entre elas.

O Conselho Tutelar de Manaus recebeu denúncias sobre a existência do esquema criminoso de venda de rifas sexuais. Conselheiros observaram o movimento, entrevistaram os envolvidos e constataram a existência do jogo de azar que tem meninas como prêmio. “O falso prêmio é um eletrodoméstico. Isso serve apenas como disfarce para o esquema. Apreendemos o caderno com a lista de clientes e eram somente homens adultos. Temos depoimentos de testemunhas. O sexo aqui é vendido por R$ 5. Fazendo rifa, elas descobriram uma maneira de ganhar mais”, afirma Clodoaldo Santos, conselheiro tutelar em Manaus.

 

Correio Braziliense

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *