O deputado aloprado do PT nas manifestações

Eis que o PT apareceu no enredo do uso político das manifestações de 2013. O capítulo petista, no entanto, é mais atabalhoado que os episódios relacionados a outros partidos de esquerda que pegaram carona na quebradeira pela cidade. No centro do enredo está o deputado estadual André Ceciliano, principal liderança do PT na Baixada Fluminense.

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A história de como o deputado tentou operar durante os protestos é contada em detalhes por um ex-aliado político, que relata ter sido infiltrado pelo parlamentar no PR. Anderson Harry Grutzmacher, o infiltrado aloprado, diz ter recebido dinheiro para a seguinte missão: encontrar provas que ligassem o deputado federal Anthony Garotinho (PR) às manifestações contra Sérgio Cabral (PMDB) no ano passado. Ceciliano nega, mas se atrapalha diante das provas apresentadas por Grutzmacher.

O episódio expõe o toma lá, dá cá e os golpes baixos que se anunciam para a campanha eleitoral de 2014 no Estado. Estão no páreo e em franca campanha o senador petista Lindbergh Farias, o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e o próprio Garotinho, encabeçando a eleição mais disputada dos últimos 30 anos no Estado.

Grutzmacher fale e age como picareta – e não esconde isso. O infiltrado conta que conheceu Ceciliano na campanha de 2012 e que fazia vários trabalhos para o deputado, como levantar irregularidades de adversários políticos do petista e “montar dossiês”. No ano passado, um representante do PR na Baixada Fluminense o convidou para se filiar ao partido. Naquele momento, relata, Ceciliano enxergou uma excelente oportunidade de ter alguém com acesso a informações privilegiadas sobre o grupo político do rival Garotinho. E Grutzmacher, claro, viu a chance de descolar uns trocados a mais.

Grutzmacher, que tem uma condenação por furto de veículo na década de 90, afirmou ao site de VEJA que aceitou se infiltrar no PR em troca de dinheiro. Não sem antes guardar alguma munição, caso o tiro saísse pela culatra. Primeiro, gravou conversas com Fernando Peregrino, secretário-geral do PR, tentou se aproximar da deputada estadual Clarissa Garotinho, filha de Garotinho, mas não conseguiu nenhum indício objetivo que vinculasse o partido às manifestações.

Como seu plano A não funcionou, decidiu mudar de lado. O plano B era igualmente atabalhoado: ele chegou a enviar um e-mail para o presidente do PMDB, Jorge Picciani, dizendo que pessoas ligadas a Garotinho teriam lhe oferecido 1,5 milhão de reais para relatar a história da infiltração. Sim, uma chantagem clássica.

Picaretagens à parte, o estágio atual da guerra suja é o seguinte: Anderson tem em mãos algumas provas, como gravações de conversas e troca de mensagens telefônicas com Ceciliano. “Recebi pagamentos para me infiltrar no PR e vincular Clarissa e Garotinho às manifestações. O André (Ceciliano) me pagou 5.000 reais no posto Marajoara, em Queimados”, afirma, mostrando uma mensagem do deputado de 18h29 de 20 de setembro do ano passado. “Já cheguei no posto, eu espero você”.

Ceciliano afirma que encontrava Anderson no posto para que este lhe apresentasse pessoas da Baixada Fluminense, seu reduto eleitoral. A reportagem esteve no local, um posto na beira de uma estrada, próximo a um bar. Ceciliano não sabe explicar a escolha de um local ermo para os encontros – nada transparentes, como mostram os fatos.

O deputado contra-ataca: diz que Grutzmacher, na verdade, é quem o procurava muito e que foi vítima. Mas um SMS de 19 de setembro de Ceciliano revela justamente o contrário: “Estava em uma reunião da Maçonaria. Porque você me abandonou? Só fala com o patrão. Me ligue, por favor”, reclamou Ceciliano. O patrão, segundo Grutzmacher, é o deputado Paulo Melo (PMDB), presidente da Alerj. O curioso, neste caso, é que Ceciliano apoia a candidatura de Lindbergh Farias contra o PMDB de Pezão. O deputado diz não se lembrar dessa troca de mensagens.

Garotinho publicou em seu blog pessoal as denúncias de que havia um infiltrado em seu partido. O site de VEJA avançou nas apurações. A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) também abriu uma investigação sobre o caso, mas optou pela saída mais cômoda – arquivou o caso antes do Carnaval sem sequer ouvir Grutzmacher na Corregedoria da Casa.

No “Blog do Garotinho” estão publicadas gravações de áudio nas quais Ceciliano diz a Anderson que “o combinado é ter alguma coisa das duas pessoas”. As duas pessoas, segundo o “infiltrado”, são Garotinho e a filha, Clarissa.

O envolvimento de políticos com os protestos não chega a surpreender. Como também não foge ao padrão a digital do PT tentando plantar e distribuir informações falsas. No ‘QG’ petista, o surgimento de Grutzmacher e Ceciliano reforça ainda uma certeza: quando os aloprados operam, o feitiço geralmente se volta contra o feiticeiro.

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