Senado faz sessão especial para marcar os 30 anos das Diretas Já nesta segunda
Em 1983, o Brasil estava há 19 anos sob ditadura militar. Não ia às urnas para escolher o presidente da República desde 1960, quando elegeu Jânio Quadros. Uma geração inteira, portanto, ignorava, na prática, a democracia.
Em março daquele ano, o deputado Dante de Oliveira, do PMDB de Mato Grosso, tomou uma atitude corriqueira na atividade parlamentar, mas que mudaria para sempre a história do país: apresentou proposta de emenda à Constituição com o objetivo de restabelecer as eleições diretas para a Presidência da República, a serem realizadas em dezembro do ano seguinte.
Na esteira da proposta, o PMDB lançou a campanha das Diretas Já, que aos poucos tomou conta de ruas e praças públicas. O primeiro grande evento foi registrado em 12 de janeiro de 1984, em Curitiba (PR), quando cerca de 50 mil pessoas ocuparam o espaço conhecido como Boca Maldita, no centro da capital paranaense.
Outros sete comícios de menor expressão haviam sido organizados antes desse, começando no dia 31 de março na cidade pernambucana de Abreu e Lima. Dois meses e meio depois, 5 mil pessoas se juntariam com o mesmo fim na Praça Cívica, em Goiânia. No dia 27 de novembro, em São Paulo, aproximadamente 15 mil pessoas ocuparam a Praça Charles Miller.
Para comemorar o início da campanha que apressou o fim da ditadura militar, o Senado realiza nesta segunda-feira (24), sessão especial, às 11h, no Plenário.
A homenagem foi proposta pelo senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que recorda sua participação naquele movimento. “Convocado por Ulysses Guimarães, fui o responsável pela organização desse comício, que deu a largada para a mais fascinante mobilização popular da nossa história. É um momento da história política do país que não pode ser esquecido”, afirmou o senador, em publicação no seu site pessoal.
Depois de Curitiba, a campanha pelas Diretas seguiu em escala crescente, chegando a reunir multidão estimada em 1 milhão de pessoas no Comício da Candelária, em 10 de abril de 1984, na cidade do Rio de Janeiro. Seis dias depois, 1,5 milhão se reuniriam no centro de São Paulo, ocupando a Praça da Sé e seus arredores.
Apesar desse expressivo apoio popular, a emenda caiu. Em sessão conjunta do Congresso Nacional, iniciada no dia 25 de abril de 1984, e só concluída na madrugada do dia seguinte, foram registrados, na Câmara dos Deputados, 298 votos a favor, 65 contra e 3 abstenções, num total de 366 presenças. Mesmo com os 55 votos favoráveis assinalados por dissidentes do PDS, o partido governista, faltaram 22 votos ‘sim’ para que a emenda alcançasse o quorum de 320 votos (2/3) exigidos na Câmara. Dos 479 deputados,113 não compareceram. Em razão disso, o presidente da sessão, senador Moacyr Dalla, declarou a emenda rejeitada e anunciou que a matéria deixaria de ser submetida ao voto dos senadores.
A tão almejada eleição direta para presidente da República só se efetivaria em 1989, já superado o trauma da morte de Tancredo Neves, o presidente eleito indiretamente pelo colégio eleitoral em 15 de janeiro de 1985. Sob a égide da Constituição Cidadã, promulgada em 15 de outubro de 1988, o pleito de 1989 contou com 22 candidatos. No segundo turno, Fernando Collor, na época filiado ao PRN, foi eleito com mais de 35 milhões de votos, derrotando o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
Fonte: Agência Senado