“Foi amor à primeira vista”
“Foi amor à primeira vista”. É dessa forma que o técnico de enfermagem gaúcho Eronis Borges, de 33 anos, descreve a primeira vez que viu o professor, também do Rio Grande do Sul, Caue de Camargo, de 26 anos. O encontro ocorreu em junho de 2010, em uma boate na cidade natal do casal, Santa Maria (RS). Quase quatro anos depois, eles se preparam para o casamento, que ocorre no dia 1° de março deste ano, em Rio Branco.
“Nos conhecemos em uma festa em homenagem a um ano da morte de Michael Jackson, estilo anos 80. Quando eu botei o pé na pista de dança, já dei de cara com o Caue. Era para a gente se encontrar mesmo, foi destino. Em menos de uma semana, a gente já começou a morar junto e estamos juntos até hoje”, relembra Eronis.
“A gente não sente a mesma liberdade que tínhamos no Sul, por exemplo. Santa Maria é praticamente do tamanho de Rio Branco, mas lá, é outro pensamento. Lá, não tínhamos problemas em nos beijar na rua. Já aqui, a gente vê que o pessoal se incomoda”, comenta Eronis.
Preconceito
Outro problema enfrentado no processo de adaptação foi a questão do preconceito, uma vez que nunca haviam passado por isso na cidade natal. Eronis diz que, quando procurou emprego pela primeira vez, não conseguiu por causa da orientação sexual. “Me perguntaram porque eu tinha vindo para o Acre e eu disse que era porque meu namorado tinha passado em um concurso e, na hora, cortaram a contratação”, revela.
Apesar disso, o casal leva o respeito como bandeira. Para Caue, a homossexualidade é uma questão pessoal e deve ser respeitada. Apesar da religião estar presente em muitas discussões no Acre, o professor é direto ao dizer que somente será possível viver em sociedade quando existir o respeito entre as pessoas.
“Acredito que isso seja uma coisa individual e as pessoas têm que respeitar. É uma coisa que vejo bastante entre evangélicos e homossexuais. E eu acho que é possível conviver em sociedade. Acho que os dois lados têm que achar uma postura social. Eu, como homossexual, devo ter uma postura perante a sociedade, respeitar a opinião dos outros, assim como todos têm que ter uma postura e respeitar a minha”, diz.
Caue comenta ainda que não só o Acre, mas o Brasil precisa avançar em questões relacionadas aos direitos dos homossexuais. Para ele, a solução é a politização. “A pior coisa que existe no Brasil é a falta de politização da classe. Nós somos seres humanos normais como qualquer outro. E isso, pode se aplicar para qualquer setor da vida, essa questão da politização do cidadão”, defende.
Casamento
A cerimônia e a festa vão ocorrer em um buffet da capital, no primeiro dia de março. Com aproximadamente 120 convidados, o casal pretende reunir alguns familiares e amigos tanto acreanos, quanto gaúchos. A expectativa é tão grande que, segundo Caue, até pessoas desconhecidas querem acompanhar a cerimônia.
“Todas as pessoas que a gente procurou, fornecedores, cerimonialistas, buffet, todo mundo deu o maior apoio.
Estão super empolgados em fazer a festa, em querer fazer algo diferente, porque é um casamento diferente”, diz.
Futuro
Como muitos casais às vésperas do matrimônio, Caue e Eronis fazem planos para o futuro. Apesar dos conflitos no início da vida em Rio Branco, e mesmo já totalmente adaptados, o casal não sabe se vai permanecer muito tempo morando no estado.
Caue, que leciona Artes Visuais, pretende começar a se dedicar ao mestrado e, futuramente, ao doutorado. “Quero fazer mestrado na Ufac [Universidade Federal do Acre], mas o doutorado queria fazer fora do Brasil ou em Goiânia que tem em artes”, planeja Caue.
Quanto a filhos, o casal acredita que é muito cedo e, por enquanto, estão satisfeitos com os dois cachorros que possuem. “Filhos ainda não estão em nossos planos. Vamos deixar para mais tarde. Temos bastante sobrinhos”, finaliza Eronis.