Tilixi e Txiliá


Homens e mulheres foram inspirados no amor da lenda da paixão entre dois índios, Tilixi e Txiliá.

Embaixo de uma árvore Palmeira Imperial teriam se amado e gerado um filho. Assim teria surgido, daquele local, a “Princesa do sertão”, Palmeira dos Índios.

Lindas e frondosas árvores, essas que ainda hoje, recebem todos que entram na cidade, em frente a Escola Estadual Humberto Mendes, logo na entrada de Palmeira.

Uma terra de homens cultos e empreendedores, Palmeira dos Índios conserva os nomes dos filhos ilustres e que honram o seu nome e a sua história. Até o próprio Graciliano Ramos, o que era filho de Quebrangulo, se considerava palmeirense, por tanto amar essa terra.

“Princesa do Sertão” completa 128 anos


Prestes a completar seus 128 anos de emancipação política, neste dia 20 de agosto, a cidade de Palmeira dos Índios vive uma fase de poucos motivos para comemorar, salvo seus bravos cidadãos, que se diga de passagem, fazem o caminho inverso e enobrecem o nome do município

A pesquisa de estimativa de população 2014 divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traçou um novo perfil demográfico de Alagoas e de seus municípios. Um dos pontos revelados não chegou a ser surpresa para muitos, ao apontar que a “Princesa do Sertão” perdeu o posto de terceira maior cidade para Rio Largo, na Região Metropolitana de Maceió.

Palmeira dos Índios tem uma estimativa de 73.725 habitantes. Já Rio Largo foi a cidade que registrou, entre 2013 e 2014, o maior crescimento em Alagoas: 4,78%, saltando de 71.834 para 75.267 habitantes. Comparando-se ao censo de 2010, quando a população era de 68.481 pessoas, a variação foi de 6.786 habitantes ou 9,91%.

Estagnada economicamente e sofrendo com gestões anteriores e atual pouco eficazes, Palmeira dos Índios parece ter perdido a “janela” do crescimento que consolidou há vários anos Arapiraca como o segundo maior centro de desenvolvimento de Alagoas.

Na década de 1960, Arapiraca e Palmeira dos Índios travavam uma espécie de disputa velada pela liderança no Agreste alagoano. Com o passar dos anos, a “Princesa do Sertão”, luta para manter sua economia equilibrada, embora esteja estagnada desde os anos 80. Como reflexo natural disso, a migração de habitantes que partem em busca de novas oportunidades em outros centros mais desenvolvidos, como a própria capital alagoana.

Em seus 128 anos de emancipação política, a cidade tem pouco a comemorar. Os índices de violência sobem sem precedentes, a saúde, a educação e a assistência do município ofertados à população precisa, e muito melhorar. Só esses pontos, e não precisa pormenorizar, já servem como responsáveis diretos pela fuga de moradores em busca de mais oportunidades nos últimos anos.

Origem do nome da cidade


A história em torno da quarta maior cidade alagoana relata que as terras ocupadas pelo município de Palmeira dos Índios constituíam primitivamente um aldeamento dos índios Xucurus, que aí se estabeleceram em meados do Século XVII. Tinham esses indígenas o seu habitat cercado de esbeltas palmeiras, bem próximo ao pé da serra, onde hoje se ergue o município.

O nome da cidade veio justamente em consequência dos seus primeiros habitantes e do fato da abundância de palmeiras que havia à época em seus campos. Os indígenas formaram seu aldeamento entre um brejo chamado Cafurna, hoje bairro, e a serra da Boa Vista.

Após lutas e batalhas que resultaram em mortes e fugas de famílias inteiras, a então vila de Palmeira dos Índios foi criada pela resolução nº 10, de 10 abril de 1835, desmembrada da vila de Atalaia. Durante seu processo de mudança para município, perdeu os distritos de Igaci (1957, juntamente com Arapiraca que também cedeu parte de seu território para a formação do novo município), Cacimbinhas (1958), Minador do Negrão (1962) e Estrela de Alagoas (1991), elevados à categoria de municípios. Segundo a atual divisão administrativa do Estado, o município é formado por 3 distritos: sede, Caldeirões de Cima e Canafístula.

Conhecida como a “Princesa do Sertão”, Palmeira dos Índios tem também sua origem ligada às lendas indígenas. Conta-se que, há mais de 200 anos, Tixiliá estava prometida ao cacique Etafé, mas era apaixonada pelo primo Tilixi. Um beijo proibido condenou Tilixi à morte por inanição. Ao visitar o amado, Tixiliá foi atingida por uma flecha mortal de Etafé, morrendo ao lado de Tilixi. No local, nasceu a palmeira, que simbolizava o amor intenso do casal.

Cristo do Goiti


A estátua do Cristo do Goití é um dos principais pontos turísticos de Palmeira dos Índios, podendo ser vista de quase todos os pontos da cidade.

O projeto nasceu a partir do clube “Câmara Júnior de Palmeira dos Índios” (CAJUP), que tinha como presidente, Geraldo Ribeiro. O nome Cristo do Goiti foi idealizado por Geraldo Ribeiro em parceria com o escritor Luiz B. Torres, que deram o nome por causa da localização no alto da Serra.

A estátua teve sua obra iniciada em 1976 e três anos depois, em 1979, veio a ser inaugurada nas gestões do então governador Divaldo Suruagy, e prefeito Jota Duarte.

O Cristo de Goití está localizado a mais de 570m de altitude. A região possui esse nome devido a quantidade da árvore goitizeiro ou oitizeiro, cujo fruto é o oiti.

A estátua é um dos principais cartões postais do município de Palmeira dos Índios e atrai inúmeros turistas que ficam fascinados com a visão proporcionada do alto da serra.

Sob os seus pés, todos os anos, é realizado o mais tradicional espetáculo da Paixão de Cristo de Alagoas. A peça é encenada há mais de 10 anos.

Emancipação de Palmeira

"Palmeira dos Índios – 128 anos de história"


Palmeira dos Índios situa-se no sopé das serras do Candará, Boa Vista e Goíti e é banhada pelos rios Coruripe e Panelas; geograficamente está no Agreste de Alagoas, embora seja historicamente conhecida como a “Princesa do Sertão”, e também berço cultural, especialmente na literatura, e destaca-se o ilustre escritor brasileiro Graciliano Ramos, em cujo chão foi prefeito e escreveu romances como Caetés.

As terras ocupadas pelo município de Palmeira dos Índios constituíam primitivamente um aldeamento dos índios xucurus e kariris, que aí se estabeleceram no meado do século XVII. Tinham esses indígenas o seu hábitat cercado de esbeltas palmeiras, bem próximo ao pé da serra onde hoje se ergue a cidade de Palmeira dos Índios. O nome do município veio, pois, em consequência dos seus primeiros habitantes e do fato da abundância de palmeiras que então havia em seus campos.

Segundo o historiador Luiz B. Torres, em seu livro A terra de tilixi e txiliá, os dois grupos indígenas ao chegarem à região entraram em acordo. Os kariris ocuparam a lombada da serra da Boa Vista e os xucurus ficaram com a Cafurna e os vales próximos. Com o passar dos anos os dois grupos formaram a tribo xucuru-kariri.

O primeiro branco a chegar ao local, mais ou menos em 1770, foi o Frei Domingos de São José, que conseguiu converter os gentios ao cristianismo. Posteriormente, o franciscano obteve de D. Maria Pereira Gonçalves e dos seus herdeiros a doação de meia légua de terra para patrimônio da capela que aí foi construída, sendo consagrada ao Senhor Bom Jesus da Morte.

Com o crescimento do povoado, Frei Domingos logo percebeu que a localização da capela não era a das melhores, ficando muito apartada do núcleo urbano que já se desenvolvia no pé da serra. Propôs a mudança aos índios, que não gostaram da ideia. A solução encontrada pelo esperto frei foi fazer com que a imagem do Senhor Bom Jesus da Boa Morte aparecesse no local onde ele queria ver construída a nova capela. Por três vezes os índios a devolveram, até que o frei explicou que era a vontade do Crucificado mudar de moradia. Então eles aceitaram construir a igreja nesse local.

Anos depois, Palmeira dos Índios solicitou do governo eclesiástico a sua promoção à categoria de paróquia. O pedido foi aceito, mas o santo protetor, Senhor Bom Jesus da Boa Morte, foi substituído, dando lugar à Nossa Senhora do Amparo. Em 1805, a igreja de Nossa Senhora do Rosário também já estava erguida. A sua construção utilizou a mão de obra dos escravos, tendo esta santa recebido a devoção da raça negra.

Com a chegada dos brancos, os índios foram agrupados em Missões e pouco a pouco foram sendo integrados ao sistema produtivo imposto pela corte portuguesa. Com a adoção das novas técnicas para explorar a agricultura e a necessidade de mais terras, logo surgiram os desentendimentos com os brancos.

O uso da violência passou a ser utilizado pelos recém-chegados para forçar os índios a deixarem suas terras. Por várias vezes, as matas de Palmeira dos Índios foram incendiadas. Os índios fugiam, mas logo que o fogo cessava, eles voltavam.

Mas, aos poucos suas terras foram sendo tomadas pelos “caraíbas“. Os índios argumentavam que tinham a posse secular e os brancos diziam que tinham papeis do cartório lhes dando a posse sobre aquelas terras.

Por força de lei nacional de 15 de outubro de 1827, Palmeira tornou-se distrito para poder cumprir a exigência de ter juiz de paz nas sedes de todas as freguesias e capelas filiais curadas. O primeiro juiz de paz, o coronel José Daniel Carneiro da Cunha, foi eleito em 25 de março de 1829. Era um rico proprietário do sítio Flexeiras e de um engenho de cana de açúcar.

Nessa mesma época, a pessoa de maior influência e prestígio no distrito era o vigário da freguesia, padre José Caetano de Morais, que foi eleito deputado à Assembleia Provincial em várias legislaturas e a quem o juiz de paz seguia politicamente.

Entretanto, em virtude das naturais disputas de poder, aos poucos o coronel José Daniel foi se afastando do padre e constituindo o seu próprio grupo político, principalmente com seus parentes, os Canutos, Holandas e Veigas. Não demorou muito e o que era devoção política e religiosa se transformou em acirrada inimizade.

Essa situação levou o então presidente da província, Agostinho da Silva Neves, a enviar a Palmeira dos Índios o major Manuel Mendes da Fonseca, que era o comandante geral das Forças Provincianas, com a missão de pacificar a vila. Depois de muitas reuniões, no dia 27 de setembro de 1838 houve a promessa de todos que haveria paz.

Quando tudo parecia resolvido, assassinaram em Anadia o dr. Fonseca Lessa, juiz de Direito da comarca. O coronel José Daniel, sabendo que havia estremecimento nas relações do vigário com o magistrado procurou tirar partido desse acontecimento, culpando o vigário José Caetano de Morais e o seu sobrinho, tenente-coronel Tavares Bastos, tratando logo, com o Juiz de Paz, de colher os indícios e provas para o processo.

O vigário José Caetano resolveu vingar-se atingindo os parentes e auxiliares coronel José Daniel. Com o prestígio de que gozava, apresentou e conseguiu em poucos dias fazer um projeto, que foi logo convertido na Lei nº 7, de julho de 1839, separando do termo de Palmeira dos Índios e anexando à freguesia de Assembleia (Viçosa) os sítios Flexeiras, Caldeirões de Baixo, Lajes e Gravatá-Assu, e colocando fora do município os Daniéis, Holandas e Canutos, seus adversários.

O projeto do vigário José Caetano, cortando parte de sua freguesia e do município, com o fim de expulsar de sua vizinhança o poderoso José Daniel com todos os seus parentes, estabelecia como divisória uma linha tortuosa ou quebrada, de modo a poder salvar para Palmeira dos Índios, como efetivamente aconteceu, o importante sítio Pau-Sangue, bastante povoado e que pertencia a seus dedicados amigos, os ricos fazendeiros Matias da Costa Barros e Manoel Vitorino da Costa Barros.

Também retornaram para o distrito e freguesia de Palmeira não mais o poderoso coronel José Daniel, por já ser falecido a esse tempo, mas o seu genro, coronel José Cândido e todos os Holandas, Canutos e Veigas, lançados para fora no tempo do vigário José Caetano.

Formação administrativa


A data certa da criação da freguesia não é conhecida. Alguns apontam 1798; outros dão 1789, parecendo, talvez, troca dos dois últimos algarismos. Está sobre o padroado de Nossa Senhora do Amparo.

A vila de Palmeira dos Índios foi criada pela resolução nº 10, de 10 abril de 1835, desmembrada da vila de Atalaia. Sua instalação tornou-se válida depois da Resolução nº 27, de 12 de março de 1838. Foi suprimida pela Lei nº 43, de 23 de junho de 1853, elevada à categoria de cidade pela Lei nº 1113, de 20 de agosto de 1889. Seu termo fazia parte, desde a criação, da comarca de Atalaia, passando, em 1838, para a de Anadia.

Em 1872, pela Lei nº 624, de 16 de março, foi criada à sua comarca com o seu termo e o de Quebrangulo desmembrado de Viçosa, que passou a ser comarca pela Lei nº 1473, de 17 de setembro de 1949.

Palmeira dos Índios perdeu os distritos de Igaci (1957, juntamente com Arapiraca que também cedeu parte de seu território para a formação do novo município), Cacimbinhas (1958), Minador do Negrão (1962) e Estrela de Alagoas (1991), elevados a categoria de municípios. Segundo a atual divisão administrativa do Estado, o município é formado por 3 distritos: sede, Caldeirões de Cima e Canafístula.

Palmeira dos Índios tem também sua origem ligada à lenda do casal de índios Tilixi e Tixiliá. Conta-se que, há 200 anos atrás, Tixiliá estava prometida ao cacique Etafé, mas era apaixonada pelo primo Tilixi. Um beijo proibido condenou Tilixi à morte por inanição. Ao visitar o amado, Tixiliá foi atingida por uma flecha mortal de Etafé, morrendo ao lado de Tilixi. No local, nasceu a palmeira, que simbolizava o amor intenso do casal.

Delvira Duarte, a parteira que se tornou a primeira vereadora


A primeira vereadora do município de Palmeira dos Índios nasceu em 1º de Julho de 1921. Delvira Duarte de Oliveira foi casada com o comerciante e funcionário público Manoel Oliveira, o “Nezinho”. Juntos, tiveram sete filhos.

Seu pai, Marçal Oliveira, era músico, teatrólogo, mestre fogueteiro, autor de várias peças de teatro, secretário de Administração do prefeito Graciliano Ramos, coautor dos famosos relatórios do “Mestre Graça”. Seus 11 irmãos participavam das peças escritas e dirigidas por ele no teatro palmeirense.

Delvira desde cedo mostrava seu interesse para com os doentes e mulheres grávidas. Sua madrinha e vizinha chamada pelos amigos de Vitú, levou-a para ajudar em um parto na periferia da cidade, quando ela tinha pouco mais de 20 anos.

Não teve o consentimento do pai e também do noivo Nezinho, mas bateu o pé e iniciou sua atividade de parteira a partir do ano de 1949. O seu primeiro parto sozinha foi de sua prima, Amparo Passos, que deu à luz ao seu primeiro filho Ricardo Jorge Passos.

Trabalhou incansavelmente por anos e anos tornando-se a parteira mais requisitada da região. Atendia não apenas em Palmeira, mas também em Belém, Maribondo, Quebrangulo, Cacimbinhas, Tanque d’Arca, Bom Conselho (PE) e em outros municípios e povoados. Subiu e desceu muitas serras de carro, a cavalo e até a pé, enfrentando todas as intempéries da natureza.

Era parteira dos ricos e muito mais dos pobres. Estes não pagavam nada. Ela dizia que “os ricos pagam pelos pobres”. Seus aniversários reuniam centenas de pessoas e, muitas vezes, a data foi comemorada a céu aberto por não ter local com capacidade para acomodar tanta gente.

Foi a primeira mulher ao assumir a Câmara Municipal de Palmeira durante a gestão do prefeito José Araújo.

Fato marcante


Delvira fazia muitos partos nas casas das parturientes, como era costume na época. Mas também atendia na Maternidade Santa Olímpia (Hospital Santa Rita). Certa época chegou à cidade um novo médico obstetra que assumiu a direção da maternidade.

Tão logo assumiu determinou que “apenas médicos poderiam fazer partos na citada maternidade”, portanto Delvira estaria impedida de praticar seu ofício naquela unidade. A ela não fez falta considerável, pois eram poucas as crianças que nasciam ali.

Certo dia surgiu, para azar do “doutor diretor”, uma mulher com um parto bastante difícil, pois o bebê estava “atravessado”. Depois de muito trabalho em vão, o obstetra pediu ajuda ao experiente médico e deputado Remy Maia. Em pouco tempo estavam os dois e seus auxiliares e nada da criança nascer.

Foi então que Remy Maia, compadre e amigo de Delvira, pediu a uma enfermeira: “Chama a comadre Delvira”. O hospital mandou um carro apanhar a parteira em sua casa imediatamente. Já no Centro Cirúrgico, assumiu o controle e em poucos minutos a criança veio ao mundo por suas mãos tidas como abençoadas. Por decisão sua, mesmo sendo “liberada”, nunca mais voltou à maternidade.

Foi então que Remy Maia, compadre e amigo de Delvira, pediu a uma enfermeira: “Chama a comadre Delvira”. O hospital mandou um carro apanhar a parteira em sua casa imediatamente. Já no Centro Cirúrgico, assumiu o controle e em poucos minutos a criança veio ao mundo por suas mãos tidas como abençoadas. Por decisão sua, mesmo sendo “liberada”, nunca mais voltou à maternidade.

Lourdes Monteiro: Lição de vida e filantropia em Palmeira dos Índios


No auge dos 91 anos, a professora aposentada e filantropa Lourdes Monteiro tornou-se uma das figuras que marcaram seu nome na história de Palmeira dos índios. Nasceu em família simples na Serra dos Macacos da “Princesa do Sertão”. Apesar de começar tarde nos estudos, dedicou sua vida à educação, em especial ao tempo em que se dedicou ao Colégio Diocesano Sagrada Família, que ajudou a fundar.

No entanto, sua vida ficou marcada pelo trabalho desenvolvido junto a crianças carentes na instituição que criou, a Fundação de Amparo ao Menor (Fundanor). Altiva, simpática e dona das palavras, dona Lourdes Monteiro lembra como se fosse ontem como tudo começou. E o passar dos dias comprovou, de acordo com ela e sua crença, como Deus pode agir.

Ainda tentava se acostumar à vida de aposentada, quando percebeu que alguns meninos usavam sua água pulando o muro da sua residência. Aos risos, ela conta num dia escondeu-se em casa e flagrou dois meninos abrindo o portão para as traquinagens que se habituaram a fazer.

Após o desabafo, disse que os meninos, aparentemente humildes, deveriam estar em casa juntando. Foi quando um deles respondeu “como? sem ter...”, lembrou. “Aquilo me abalou. Eu, catequista, ouvir aquilo?”, pois ela ainda pensou em explicar a importância da refeição para a união da família, da forma como foi educada.

“Fiquei perdida. Chamei os dois para tomarem uma sopa de feijão. Um deles entrou e o outro só teve coragem de entrar depois. Tinham cerca de oito anos. O que entrou primeiro não sabia nem o próprio nome, apenas o apelido. O nome quem sabe é mãe, disse o menino que também não sabia os nomes dos irmãos. Aquilo foi outro abalo para mim”, relatou emocionada.

O menino que entrou depois, o mais acanhado, disse depois que seu “nome” era Pinga-Fogo. Outro choque para dona Lourdes. Os dois vieram a se tornar os primeiros de muitos que passaram a frequentar a casa da aposentada. “Quando terminaram, perguntaram se poderiam voltar no dia seguinte e eu disse que sim, mas não trouxessem mais ninguém. Engano, pois no outro dia vieram quatro, depois oito, 20, 25, 30... Encheu a casa. Eu só pensava: Deus quer que eu faça alguma coisa com esses meninos, só pensava isso”, lembrou.

Esse grupo de meninos frequentou a casa da aposentada durante quatro anos seguidos e só depois “foi aparecendo gente para ajudar”, disse. Ela teve que reformar um quarto da casa para que os meninos guardassem suas coisas quando estavam lá estudando e aprendendo o que era, de fato, a vida.

Foi então que Remy Maia, compadre e amigo de Delvira, pediu a uma enfermeira: “Chama a comadre Delvira”. O hospital mandou um carro apanhar a parteira em sua casa imediatamente. Já no Centro Cirúrgico, assumiu o controle e em poucos minutos a criança veio ao mundo por suas mãos tidas como abençoadas. Por decisão sua, mesmo sendo “liberada”, nunca mais voltou à maternidade.

Mais algum tempo passou, até que decidiu criar a Fundanor. As doações começaram a chegar, inclusive de fora do país, pois sua iniciativa ultrapassou, até hoje não sabe como, as fronteiras do Brasil. Diversos missionários e até políticos do Canadá foram conhecer e ajudar o projeto que passou a funcionar até hoje numa chácara de 12 hectares que chegou a abrigar 150 meninos todos os dias, alguns moravam no local.

As palavras de dona Lourdes são confirmadas com as centenas de fotos que ainda mantém guardadas em sua casa. Nos retratos da Fundanor, as viagens, os momentos, os tijolos, os ideais, o sonho transformado em realidade. Graças a sua visão filantrópica foi “levada”, como diz, ao Canadá onde recebeu homenagens, entre elas a encenação de uma peça contando sua história.

Ela orgulha-se ao afirmar que muitos dos meninos assistidos pela Fundanor, antes com poucas perspectivas, hoje são profissionais bem sucedidos. No entanto, afastada da fundação há alguns anos por decisão própria, como frisou, guarda algumas mágoas. “Disseram que eu roubei dinheiro, depois que estava velha e nisso fiquei até completar 80 anos, sendo 27 anos à frente da fundação. Não me arrependi de sair. Hoje está tudo diferente lá, pelo que sei”, desabafou.

Recordações à parte, dona Lourdes Monteiro prefere guardar os bons momentos, as boas lembranças. “Só tenho a agradecer primeiramente a Deus. Sem a ajuda divina a gente não dá um passo. Quando comecei, não lembrei que precisava de dinheiro, embora tenha comprado até pão fiado para alimentar os meninos. O que tenho de riqueza é o povo de Palmeira dos Índios. Não fui condenada, nem julgada, apenas ajudada”, afirmou.

Hoje, com sentimento de dever cumprido e de gratidão, deixa como mensagem e lição que “procurem fazer o bem sem olhar a quem, sem se importar com quem. Quando eu fazia o catecismo, pensava que estava fazendo o bem, mas não fazia nada. Precisou chegar um menino para me mostrar que eu estava errada. Um menino me ensinou muita coisa e Deus aproveitou tudo. Através deles, eu passei a ser conhecida em todo lugar. Isso é vida. Isso é viver”, finalizou a professora das professoras, como desejava sua mãe.

Carpil leva tecnologia para agricultores familiares de Palmeira dos Índios


Criada em 1979, a Cooperativa Agropecuária Regional de Palmeira dos Índios (Carpil) é um exemplo de como o trabalhador do campo, o agricultor familiar pode conquistar e avançar. Em 2017, por exemplo, por meio do programa Carpil Jovem, aconteceu mais um intercâmbio que levou jovens agricultores familiares ao estado do Paraná, onde passaram a morar, estudar e trabalhar, também numa cooperativa local.

Uma das boas parcerias da Carpil tem 20 anos e rende bons frutos, técnicos e tecnológicos para os agricultores familiares cooperados. A Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (Coopavel), instalada em Cascavel (PR) e uma das maiores do Brasil, apoia a incentiva as iniciativas da coirmã alagoana.

Uma vez por ano, cerca de produtores cooperados passam 13 dias na estrada e viajam rumo a Cascavel para participarem do Show Rural da Coopavel. Durante a viagem, eles passam pelos estados da Bahia e São Paulo, pelo Distrito Federal, além do Paraná, destino final. Além dos selecionados, 28 parceiros e técnicos e dirigentes cooperados da Carpil também integram a comitiva.

Os intercambiastes visitam entidades, cooperativas e assentamentos que desenvolvem projetos inovadores na agricultura familiar, incluindo Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emateres), previamente selecionados. Também conhecem produções orgânicas que poderão servir de modelos para o desenvolvimento sustentável de suas propriedades. As visitas são divididas por grupos, como núcleo econômico, agroecologia, leite, artesanato, fruta e hortaliça.

O presidente da Carpil, Luciano Monteiro da Silva, mostra-se um entusiasta da agricultura familiar e do cooperativismo. Filho, neto, bisneto e tataraneto de agricultores, ele, que é técnico agrícola, formado pela Escola Técnica de Satuba, licenciado em Ciências Biológicas e pós-graduado em Gestão de Cooperativa.

Há cerca de 20 anos, o palmeirense está à frente da Carpil que desenvolve ações em 37 municípios alagoanos e abrange hoje pouco 1.042 cooperados, entre agricultores, sindicatos e associações. “Estaremos em breve cooperando mais mil novos agricultores que já integram alguns programas dos governos municipal, estadual e federal”, disse. “Costumo dizer que tenho duas religiões. Uma é a Católica e a outra é o cooperativismo. Sou ex vendedor de flau e tataraneto de produtor rural. Esse estudo ninguém tira. Além de tudo isso, tenho 20 anos de especialização na Coopavel, que está entre as oito melhores cooperativas do Brasil”, frisou o presidente da Carpil.

Conhecimento e tecnologia


Luciano Monteiro orgulha-se do trabalho desempenhado à frente da Carpil, a mais antiga nesse modelo de agricultura. A cooperativa é uma empresa privada, sem fins lucrativos. “É um tipo de empresa que tem 1.042 donos em 37 cidades de Alagoas. Antes, e até hoje, muita gente pensava que cooperativa é coisa de prefeito, de político. Cooperativa é privada. Precisamos entender o que cooperativa, associação e sindicato”, destacou.

O trabalho de Luciano Monteiro à frente da Carpil tornou a cooperativa uma das mais atuantes do país. “O que se pensar de política de desenvolvimento da agricultura familiar em Palmeira dos Índios, Alagoas e também no Nordeste, tem participação direta da Carpil. Podemos atuar em todo o Brasil, desde que haja algum projeto de agricultura familiar”, explicou.

Entre os programas desenvolvidos pela Carpil nos últimos anos está o de recuperação de nascentes. Desde 2010, temos o maior e melhor programa do país. Palmeira dos Índios tem mais de duzentas nascentes e a cooperativa já conseguiu, com suas 22 equipes de profissionais salvadores de nascentes, já conseguiu recuperar 216 em Alagoas. “Só nós temos seis prêmios nacionais e ninguém tira essa quantidade de premiações de nós”, destacou Monteiro.

Em 2016, por exemplo, a Carpil entregou 552 forrageiras aos seus agricultores cooperados. Além disso, foram distribuídos 116 kits de irrigação contendo cada um caixa d’água, moto bomba, filtro, fiação e tubulações com sistema de irrigação por micro aspersão e por gotejamento, capazes de atender a áreas de até dois hectares. A distribuição dos kits de irrigação fez parte de um convênio no valor de R$ 670 mil firmado entre o Governo de Alagoas e o Governo Federal que beneficiou diretamente os agricultores ligados à cooperativa.

Resultados positivos


Luciano Monteiro afirmou outros projetos da Carpil já deram resultados importantes para agricultura familiar de Alagoas. Ele conta que os participantes passaram a gerir a propriedade de uma forma mais produtiva. Por exemplo, a retirada de leite aumentou cerca de 50% depois que a ordenha passou a ser feita duas vezes ao dia (antes era uma só). O aproveitamento da parte aérea da mandioca, que antes ia para o lixo, hoje é utilizado para alimentar animais.

A Carpil foi a responsável pela chegada da primeira máquina plantadeira de mandioca do Nordeste, graças a uma visita de um ex-prefeito do município de São Sebastião à Coopavel. Além disso, os agricultores familiares passaram a investir na plantação do sorgo, antes algo inimaginável em Alagoas. “Os primeiros 20 pacotes de 20 kg de sorgo quem trouxe para o estado fomos nós direto do Paraná”, lembrou.

Hoje, a Carpil integra a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) e é a única em Alagoas e uma das poucas do Nordeste que integra a Aliança Cooperativa Internacional (ACI). “Acredito que devemos ser humildes. A Carpil semeia desenvolvimento e leva tecnologia para nossos cooperados e também para os consumidores. Tudo o que nós ganhamos é reinvestido em benefício dos nossos agricultores”, afirmou.

Entusiasta, Luciano Momento acredita que Alagoas é o estado mais viável do Brasil, que tem, por exemplo, água em seus quatro lados e “Palmeira dos Índios é a cidade mais viável de Alagoas. O que falta é a integração das políticas públicas municipal, estadual e federal”, justificou.

Para ele, “nós que fazemos Palmeira, políticos, empresários temos que nos unir por uma cidade de todos. Palmeira cresce se cada um colocar uma pedra, se cada um plantar uma semente, se cada um fizer a sua parte. O município precisa de uma política inteligente e integrada às políticas estadual e federal”, pontuou.

O presidente da cooperativa diz que acredita no potencial das oito comunidades indígenas, nos quilombolas e nos agricultores familiares de Palmeira dos Índios. “A cidade tem 90 associações organizadas, quatro cooperativas, sendo duas agropecuárias, uma médica e outra de serviços. Se pudesse dar um conselho ao nosso prefeito, ao governador, aos nossos vereadores, seria pensar, sem vaidades pessoais, Palmeira dos Índios para daqui a 20 anos. O cooperativismo, por exemplo, é um caminho sem volta”, concluiu.

Médica e presidente da APL destaca a educação para desenvolvimento de Palmeira dos Índios

A médica Maria José Cardoso Ferro dedica, há 36 anos, sua vida à oftalmologia. Nascida em Minador do Negrão, porém se considera também cidadã palmeirense. Desde criança nutriu a vontade de cursar medicina, pelo desejo de ajudar, de curar, de devolver a alegria às pessoas por meio da cura. O sonho da juventude foi plenamente conquistado quando conheceu a oftalmologia, especialidade na qual se encontrou como profissional. “A medicina é uma missão, é vocação, não é uma profissão. Curar pessoas não tem preço. É dessa forma que você cresce”, ponderou. Há 10 anos, a oftalmologista passou a integrar a Academia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes (Apalca), entidade que preside atualmente. O convite foi feito pelo ex arcebispo de Palmeira dos Índios, Dom Fernando Iório. Desafio que foi aceito. “Eu entrei na academia pelo lado da ciência, pois tenho alguns trabalhos publicados. Sempre gostei muito de ler, desde criança. Gosto de ler tudo o que cai em minhas mãos”, explicou.

A filantropia


A medicina motivou Maria José Cardoso a desenvolver um trabalho filantrópico em Palmeira dos Índios que ganhou mais força quando conheceu a Fundação de Amparo ao menor de Palmeira dos Índios (Fundanor), entidade na qual assumiu a vice-presidência, ainda durante a gestão de Lourdes Monteiro, criadora do projeto.

“Ser médica me ajudou a me sensibilizar com as carências gerais humanas. Se você só medica, não se preocupa com o que vai acontecer com o paciente; você nem consegue curar. Não pode tratar o paciente como objeto”, afirmou Maria Cardoso.

Além disso, a experiência na Fundanor, que ajudou, por meio da educação, centenas de jovens carentes também contribuiu para a formação humana de Maria Cardoso. Muitos dos assistidos pela fundação viviam em situação de rua e hoje são profissionais, alguns conceituados em suas respectivas áreas de atuação. A criadora da instituição “me fez repensar algumas coisas”, relembrou.

Essa visão diferenciada do ser humano contribuiu, por exemplo, para a fundação do Terço das Mulheres, que hoje tem mais de 10 mil integrantes de várias cidades da região. A partir da sua criação, a oftalmologista criou a Organização Não-Governamental (ONG) Maior Fé, nome colocado em homenagem a sua mãe, Maria Oliveira Ferro.

A oftalmologista disse que sua mãe sempre fez trabalhos filantrópicos em Minador do Negrão aliando o lado religioso à educação, à saúde. “Desde criança nos envolvia e a gente acostumou a ver esse espírito mais solidário. E foi essa formação familiar que serviu como base profissional e humana”, salientou.

A ONG Maior Fé trabalha com a promoção humana, independente de grupos sociais. Hoje é desenvolvido um trabalho contra a violência infanto-juvenil em três frentes. Em breve serão ofertados cursos de informática, cujo laboratório está em fase de montagem. No lado da música, serão ofertadas aulas de flautas, além da criação de um coral e de uma banda. E, por fim, o incentivo à prática esportiva.

Para a oftalmologista, os jovens perderam as referências. “a gente não pode nem culpa-los tanto. A cultura independe da questão social. O jovem deve participar mais da construção da sociedade que vai ser deles. Desejo que eles se interessem mais. Esse lado virtual traz um prejuízo grande, pois as pessoas estão presentes e ausentes”, refletiu.

Nos 128 anos de emancipação política de Palmeira dos Índios, Maria Cardoso, diz que sempre desejou que o município se recuperasse, pois “já foi exemplo para tantas cidades. Acredito na educação. Palmeira deve confiar e ter esperança em dias melhores”, finalizou.

Médico palmeirense faz sucesso na cardiologia


O médico Fabian Fernandes da Silva pode ser considerado como um dos exemplos de superação. Natural de Palmeira dos Índios, ele decidiu cursar Medicina na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) no início da década de 1990. Já de alguns anos, tornou-se um dos melhores cardiologistas do estado e, para tanto, precisou vencer desafios que só o fortaleceram, como pessoa e profissional.

Ao ser aprovado no vestibular, o jovem, filho de costureira e de servidor público, mudou-se para Maceió, onde precisou morar em pensionatos e repúblicas. No entanto, o cardiologista sente-se orgulhoso das dificuldades que o ajudaram também a ser o profissional que se tornou, na vontade antiga de ajudar, de alguma forma, as pessoas. “Tive que ralar muito. Minha mãe é um espelho e meu pai foi austero, mas ordenador das coisas”, pontuou.

Sua jornada na medicina já chegou aos 20 anos, mas o cansaço está longe, bem longe do cardiologista que mantém a rotina de trabalhar seis dias por semana em Maceió, onde trabalha na Santa Casa de Misericórdia, Palmeira dos Índios, Cacimbinhas e Colônia de Leopoldina.

Na Santa Casa de Misericórdia, Fabian Fernandes atua como responsável clínico de transplantes de coração e também na enfermaria de cardiologia há cerca de 19 anos. “A correria é grande para tentar adaptar horários”, disse o médico que é casado há 10 anos, tem dois filhos e uma enteada. “Minha relação com eles é espetacular, uma relação de amor incondicional, de admiração”.

“Se perguntarem onde e como cheguei respondo que foi com muito trabalho, humildade e algo muito importante, a hierarquização no ambiente de trabalho. A ética com os colegas é tudo. Nada vem por acaso sem trabalho e, se vier, é leve, não tem base”, frisou o cardiologista.

Trabalho de sucesso


Fabian Fernandes começou sua carreira como plantonista clínico e médico do Programa de Saúde da Família (PSF) em Cacimbinhas há cerca de 18 anos. “Lá nós desenvolvemos um trabalho esplendoroso, no qual fomos agraciados como a 16ª cidade no país em saúde pública básica, o Prêmio Saúde Brasil”, lembrou.

Graças ao trabalho desempenhado na cidade sertaneja, a prefeita da época, Noêmia Wanderley, a quem o médico nutre admiração como política e pessoa, “me fez um convite para trabalhar com o filho dela, José Wanderley Neto, cirurgião de renome mundial. Formei médico para ser residente em cardiologia. Conheci a cardiologia e me apaixonei”, frisou Fabian que desejava ser ortopedista quando universitário.

Para ele, trabalhar com José Wanderley Neto, parceria que continua até hoje na Santa Casa de Misericórdia de Maceió, foi a conquista e realização de um sonho. “Aprendi que nada resiste ao trabalho, nem a inveja, a perseguição, o mal humor. Um dia você ganha e outro pode perder. Um dia alguém vê o seu trabalho, quando digno. Sou reconhecido onde chego, graças ao meu trabalho. Para isso, eu tive uma base”, justificou.

O médico afirma que sempre lidou com pessoas humildes. Por isso, até hoje, trabalha com pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), em sua maioria. “Quando a gente gosta do que faz é como um jogador de futebol que faz um gol e não se cansa de jogar”, comparou.

Gostar de pessoas


Para os jovens que desejam fazer o curso, Fabian Fernandes lembra que gostar de pessoas é o principal fator para se tornar um bom profissional. “Se você não gosta de pessoas, em absoluto não faça medicina. Nem tente. Já cheguei a atender 30 pessoas por dia e, além de medicar, temos que acalentar em boa parte das vezes”, afirma.

Segundo o médico, em breve, a medicina deverá estar saturada. Isso porque, já foram aprovados 11 novos cursos para o Sudeste e 15 para o Norte/Nordeste. “Poderá saturar em 10 anos. Acredito que doente não tem que ter todos os dias. Todos os médicos são iguais, devem ter a mesma competência. Não importa se é do posto de saúde ou o melhor cirurgião do [Hospital] Albert Stein, em São Paulo”, explicou.

O palmeirense


PMesmo residindo em Maceió, Fabian Fernandes continua, como frisou, apaixonado pelo município onde nasceu. “Palmeira é um amor da minha vida. Sou louco pela cidade. Chego às vezes a andar sozinho à noite contemplando Palmeira. Quero um futuro bem melhor. Quero que as pessoas que nos dirigem, por amor, como eu tenho, nos visse como uma cidade que merece desenvolver”, argumentou.

Num momento saudosista, Fabian Fernandes afirma que, em sua época de juventude em Palmeira dos Índios, havia mais dedicação entre as amizades. “A gente conversava, trocava ideias. A modernidade, a globalização e a midiatização melhoraram muito o conversar, mas afastou o afeto das pessoas que hoje acham que se conhecem pelo WhatsApp. Isso só faz mal ao coração e tornou as pessoas individualizadas”, ponderou. Por falar em coração, o cardiologista recomenda que as pessoas procurem viver mais serenas. “O remédio é a prevenção. Se você previne, nada advém de efeitos para tratar. Evitar o stress, que é causador de muitas doenças, como o câncer. 80% dos casos tem a ver com os hábito de vida”, recomendou o médico.

Agropecuarista acredita na recuperação de Palmeira dos Índios

O agropecuarista Marcos Ramos, sobrinho do romancista e ex-prefeito de Palmeira dos Índios, Graciliano Ramos, ganhou destaque na cidade justamente por acreditar no potencial da economia local.

Para ele, o “município está sem liderança. Precisa colocar nos trilhos. Não tem ninguém que determine. Todos querem mandar, querem determinar. Porém, a receita é simples; não tem muito o que fazer”, frisou.

Marcos Ramos diz que Palmeira dos Índios esteve mais de 20 anos sufocada sem uma administração mais objetiva, focada nos objetivos da população. “Acabou superada por Arapiraca e poderia estar numa situação bem melhor”, destacou.

Ele acredita que “responsabilidade é ser cidadão de Palmeira dos Índios. Ser digno, honesto, cumpridor dos seus deveres, como foi Graciliano Ramos, grande político, escritor e cidadão. Eu tento ao menos imitá-lo”, afirmou.

Para Marcos Ramos, Palmeira dos Índios continua com um potencial muito grande para o setor primário, para a agropecuária. “Isso dentro do ponto de vista econômico. Porém, acredito que o futuro de Palmeira é mais pela cultura, pela educação. [O município] perdeu a pujança, mas pode recuperar”, concluiu.

Palmeira dos meus sonhos...


Aqui, não obedeço uma ordem cronológica, vez que era muito criança e não recordo hoje, das datas, proprietários ou locais precisos. Fica então, como um sonho.

Cheguei em Palmeira dos Índios, com quatro anos de idade. Deixei para trás, minha mãe e Delmiro Gouveia. Passei a ser criada, por meus irmãos mais velhos. A saudade de minha mãe era constante e doía agudamente no peito.

Nessa época, morava na mercearia de Mariquinha, entre a Prefeitura e o Cine Ideal. Ali, mergulhei no mundo encantado do Cinema. Para tomar conta do namoro de Simone e Vasco, tinha passagem livre, dada por Dona Desneves, toda noite ou nas matinês.

Evidente, que pouco me interessa o namoro da filha dos proprietários do Cine Ideal. O meu interesse todo voltado para os filmes, que no início, ainda não sabia ler as legendas, mas entendia a história.

Ainda alcancei o Cine Palmeirense, que acabou logo. Depois passou a ser no local, a Sorveteria DK1, em estilo moderno, que chamavam de “funcional”.

Mesas e cadeiras, com pés palitos, influência da arquitetura de Brasília. Ali, era o ponto de encontro de todos, no final da tarde, ou depois das sessões de Cinema. No mesmo local, passou a ser a Loja Gecunha.

Havia também a Sorveteria Caetano, que teve vida mais longa. E seu Caetano, o proprietário, era a gentileza em pessoa, assim como seus filhos.

Ao torno da Praça da Independência, tinha todo um comércio, que adorava visitar as lojas por achar bonito o que havia no interior de cada uma.

A Loja São Paulo, Casas Ewancy, Sapataria de Dona Diorene, Loja de seu Vitorino, As Brasileiras, A Casa de Apolônio Torres, onde ao lado ficava o carrinho de Castanha, onde se encontravam os melhores amendoins e castanhas, com açúcar ou apenas torrados. Havia a Loja Princesa do Agreste, (Jota Duarte), a Loja de Manga Rosa, as Lojas Paulistas, o Armazém de José Soares, a Padaria do pai de Cacá, Casa de Saúde do Dr. Remi, A Farmácia Ferreira. Essas últimas, já na rua Fernandes Lima, onde também tinha a Loja de Epaminondas, Cartório de Valdemar Lima, Barbearia de Adão.

E por um tempo teve a Sorveteria do Nabuco, o Consultório de Dr. Hélio, a residência de Itinho Malta e Bel Sampaio, a residência de Otávio Barbosa, alguns prédios, que não lembro e no final, o prédio da Maçonaria. Que hoje é a OAB e espero que não derrubem.

Algum tempo depois, minha irmã mudou a mercearia, para a Fernandes Lima, onde era a padaria do pai de Cacá. Nesse tempo, já havia o majestoso Cine Palácio. Praticamente, morei nesse cinema. Fugia dos trabalhos na mercearia e ia ajudar seu Né, a rodar os rolos de filmes, que vinham pelo trem. Onde havia defeito no filme, era cortado e emendado. Eu ali com minha caixa, onde guardava os pedaços de fitas.

Lembro, que fiquei espantada, com a quantidade de latas de rolos de fitas, do filme A Árvore da Vida, com Elizabeth Taylor e Montgomery Cliff. Eram 28 latas! No tempo dos 10 Mandamentos e Ben Hur, já estava proibida de deixar a mercearia, para ir passar a tarde ajudando seu Né.

Tivemos o Cine São Luiz, que como os outros, foi fechado.

Nessa fase, havia a Fernandes Costa e a Casa dos Rádios de Brivaldo Medeiros.

NA Praça da Independência, era linda! Com seus fícus, podados em desenhos geométricos, com um banco, debaixo de cada árvore, o coreto, onde ficavam os engraxates, e em cima, aconteciam os comícios, onde assisti, figuras históricas, como Jânio Quadro, General Lott, Ademar de Barros, Arnon de Mello, Silvestre Péricles, Rui Palmeira, Afrânio Lages, Teotônio Vilella, todos os candidatos à Prefeito e Vereadores de Palmeira.

No mesmo coreto, fizeram shows, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Nelson Gonçalves e muitos outros. Nessa fase, havia a Fernandes Costa e a Casa dos Rádios de Brivaldo Medeiros. Na Praça da Independência, tinha o ponto de carros de aluguéis, onde os mais bonitos, eram os de Olavo Penteado.

Quem pode esquecer as festas natalinas, com seus parques de brinquedos, os corsos, a maratona carnavalesca?

Mas o coreto veio abaixo, no silêncio cúmplice dos moradores de Palmeira. E assim, o mesmo aconteceu, com a Casa de Saúde de Dr. Gastão, Praça das Casuarinas, Coreto da Praça do Açude, Educandário Sete de Setembro, O Montepio dos Artistas, onde foi a Escola Sagrada Família de Dona Luíza Mota, Sobrado dos Mendes, alguns casarões da rua Pinto de Barros, a casa de Albérico Furtado, atrás do armazém de Noé.

O Aeroclube, de carnavais e bailes famosos, que de forma misteriosa, passou para mãos de particulares, existe um processo, que precisa acordar e andar. Não sei como, um Cartório conseguiu fazer esse tipo de Escritura.

Mas espero que o Juiz e algum promotor de justiça, desvendem essa ofensa à sociedade palmeirense.

Aos cincos anos, passei a estudar com Maydée Brandão. Saía mais cedo de casa, para ver um pouco, o trabalho de Zé Marques e na oficina de Paulinho. Outros dias, seguia para a casa de Maydée pela rua da Apalca, para esperar pelo carinho de Dona Delvira, que sempre me fazia mimos e amenizava a saudade de minha mãe.

Não posso esquecer das figuras folclóricas da Palmeira, de minha infância e adolescência, como Maria Topada, Catrevaje, Balaio de Pitú, Beleza, etc. Palmeira dos Índios de hoje, é um sonho, que terminou. Uma cidade pobre, vazia, sem cores e odores, plastificada com seu negro asfalto e poucas árvores.

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